terça-feira, 6 de maio de 2014

Testemunha da história - Carlos Herculano Lopes

Testemunha da história
Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 06/05/2014

Nos anos de chumbo, sobretudo depois da decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) pelo então presidente da República general Arthur da Costa e Silva, militantes de esquerda resolveram partir para a luta armada como uma forma radical de se opor à ditadura militar. Eles alimentavam a esperança de derrotar o governo pelas armas. Entre os grupos que assim pensavam estava uma dissidência do Partido Comunista, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), ao qual pertencia o jovem pernambucano Cid Benjamin, então com 22 anos, estudante de engenharia e vice-presidente da União Metropolitana de Estudantes (UME).

Entre as várias ações praticadas pelo “Oito”, como o grupo era chamado, a mais espetacular foi o sequestro, em 1969, de Charles Burke Elbrick, embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Essa história está contada no livro Gracias a la vida, que Benjamin, um dos sequestradores, autografa hoje em Belo Horizonte. Ela foi tema também do filme O que é isso, companheiro? (1997), do diretor Bruno Barreto, baseado no livro homônimo do jornalista e ex-deputado Fernando Gabeira, outro militante do MR-8.

Em troca do embaixador foi exigida a libertação de 15 presos políticos – entre eles o jovem mineiro José Dirceu, que se tornaria chefe da Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Cid Benjamin afirma que o grupo estava disposto a matar o diplomata caso suas exigências não fossem cumpridas. “Mas, no fundo, tínhamos quase certeza de que não seria necessário acabar com a vida de Elbrick pela subserviência da ditadura militar ao governo dos Estados Unidos”, afirma o autor.


RECUSA O governo atendeu às exigências e o diplomata voltou para os EUA. Logo depois, os sequestradores foram presos. Benjamin diz que o americano era um boa-praça, de quem os militantes de esquerda acabaram ficando amigos durante os dias de cativeiro. “Ele se recusou a ajudar os militares a nos identificar por meio de fotos, dizendo que só nos viu encapuzados. E ainda nos elogiou ao nos chamar de jovens idealistas, além de ter criticado a tortura. Isso deixou o governo brasileiro muito irritado”, lembra Benjamin.
Em Gracias a la vida, o autor relata que sua prisão ocorreu em 21 de abril de 1970, no Rio de Janeiro. A polícia chegou até ele depois de torturar um de seus companheiros. Até ser trocado por outro diplomata sequestrado (o alemão Von Hollenben), Benjamin foi torturado por dois meses nas dependências do DOI-Codi e do Dops cariocas.

Cid Benjamin diz que a decisão de pegar em armas contra a ditadura foi equivocada, pois nenhuma das organizações clandestinas de esquerda tinha a mínima condição de derrotar os militares. “Mas a resistência ao regime foi correta. Embora a opção pela luta armada tenha sido política, ela foi legítima. Tenho muito orgulho de ter participado daquele momento da história”, conclui.

FORA DO PT
Um dos fundadores
do PT, Cid Benjamin se desligou da legenda por não concordar com os rumos adotados pelo partido. Depois de voltar do exílio, em 1979, ele trabalhou em diversos órgãos de imprensa como O Globo e Jornal do Brasil. Com 65 anos, ele atualmente
é filiado ao PSOL. 

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