Amazônia, coprodução entre Brasil e França, estreia hoje em 200 salas. Já vendido para 65 países, filme narra a história de um macaco-prego em meio a cenas documentais
Mariana Peixoto
Estado de Minas: 26/06/2014
O filme "Amazônia" narra a aventura de Castanha, um macaco prego domesticado criado no Rio e vai parar na floresta amazônica e, sozinho depois de um acidente aéreo, tenta sobreviver |
Franco-brasileiro, o filme custou R$ 26 milhões %u2013, foi filmada em 3D durante três anos na Amazônia |
O fotógrafo Araquém Alcântara, um dos produtores do filme, e ajudou a registrar o visual da região, habitada por macacos, onças e botos |
Animal domesticado criado no Rio de Janeiro vai parar na floresta amazônica e, sozinho depois de um acidente aéreo, tenta sobreviver. Não fosse o fato de ele estar sem companhia, tal sinopse cairia à perfeição com a de Rio 2, sequência da animação sobre a ararinha-azul Blu. Nesse ponto, Amazônia, que estreia hoje em 200 salas no país, é muito semelhante ao filme de Carlos Saldanha. Mas somente aí, pois em todo o restante, o longa-metragem dirigido pelo francês Thierry Ragobert (do documentário O planeta branco, panorama sobre as mudanças no Ártico) é singular. Maior coprodução já realizada no país – o filme franco-brasileiro custou R$ 26 milhões –, foi filmada em 3D durante três anos na Amazônia. Noventa e nove por cento das cenas foram realizadas com animais da floresta. Seu protagonista é um macaco-prego, que na versão nacional ganhou o nome de Castanha.
Já vendido para 65 países, Amazônia participou dos festivais de Veneza (onde levou o prêmio WWF de ambiente) e Toronto. Estreou na França no fim de 2013. Agora, além do Brasil, está chegando à Itália e à Alemanha. Cada um, por sinal, traz a sua própria visão da trajetória do macaquinho. Na brasileira, a narração coube ao ator Lúcio Mauro Filho, que encarna a persona de Castanha de uma maneira própria para atingir o público infantil. Por outro lado, na França não houve narração, fazendo com que a produção tivesse um viés mais contemplativo.
“Fizemos um acordo muito legal com os franceses, de que trabalharíamos a quatro mãos também criativamente. O diretor é francês, mas o roteirista é o Luiz Bolognesi (que dirigiu a recente animação Uma história de amor e fúria), que trouxe toda a ficção do filme. O que diferencia Amazônia de um documentário é que, além de acompanhar a trajetória do macaco, nos emocionamos e divertimos com ele”, afirma Fabiano Gullane, da Gullane, produtora brasileira que se uniu à francesa Biloba Films para o projeto.
Desde pequeno vivendo com uma garotinha do Rio, Castanha é vendido para um circo de Manaus. Mas na chegada à floresta o avião em que estava cai. Único sobrevivente do acidente aéreo, ele tem que se virar num ambiente, à primeira vista, hostil. Além de ter que encontrar um lugar para viver e se alimentar, ele ainda procura companheiros, principalmente uma fêmea, já que está na época da reprodução. Com esse mote – e imagens que saltam aos olhos, sejam as aéreas da floresta e do rio, ou os closes de animais de pequeno e grande portes –, a narrativa de ficção com imagens reais consegue segurar a atenção pela dramaturgia, ainda que com um tom bastante infantil. Araquém Alcântara, especialista em fotografia de natureza e um dos nomes que mais registrou a Amazônia, atuou como consultor da produção.
Bolognesi escreveu o roteiro, as falas de Castanha foram criadas por José Roberto Torero. “Tinha que fazer um roteiro que fosse tanto crível quanto filmável. Pesquisei muito sobre o comportamento dos animais, tanto que a dramaturgia respeita o comportamento deles. Por exemplo, todo bando de macacos tem um macho alfa, que expulsa os mais jovens quando eles entram na maturidade sexual”, comenta Bolognesi. Em Amazônia, Castanha cai de amores pela macaquinha Gaia, que ganhou a voz da atriz Isabelle Drummond. Logicamente, ele sofre para poder ficar com a parceira, já que no bando dela um macaco veterano, chamado por ele de Cabeça Preta, impede qualquer aproximação.
Para além do lado mais científico da vida animal, Bolognesi também foi atrás de relatos folclóricos. “Conversei com muitos caboclos e, na visão deles, o macaco é um bicho muito importante. Mesmo não sendo o mais forte, ele tem prestígio, porque engana todo mundo.” Há uma cena, em que Castanha passa a perna numa onça, que foi inspirada em depoimentos de moradores da floresta.
Na árvore
Filmar na Amazônia já é complicado. Fazer um filme em 3D e somente com animais, mais ainda. O longa-metragem demandou sete longos meses de produção. Somente para as filmagens, foram três. “(No filme) o macaco passa um ano inteiro na Amazônia. Então, precisávamos ter um momento de seca, outro de cheia”, explica Fabiano Gullane. Dessa maneira, em 2011 foram filmadas as imagens de seca, mais dentro da floresta. Para o segundo ano foram reservadas as cenas fluviais. Para tal, houve equipes filmando ao longo do eixo Manaus/São Gabriel da Cachoeira (no extremo Noroeste do Brasil) em três barcos que percorreram o Rio Negro. Já no ano passado, foram realizadas as imagens aéreas.
Para as filmagens, equipes diferentes trabalhavam. Uma mais dedicada aos planos longos, que utilizou equipamentos pesados, e uma segunda, com equipamento mais simplificado, que tinha um olhar mais documental. “Eram aqueles que dormiam em cima de árvore durante cinco dias. A gente os deixava num ponto da floresta e os buscava em outro”, relembra Gullane. A maior parte dos animais que enche a tela vive na floresta e foi filmada em observação. A exceção foram os macacos. Castanha foi “interpretado” por quatro espécimes de macaco-prego, todos vindos de universidades de Belém e Manaus. É fácil reconhecer o personagem em cena, já que, como vem de cativeiro, carrega uma coleira vermelha. “O roteiro final é muito parecido com o filme, mas foram raros os dias em que a programação de filmagem ocorreu como imaginamos”, completa Gullane.
Números de Amazônia
3
anos de filmagem
45
toneladas de equipamentos
R$ 26
milhões de custo
200
pessoas na equipe
150
macacos foram testados
100
espécies de animais estão no filme
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