segunda-feira, 23 de junho de 2014

Humilhação - Eduardo Almeida Reis‏

Humilhação
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 23/06/2014


Com a inauguração do Templo de Salomão, em São Paulo, o piedoso bispo Macedo tenta humilhar, sem sucesso, o apóstolo Valdemiro Santiago, aquele das toalhinhas bentas, que já inaugurou um templo em Guarulhos para 100 mil crentes, numa noite em que engarrafou a Via Dutra. Circula na internet um vídeo com o depoimento de um crente que tinha dívidas, passou a toalhinha benta na porta do banco às 11 da noite e as dívidas sumiram de sua conta bancária no dia seguinte: aleluia!

Corre por fora nessa disputa outro santo, o pastor R. R. Soares, cunhado de Macedo, que tem a cautela de recomendar aos fiéis que deixem os dízimos em cobrança bancária. Apesar de especialista em desencapetamento total, R. R. Soares sabe que o capeta faz que o crente se esqueça de levar o dízimo em dinheiro vivo quando vai aos templos.

Se Dilu, na flor dos seus 51 aninhos, ex-mulher de Zezé di Camargo, já tem dinheiro suficiente para os netos dos seus netos, os pastores têm fortunas para os tetranetos dos seus bisnetos, mas gostam de humilhar os concorrentes com a inauguração de templos cada vez maiores e mais luxuosos.

Surpresa para mim foi a notícia de que nos Emirados Árabes Unidos inauguraram a Mesquita Sheikh Zayed para humilhar os dois tapetinhos orientais que embelezaram o piso do apê onde me escondo. Embelezaram, já não embelezam: humilhado, dei os dois a uma filha. Tapetes orientais baratinhos comprados em BH: um de 2m x 1,5m, outro de 80cm x 50cm.

Como sabe o leitor, ou saberia se consultasse a Wikipédia, o xeique Zayed bin Sultan Al Nahyan foi o principal articulador dos sete Emirados Árabes Unidos, governou Abu Dhabi e foi presidente da União dos Emirados por mais de 30 anos. Nascido em 1918, morreu em 2004. A mesquita que leva seu nome é a mais luxuosa de que há notícia e tem um tapete de 5.627m2, que pesa 47 toneladas e foi feito por mais de 1.200 artesãs. Quer dizer: foi pensado para humilhar os meus dois tapetinhos.

Barbárie?
Paulo da Silva Henrique, de 32 anos, natural de Ipatinga, cumpria pena por roubo no presídio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves. Obteve autorização da Justiça para sair no Dia das Mães e não voltou, como sói acontecer, verbo soer, em nosso idioma desde o século 13, significando “acontecer com frequência, ser hábito ou costume”.

Na Avenida Pedro I, em BH, empurrou uma estudante para roubar-lhe o celular. A moça caiu na pista, no meio dos carros, e o ipatinguense saiu correndo com o telemóvel roubado. Perseguido pelo povo, foi alcançado quando levou um tombo na Rua São João da Vereda e teve pés e mãos amarrados até a chegada da polícia, que o encaminhou para o Ceresp, Centro de Remanejamento do Sistema Prisional, da Gameleira.

Barbárie? Claro que não! Foi o povo prendendo e amarrando até chegar a polícia, que não pode estar em toda parte. Barbárie foi aquilo feito pelos moradores do Guarujá (SP), quando prenderam, torturaram e mataram uma dona de casa, mãe de dois filhos, confundida com suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra.

A reação dos populares belo-horizontinos foi de lucidez e justiça, digna dos maiores encômios, salvo pelos proxenetas dos direitos humanos. Afinal, Paulo da Silva Henrique fora liberado para visitar aquela que o pariu. Escusado é dizer que a mídia chamou o ipatinguense de “suspeito”, como suspeito era e continua sendo o cirurgião plástico Farah Jorge Farah, condenado mês passado a 16 anos de reclusão pelo assassinato de uma paciente-namorada, autor confesso do homicídio seguido pelo esquartejamento da moça.

O mundo é uma bola
23 de junho de 1314: Batalha de Bannockburn, ao sul de Stirling, primeira guerra da independência escocesa. Até hoje, a Escócia pensa na independência, em vez de ficar bebendo os seus ótimos uísques. Independência não existe. É utopia. Você, caro e preclaro leitor do Estado de Minas, conhece alguém independente? Conhece um país independente? Até o andarilho imundo, que circula sem rumo pelas estradas, é dependente de sua loucura. O assunto é fascinante e dá samba.

Em 1483, o papa Sisto IV excomunga e interdita Veneza, que continua firme e forte recebendo 20 milhões de turistas/ano.

Em 1565, durante o cerco de Malta, morre Turgut Reis, comandante da marinha do Império Otomano. Reis em turco é “almirante” e Turgut podia ser Dragut, Torgut, Darghouth. Nasceu em 1485 e morreu vítima de estilhaços de artilharia na flor dos seus 80 aninhos. Sua ferocidade assustava os inimigos.

Em 1794, Catarina, a Grande, da Rússia, permite que os judeus possam morar em Kiev, uma das maiores e mais antigas cidades da Europa Oriental. Kiev, Kyiv e outro nome que não sei escrever no computador, foi fundada no século 7 e tem hoje cerca de 2,8 milhões de habitantes. No inverno, faz um frio danado.

Hoje no Brasil é o Dia Nacional do Desporto (Lei Pelé) do Migrante e do Lavrador.

Ruminanças
“Há mortos que é preciso matar” (Fernand Desnoyers, 1828-1869).

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