Isabela de Oliveira
Estado de Minas: 17/07/2014
A cada ano, 300
mil marca-passos são colocados no coração de pacientes em todo o mundo.
Os custos globais com o dispositivo que regula a frequência do órgão
vital não custam menos que US$ 8 bilhões. Embora funcione bem, o
aparelho está longe de ser universal: nem sempre chega às populações de
baixa renda e não pode ser usado em alguns grupos de pacientes, como
fetos com problemas cardíacos congênitos. Por isso, cientistas tentam
desenvolver métodos mais acessíveis e que dispensem as violentas
intervenções cirúrgicas necessárias para o implante de um coração
eletrônico. Alguns buscam a solução para o problema dentro do próprio
corpo humano.
Nesse sentido, resultados da tentativa mais recente de inovar no tratamento de disritmias cardíacas foram publicados na edição de ontem da revista Science Translational Medicine. Os pesquisadores do Instituto do Coração Cedars-Sinai, em Los Angeles, nos Estados Unidos, descobriram um “marca-passo biológico” que poderá funcionar como uma alternativa ao equipamento tradicional. A equipe liderada pelo taiwanês Yu-Feng Hu apostou no gene TBX18 para reverter os defeitos da máquina humana.
O alvo dos cientistas era o bloqueio cardíaco completo, uma doença caracterizada pelo descompasso dos batimentos do órgão vital. “Queríamos um modelo que fosse clinicamente realista, mas minimamente invasivo e que pudesse servir como um projeto inicial que pavimente ensaios clínicos com pacientes”, conta Yu-Feng Hu. O principal autor descreve, no estudo, que há uma pequena área do coração que é altamente especializada na tarefa de fazê-lo bater: o nódulo sinoatrial.
A região é o motor que faz as câmaras musculares bombear o sangue pelo corpo. Quando essa parte da engenharia cardiovascular falha, o órgão pode bater muito lentamente ou parar de pulsar por completo. Uma série de experimentos com porcos, animais com características genômicas semelhantes às dos seres humanos, revelou que o TBX18 tem capacidade de transformar as células normais do coração em células especiais do nódulo sinoatrial. Os resultados da injeção do gene nas cobaias apareceram poucos dias após o procedimento, e o coração dos suínos funcionou no ritmo normal por até duas semanas sem o auxilio do dispositivo eletrônico.
Sem dor Eugenio Cingolani, coautor do estudo, acredita que a ação do TBX18 no coração poderá ser de valor inestimável para duas categorias de pacientes que precisam urgentemente de um marca-passo, mas que não podem receber o dispositivo. O primeiro grupo é o de fetos que têm problemas cardíacos congênitos. Não é possível colocar o dispositivo tradicional nesses bebês, que, em decorrência dos problemas, correm o risco de morrer ainda na barriga da mãe.
Outra aplicação potencial envolve adultos que dependem do dispositivo, mas que desenvolveram infecções graves após a implantação dele e, por isso, precisam removê-lo. “Nessas pessoas, esperamos usar injeção de TBX18 como uma espécie de ponte para permitir que elas sobrevivam tempo suficiente sem o marca-passo até que as infecções sejam curadas e os aparelhos sejam instalados definitivamente”, diz o especialista.
O melhor da técnica é que não é preciso abrir o tórax, o que geralmente é feito em procedimentos cardíacos, para injetar o gene. Além disso, o sucesso do tratamento pode ser medido apenas com um monitor cardíaco. “É preciso verificar a eficiência do tratamento em longo prazo e se ele apresenta toxidade aos pacientes. Esperamos iniciar os testes em humanos dentro de três anos”, prevê Cingolani.
Sequenciamento
Em 2012, cientistas da Universidade de Wageningen (Holanda) e do Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo (Reino Unido), sequenciaram o genoma dos porcos e mostraram que eles são mais parecidos com os humanos do que se imagina. Segundo o estudo, publicado na revista Nature, os animais partilham conosco pelo menos 112 mutações do DNA ligadas a uma variedade de doenças, como Parkinson e Alzheimer. O sequenciamento também mostrou que os suínos sofrem de defeitos genéticos responsáveis por enfermidades humanas como obesidade, diabetes e dislexia. Na época, os pesquisadores assinalaram que estudos mais aprofundados podem levar a novos tratamentos para combater doenças devastadoras que ameaçam a vida humana.
Palavra de especialista
Gustavo Lacerda,
coordenador do setor de Arritmia e Eletrofisiologia do Instituto Nacional de Cardiologia (INC)
Eficazes, mas caros
O marca-passo e os dispositivos de estimulação cardíaca artificial são empregados em cardiologia desde a década de 1950. Eles são muito eficazes e, quando bem indicados, são capazes de melhorar a qualidade de vida e de aumentar a sobrevida de diversos pacientes portadores de distúrbios do ritmo cardíaco. No entanto, têm alto custo e só devem ser implantados por médicos experientes e altamente treinados. Por esse motivo, em muitos países subdesenvolvidos, os pacientes candidatos a implante de marca-passo não são beneficiados. O esforço para encontrar alternativas ao marca-passo é justificado mesmo nos países em que o custo do aparelho não é um fator limitador. Como todo dispositivo eletrônico, eles dependem de uma bateria, que dura em torno de sete a oito anos. Quando esgotada, o paciente precisa ser submetido a uma nova cirurgia para a troca da unidade geradora do aparelho. Além disso, o marca-passo é uma prótese e, embora não exista risco de rejeição, sempre há o perigo de uma infecção da prótese, uma complicação rara mas potencialmente grave.
