Zero Hora - 09/07/2014
Mulheres, não reclamem. Nunca se viu tanto homem, ao menos na tevê. Viva
a Copa, que deixará saudades. Mas quem quiser se aprofundar um
pouquinho no mundo masculino, troque a tevê pelo cinema, a fim de
assistir ao filme espanhol O que os Homens Falam. Nele, cinco esquetes
expõem as crises de meia-idade dos nossos queridos. A presença do
argentino Ricardo Darín é a cereja do bolo, mas os demais atores são
excepcionais também.
Divertido, inteligente e enternecedor. Quando cheguei em casa, ainda
trazia um sorriso no rosto, tal é a leveza desse filme que desmistifica
o macho alfa, revelando os homens como realmente são: falíveis,
infantis e doces, até mesmo os cafajestes. Até eles.
A luta feminina pela conquista de direitos é legítima e necessária,
mas criou uma atmosfera de campo de guerra – o homem passou a ser visto
como o predador que deve ser combatido, o responsável por todas as
infelicidades que nos atormentam. Se são, é porque damos a eles o
protagonismo de nossas histórias românticas e eles acabam se
transformando em inimigos íntimos, mas culpa, culpa mesmo, ninguém tem
de nada. Tanto eles como nós somos igualmente cerebrais e emotivos. O
que nos difere, talvez, seja o humor, que é a maneira como externamos
nosso ponto de vista sobre o que acontece.
E aqui entro em campo minado, prestes a receber uma saraivada de
insultos das minhas parceiras de gênero: considero o humor masculino
mais interessante. Há quem diga inclusive que não existe humor feminino –
quando ele funciona, é porque é masculino também. Pode ser. A mulher
recorre à caricatura e ao exagero para tornar-se engraçada – somos as
rainhas do drama, como se sabe. Já o humor masculino é reflexo de uma
observação realista – eles extraem graça do inevitável, e isso me parece
extremamente comovedor.
Homens riem de si próprios com economia, sem excessos. Puro charme. É
isso que encanta nos personagens de O que os Homens Falam. Não são
inflamáveis, e sim discretos, falam com poucas palavras, e também
através de gestos e olhares sutis. O humor deles seduz (ao menos a mim)
porque não é cênico, teatral, e mesmo quando existe a intenção de fazer
rir, o fazem sem alarde – Woody Allen e Luis Fernando Verissimo têm isso
em comum, para exemplificar. É um humor que não sei como adjetivar de
outra forma, a não ser dizendo o óbvio, que é um humor masculino no que o
homem tem de melhor: a desafetação.
Do cinema realista para uma tragédia grega contemporânea: a peça A
Vertigem dos Animais antes do Abate, mais um projeto liderado por
Luciano Alabarse, fica em cartaz no Theatro São Pedro de amanhã até
domingo. A nossa bestialidade primitiva em cima do palco, a nu, com
elenco, direção e música de primeira. Para adultos de estômagos fortes –
masculinos ou femininos.
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