Valor dos ativos vai oscilar a cada nova pesquisa eleitoral
André Delben Silva
Sócio da Sonar Investimentos
Estado de Minas: 04/06/2014
As eleições presidenciais são sempre importantes para o mercado financeiro, pois tendem a ser um momento de incerteza entre a continuidade e a mudança. Se voltarmos um pouco no tempo, veremos que as eleições presidenciais de 2002 tiveram um grande impacto nos ativos brasileiros. À medida que aumentava a possibilidade de Lula ser eleito, houve uma deterioração grande dos preços dos ativos do país, com o dólar chegando perto de R$ 4,00. O que estava em jogo naquele momento? De um lado, tínhamos a continuidade da política econômica do governo do PSDB, baseada na ortodoxia macroeconômica e no famoso “tripé macroeconômico”: regime de metas para a inflação, câmbio flutuante e metas de superávit fiscal primário. Do outro lado, havia muita incerteza sobre qual seria a política econômica do governo Lula. Iríamos caminhar para o comunismo? Perder todos os ganhos desde a introdução do Plano Real? Em certo momento, o mercado enxergou uma grande diferença entre os dois candidatos e ficou muito assustado com Lula. Felizmente, Lula não mudou muita coisa na condução da política macroeconômica e os mercados se acalmaram.
E hoje? Começamos o ano com a presidente Dilma favorita para ser reeleita, dada a sua popularidade e relativa fraqueza da oposição. Por volta de março, o cenário virou de maneira surpreendente, com uma pesquisa atrás da outra mostrando cada vez mais a possibilidade de que tenhamos segundo turno e que a reeleição de Dilma já não é mais algo garantido. A mudança do quadro eleitoral tem provocado movimentos fortes nos ativos. Desde então, o dólar caiu, as taxas de juros caíram, o prêmio de risco exigido dos ativos brasileiros caiu e a bolsa subiu, com as ações das empresas estatais tendo desempenho surpreendente (Petrobras, por exemplo, subiu mais de 50% desde o início de março). De certa maneira, ao acreditar na maior chance de uma vitória da oposição e com isso aumentar o preço dos ativos brasileiros, os investidores estão nos dizendo que o governo Dilma tem sido ruim para a economia (e, portanto, para os ativos financeiros) e que as alternativas seriam melhores. Essa visão dos investidores advém da percepção de que foram cometidos diversos erros na condução da economia brasileira. Em primeiro lugar, tivemos praticamente o abandono do tripé macroeconômico: a inflação corre acima da meta há vários anos e sem expectativa de retorno no curto prazo, o câmbio é fortemente controlado por intervenções do Banco Central e as metas de superávit fiscal primário somente são cumpridas às custas de muita contabilidade criativa. Além disso, o governo passou a ser cada vez mais intervencionista no funcionamento da economia, sendo o controle do preço da gasolina o maior exemplo, quando a Petrobras precisa comprar gasolina no exterior por um preço maior do que pode vender aqui dentro do país.
Tudo somado, os investidores estão dizendo que a saída de Dilma seria benéfica para a economia do país. Como estamos apenas no início de junho, o cenário eleitoral ainda vai mudar muito até a eleição e a tendência é que os ativos se movimentem ao sabor de cada pesquisa eleitoral. A não ser que caminhemos para uma decisão mais clara, como a presidente Dilma retomar sua popularidade nas pesquisas, a tendência é que tenhamos muita volatilidade até a decisão de quem será o novo presidente. E como o mercado interpreta as alternativas como muito diferentes, poderemos ter preços de ativos muito melhores ou muito piores em novembro. Isso torna a vida do gestor de recursos muito difícil neste período.
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