Dizem que a sensação é emocionante e um
cavalheiro pardo, gordo, bons dentes, com a filhinha no colo, disparou a
chorar pelo fato de ter visto a taça
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 10/07/2014
O médico
Ademar Arthur Chioro dos Reis, que não é parente, titular do Ministério
da Saúde do governo Rousseff, acaba de prestar relevantíssimo serviço ao
país com as providências antitabaco que tomou. Talvez sem querer,
porque é filiado ao PT há muitos anos, vem de transferir milhões de
votos para os candidatos oposicionistas.
Vejamos. Se 15% dos
brasileiros são fumantes totalizam 30 milhões de pessoas. Como é pequeno
o número de fumantes menores de idade, podemos dizer que os 30 milhões
são eleitores, porque maiores de 16 anos, naquela faixa em que o jovem
pode votar, mas é inimputável quando comete um crime hediondo.
Mantida
a proporção das últimas eleições presidenciais, 17 milhões de fumantes
são eleitores do PT, exatamente o número de votos que Ademar Arhur
Chioro dos Reis acaba de transferir para a oposição. Seus argumentos
antitabaco são pueris e não condizem com um cavalheiro que, mal ou bem,
tem mestrado e doutorado em medicina. Deixou de explicar, por exemplo,
se a proibição se limita ao tabaco ou também inclui a maconha muito
fumada por aí.
Se tivesse lido Jean-Louis Besson em “A ilusão das
estatísticas”, Ademar Arthur Chioro dos Reis teria aprendido o
seguinte: “/.../ se admitimos a hipótese de que o fumo é responsável
pelas mortes prematuras, é preciso então colocar na relação o sobrecusto
social (cuidados médicos etc.) e os ganhos realizados. /.../ As mortes
prematuras evitam as despesas dos outros doentes, sem falar da economia
nas aposentadorias!” Enquanto ao mais, ouçamos Marlene Dietrich: “As
pessoas acreditam que, deixando de fumar, deixam de morrer. É falso,
claro; elas morrerão de outra coisa”, cujo tratamento, evidentemente,
também tem um custo, acrescenta Jean-Louis.
Pleonasmos
Redundância
de termos no âmbito das palavras, mas de emprego legítimo em certos
casos, pois confere maior vigor ao que está sendo expresso (por exemplo:
ele via tudo com seus próprios olhos), o pleonasmo é malvisto por muita
gente e é dispensável quando falamos ou escrevemos. Tão condenável
quanto o parequema, que dói nos leitores lúcidos. Parequema é a
repetição de sons ou da sílaba final de uma palavra, no início da
palavra seguinte (por exemplo: voltou outro, virar artista, deixe a mala
lá). O parequema pode ser explorado expressivamente, mas deve ser
evitado por criar ecos e cacófatos.
Circula na internet, sem
indicação de autor, um texto divertido: “Você já pleonasmou hoje?”. Deve
ser de autor português por dizer que a pleonasmite é “doença
congénita”. Diz que a doença não tem cura, mas também não mata. Não
sendo controlada, chateia quem convive com o paciente.
Fala em
verbalização de pleonasmos (ou redundâncias), mas não devemos esquecer
as redundâncias e os pleonasmos escritos. Dia desses, um leitor do EM
criticou meu redundar num texto em que não havia redundância. Deletei
seu e-mail para não me aborrecer. O autor luso dá quatro exemplos de
pleonasmos óbvios: subir para cima, descer para baixo, entrar para entro
e sair para fora.
E prossegue: recordar o passado, pequenos
detalhes, laranja partida em metades iguais, sentidos pêsames, viúva do
falecido. A lista é imensa: acabamento final, surpresa inesperada,
principal protagonista, ver com os seus próprios olhos, elo de ligação,
arder em chamas, país do mundo, consenso geral, relações bilaterais
entre dois países, sorriso nos lábios, hemorragias de sangue, habitat
natural, adiar para depois, encarar de frente, maluco da cabeça.
Inexplicável
Mais
de 400 mil brasileiros, 10% da população da Nova Zelândia, enfrentaram
horas em filas quilométricas para ver de perto a taça da Fifa. Em
Brasília, capital da República, correram o risco de ser flechados pelos
nossos irmãos indígenas que faziam manifestação lá perto. Por enquanto,
os indígenas não estão usando nas pontas de suas flechas aquele veneno
de ação paralisante, de tom marrom-escuro ao negro, resinoso e
aromático, extraído de plantas da família das estricnáceas e das
menispermáceas, especialmente dos gêneros Strychnos e Chondrodendron,
vulgo curare; o temível urari (veneno), de um dialeto caribe das
Guianas, com provável influência do tupi amazônico.
Inexplicável,
no meu entendimento de philosopho, tem sido a reação de muitas pessoas
depois de ver a taça. Dizem que a sensação é emocionante e um cavalheiro
pardo, gordo, bons dentes, com a filhinha no colo, disparou a chorar
pelo fato de ter visto a taça. É de cabo de esquadra.
O mundo é uma bola
10
de julho de 1553: início do reinado de Jane Grey na Inglaterra, deposta
por Mary I nove dias mais tarde, até porque seria impossível depor
alguém antes de subir ao trono. Em 1859, o Big Ben soou em Londres pela
primeira vez. Ao contrário do que supunha um philosopho amigo nosso, o
Big Ben não é o relógio, mas o sino que fica atrás dele. Em 1938, o
milionário Howard Hughes bate o recorde completando a volta do mundo em
91 horas. Em 1991, Boris Yeltsin (1931-2007) é eleito presidente da
Rússia. Bebia mais que o analfa boquirroto. Hoje é o Dia do Truco.
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