quinta-feira, 8 de maio de 2014

Mortalidade materna cai menos no Brasil; queda de 43% entre 1990 e 2013

Segundo a OMS, a queda de 1990 a 2013 é menor do que a da média mundial, de 45%. Especialistas avaliam que, apesar da retração, temas como aborto e assistência às mulheres em idade fértil precisam de maior cuidado


Bruna Sensêve
Estado de Minas: 08/05/2014


Um estímulo para as mamães. Segundo relatório divulgado esta semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 1990 a 2013 a mortalidade materna diminuiu 45% globalmente. Se 523 mil mulheres morreram em 1990 devido a complicações no parto e na gestação, o número despencou, em 2013, para 289 mil. No entanto, ainda é alto. São 33 mortes maternas a cada hora, aproximadamente 800 por dia. O Brasil acompanha o ritmo, com uma redução de 43%, mas ainda longe da Meta de Desenvolvimento do Milênio (ODM) traçada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que busca a diminuição de 75% das taxas. De acordo com a OMS, em 2013 o número de mulheres mortas por complicações na gestação ou no parto no país foi de 69 para cada 100 mil nascidos vivos.

A meta da ONU é ambiciosa, mas não impossível. Prova disso são os 11 países que tinham os maiores níveis de mortalidade materna em 1990 e, neste novo relatório, atingiram o objetivo final. São eles: Butão, Camboja, Cabo Verde, Guiné Equatorial, Eritreia, República Democrática de Laos, Maldivas, Nepal, Romênia, Ruanda e Timor-Leste. O especialistas da OMS acreditam que, assim como o Brasil, a maioria dos países não vai alcançar a meta de redução, ainda que ela tenha acelerado na última década. De 2000 a 2013, houve uma queda anual média de 3,5%, em comparação com 1,4% entre 1990 e 2000. Uma redução média de 5,5% ou mais a cada ano, desde 1990, seria necessária para atingir a meta dentro do prazo. Índia e Nigéria concentram um terço dos óbitos mundiais, somando, em 2013, 90 mil mortes maternas.

Segundo a presidente da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia da Bahia e membro da Comissão de Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ana Luiza Fontes, apesar de todos os esforços e programas institucionais que buscam ajudar a saúde da gestante, ainda há muito para caminhar. “Não vamos conseguir bater a meta do milênio de chegar a um indicador de 35 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. Temos mais que o dobro disso.”

Para Ana Luiza, seria possível ter dados muito mais baixos se houvesse um maior cuidado com as mulheres em idade fértil: prepará-las para a gravidez e, quando gestantes, fazer uma melhor triagem daquelas que precisam de cuidados específicos ou sofrem algum tipo de risco. “O aborto ainda é a quarta causa de mortalidade materna no país. São dados estarrecedores. Para ter uma ideia, acreditamos que mais de 90% das mortes maternas relacionadas à gravidez poderiam ser evitadas.” Segundo o relatório da OMS, apesar dos avanços nos últimos 20 anos, houve muito pouco progresso na prevenção da gravidez, dos abortos, das mortes maternas e das infecções sexualmente transmissíveis.

O documento também chama a atenção para o fato de as adolescentes enfrentarem um maior risco de complicações e morte como resultado de gestações complicadas. Vice-diretora executiva do Fundo Populacional das Nações Unidas (UNFPA), Kate Gilmore destacou, em comunicado à imprensa, que mais de 15 milhões de meninas com idades entre 15 a 19 anos dão à luz todos os anos – uma em cada cinco antes de completar 18 anos. Muitas dessas gestações, inclusive, resultam de sexo não consensual. “Intervenções relativamente simples e bem conhecidas, como os serviços de obstetrícia e de prevenção da violência com base no gênero, podem fazer uma enorme diferença se ampliadas e conciliadas com investimentos em inovações, especialmente na área de contraceptivos.”

Complicadores Dados relativos a outro relatório da OMS, publicado na terça-feira na Lancet Global Health, acrescentam informações importantes ao levantamento: as principais razões da mortalidade materna. A maioria das mulheres perdem a vida em consequência de complicações durante e após a gravidez e o parto, mas o trabalho afirma que um em cada quatro óbitos é causado por condições médicas preexistentes, como o diabetes, a infecção pelo HIV, a obesidade, entre outros fatores que tendem a se agravar com a gravidez. A proporção é similar à encontrada para a hemorragia grave, um dos principais motivos da morte de gestantes no Brasil.

Segundo o chefe do Serviço de Obstetrícia do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Breno José Acauan, a hemorragia mata principalmente aquelas que sofreram um aumento da pressão sanguínea durante a gravidez, condição conhecida como pré-eclâmpsia. “Para prevenir essas situações, é preciso ter um suporte hospitalar e assistencial adequado. Nesses 20 anos, isso melhorou, inclusive o fato de o pré-natal estar mais acessível, porém ainda sem a qualidade necessária”, avalia.

De acordo com Acauan, a maior dificuldade é percebida já nos profissionais de atendimento; muitos não têm preparo para responder às necessidade básicas de um pré-natal. “É preciso detectar se há uma gestação de alto risco ou não. Se ela já tem condições que podem ser agravadas quando gestante. São mortes potencialmente evitáveis.”

Saiba mais
Subnotificação é obstáculo
Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), um grande desafio para enfrentar a mortalidade materna é a falta de dados precisos. Embora o conhecimento sobre o número de mulheres que morrem e as razões por trás do problema esteja melhorando, ainda há muitos casos não registrados e não declarados. As falhas na contagem e na análise são mais comuns em países de baixa renda, em que muitas mulheres morrem em casa. A estimativa é de que apenas um terço de todas as mortes no mundo é registrado e menos de 100 países registram a causa do óbito conforme a Classificação Internacional de Doenças da OMS. A questão interfere, entre outras áreas, na alocação de recursos do governo para programas de saúde da mulher. 

Pressão perigosa

A hipertensão arterial específica da gravidez recebe o nome de pré-eclâmpsia e, em geral, se instalasse a partir da 20ª semana de gestação. O problema pode evoluir para a eclâmpsia, uma forma grave da doença que põe em risco a vida da mãe e a do feto. As causas dessas enfermidades ainda não são bem estabelecidas pela ciência. O que se sabe é que estão associadas à hipertensão arterial, que pode ser crônica ou especifica da gravidez. 

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