quinta-feira, 17 de julho de 2014

Eduardo Almeida Reis-Texto cebolinha‏

Ouço falarem de um plano diretor belo-horizontino que limita as vagas de garagem a uma por apartamento. É a velha história de fechar a porta depois da casa arrombada


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 17/07/2014





Cebolinho em Portugal e cebolinha por aqui, a planta Allium schoenoprasum tem sabor suave, não fede nem cheira como a cebola, Allium cepa, que faz chorar e tem inimigos como também muitos fãs, e o autor destas bem traçadas é um deles.

O caro, preclaro e pacientíssimo leitor deve ter notado que a cebolinha, apesar de inexpressiva, tem larga utilização culinária, assim como o texto cebolinha, inexpressivo, tolo e açucarado, sobrevive graças às panelinhas literárias em que se mete. Sem panelinha, o texto cebolinha não existe. Apandado na panelinha, sobrevive mal e porcamente. Como ninguém, a começar por mim, sabe o que significa o adjetivo apandado, aqui vai a explicação: inflado, enfunado, que se apandou.

Aposto que ninguém conhece, como este philosopho não conhecia, o significado de apandria: horror mórbido ao sexo masculino. Num país grande e bobo, muitas mulheres de prestígio cantante nas rádios e televisões sofrem de apandria e limitam seu relacionamento amoroso às parceiras apândricas.

Deve existir ligação genética entre a apandria e a aptidão para o sucesso profissional delas todas, que obram muitíssimo bem. O sexo masculino nunca foi flor que se cheire, como podem atestar todas as senhoras que sobreviveram aos casamentos mal-sucedidos, 999 em hum mil, como se escreve na formidável linguagem bancária.

Trânsito

Em França, a região da Aquitaine tem a Dordogne e o philosopho tem um amigo especializado em descobrir e repassar e-mails imensos, lindíssimos, sobre diversas regiões do planeta. Um dos últimos foi sobre o Départment de La Dordogne: é de embasbacar e nos remete a Belo Horizonte, capital de todos os mineiros.

Por quê? Ora, porque em cada esquina da Dordogne há uma construção, um castelo, uma ponte com muitas centenas de anos, além de obras e ruínas milenares, que me lembram as casas belo-horizontinas sem qualquer expressão histórica e/ou arquitetônica, jovens de 100 aninhos, preservadas pelo patrimônio histórico sabe-se lá por quê.

Disto resultam construções recentes nos fundos dos lotes mantendo aquelas bibocas de frente para as ruas e avenidas, nas quais já não há espaço para a circulação de veículos automotores. E prédios no centrão, como um que visitei, com 20 (vinte!) vagas de garagem para um só apartamento de cobertura e 6 (seis!) vagas por apartamento comum.

Escusado é dizer que o proprietário do apê de cobertura anda às voltas com a Polícia Federal e tudo vai terminar em águas de bacalhau, porque Minas, sem frente para o mar, é estado em que tudo termina em águas de bacalhau, peixe teleósteo gadiforme da família dos gadídeos (Gadus morrhua), dos mares frios do Hemisfério Norte, de grande importância comercial, que se vende geralmente seco e salgado.

Ouço falarem de um plano diretor belo-horizontino que limita as vagas de garagem a uma por apartamento. É a velha história de fechar a porta depois da casa arrombada. Sem transporte público decente e abundante, o trânsito de BH não tem solução. Nova York, que os puristas grafam Nova Iorque, tem metrô com 418 quilômetros de linhas e 468 estações; Londres tem 408 quilômetros e 275 estações. Quantos quilômetros de metrô tem a capital de todos os mineiros?
Nosologia

Como sabe o leitor, nosologia é o ramo da medicina que estuda e classifica as doenças. Se o sujeito vive tomando remédios, é nosomaníaco ou hipocondríaco. Esse último adjetivo ou substantivo entrou em nosso idioma no ano de 1660 do grego hupokhondriakós,ê,ón “doente dos hipocôndrios” e o hipocôndrio é cada uma das duas partes laterais e superiores do abdome, separadas pelo epigástrio.

Encucou-me o nosocômio, que, de brincadeira, utilizei dia desses em lugar de hospital. Fui procurar no Houaiss e descobri que o antepositivo nos(o)- do grego nósos, ou “doença”, ocorre em vocábulos já originalmente gregos, como nosocômio (nosokomeîon) e nosóforo (nosophóros), já em cultismos, preferentemente das biociências, do século 19 em diante, entre os quais: nosencefalia, nosencéfalo, nosocomial, nosocômico, nosocrático, nosoctonologia, nosoctológico, nosodendro, nosoderma, nosódio, nosodógnio, nosoeconomia, nosófito, nosofobia, nosofóbico, nosófobo, nosoftoria, nosogenia, nosogênico, nosogeografia, nosografar, nosografia, nosográfico, nosógrafo, nosologia, nosológico, nosologista, nosomancia, nosomania, nosomaníaco, nosomante, nosomicose, nosopoético, nosoterapia, nosotoxicose, nosotoxicótico. Nosomante é o sujeito que adivinha pela observação das doenças, donde se conclui que a nosomancia é maluquice gravíssima.

O mundo é uma bola

17 de julho de 180: doze habitantes de Scillium, Numídia, Norte da África, foram executados porque eram cristãos. É a primeira notícia sobre cristãos naquela região. Numídia foi o nome da atual Argélia e de uma parte da Tunísia. Em 1099, terceiro dia do massacre da população muçulmana de Jerusalém pelos cristãos da Primeira Cruzada, que conquistaram a cidade dois dias antes.
Em 1762, Catarina II se torna czarina da Rússia depois do assassinato de Pedro III. Em 15 palavras, você acaba de ter notícia de um fato que ainda hoje pode render milhares de livros. Sophie Friederike Auguste von Anhalt-Zerbst, imperatriz despótica russa de origem alemã, reinou como Catarina II, a Grande, entre 1762 e 1796.

Ruminanças

“Quando os selvagens da Luisiana querem ter frutas, cortam a árvore pela raiz e colhem o fruto. Eis o governo despótico” (Montesquieu, 1689-1755). 

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