Nesse sentido, resultados da tentativa mais recente de inovar no tratamento de disritmias cardíacas foram publicados na edição de ontem da revista Science Translational Medicine. Os pesquisadores do Instituto do Coração Cedars-Sinai, em Los Angeles, nos Estados Unidos, descobriram um “marca-passo biológico” que poderá funcionar como uma alternativa ao equipamento tradicional. A equipe liderada pelo taiwanês Yu-Feng Hu apostou no gene TBX18 para reverter os defeitos da máquina humana.
O alvo dos cientistas era o bloqueio cardíaco completo, uma doença caracterizada pelo descompasso dos batimentos do órgão vital. “Queríamos um modelo que fosse clinicamente realista, mas minimamente invasivo e que pudesse servir como um projeto inicial que pavimente ensaios clínicos com pacientes”, conta Yu-Feng Hu. O principal autor descreve, no estudo, que há uma pequena área do coração que é altamente especializada na tarefa de fazê-lo bater: o nódulo sinoatrial.
A região é o motor que faz as câmaras musculares bombear o sangue pelo corpo. Quando essa parte da engenharia cardiovascular falha, o órgão pode bater muito lentamente ou parar de pulsar por completo. Uma série de experimentos com porcos, animais com características genômicas semelhantes às dos seres humanos, revelou que o TBX18 tem capacidade de transformar as células normais do coração em células especiais do nódulo sinoatrial. Os resultados da injeção do gene nas cobaias apareceram poucos dias após o procedimento, e o coração dos suínos funcionou no ritmo normal por até duas semanas sem o auxilio do dispositivo eletrônico.
Sem dor Eugenio Cingolani, coautor do estudo, acredita que a ação do TBX18 no coração poderá ser de valor inestimável para duas categorias de pacientes que precisam urgentemente de um marca-passo, mas que não podem receber o dispositivo. O primeiro grupo é o de fetos que têm problemas cardíacos congênitos. Não é possível colocar o dispositivo tradicional nesses bebês, que, em decorrência dos problemas, correm o risco de morrer ainda na barriga da mãe.
Outra aplicação potencial envolve adultos que dependem do dispositivo, mas que desenvolveram infecções graves após a implantação dele e, por isso, precisam removê-lo. “Nessas pessoas, esperamos usar injeção de TBX18 como uma espécie de ponte para permitir que elas sobrevivam tempo suficiente sem o marca-passo até que as infecções sejam curadas e os aparelhos sejam instalados definitivamente”, diz o especialista.
O melhor da técnica é que não é preciso abrir o tórax, o que geralmente é feito em procedimentos cardíacos, para injetar o gene. Além disso, o sucesso do tratamento pode ser medido apenas com um monitor cardíaco. “É preciso verificar a eficiência do tratamento em longo prazo e se ele apresenta toxidade aos pacientes. Esperamos iniciar os testes em humanos dentro de três anos”, prevê Cingolani.
Sequenciamento
Em 2012, cientistas da Universidade de Wageningen (Holanda) e do Instituto Roslin, da Universidade de Edimburgo (Reino Unido), sequenciaram o genoma dos porcos e mostraram que eles são mais parecidos com os humanos do que se imagina. Segundo o estudo, publicado na revista Nature, os animais partilham conosco pelo menos 112 mutações do DNA ligadas a uma variedade de doenças, como Parkinson e Alzheimer. O sequenciamento também mostrou que os suínos sofrem de defeitos genéticos responsáveis por enfermidades humanas como obesidade, diabetes e dislexia. Na época, os pesquisadores assinalaram que estudos mais aprofundados podem levar a novos tratamentos para combater doenças devastadoras que ameaçam a vida humana.
Palavra de especialista
Gustavo Lacerda,
coordenador do setor de Arritmia e Eletrofisiologia do Instituto Nacional de Cardiologia (INC)
Eficazes, mas caros
O marca-passo e os dispositivos de estimulação cardíaca artificial são empregados em cardiologia desde a década de 1950. Eles são muito eficazes e, quando bem indicados, são capazes de melhorar a qualidade de vida e de aumentar a sobrevida de diversos pacientes portadores de distúrbios do ritmo cardíaco. No entanto, têm alto custo e só devem ser implantados por médicos experientes e altamente treinados. Por esse motivo, em muitos países subdesenvolvidos, os pacientes candidatos a implante de marca-passo não são beneficiados. O esforço para encontrar alternativas ao marca-passo é justificado mesmo nos países em que o custo do aparelho não é um fator limitador. Como todo dispositivo eletrônico, eles dependem de uma bateria, que dura em torno de sete a oito anos. Quando esgotada, o paciente precisa ser submetido a uma nova cirurgia para a troca da unidade geradora do aparelho. Além disso, o marca-passo é uma prótese e, embora não exista risco de rejeição, sempre há o perigo de uma infecção da prótese, uma complicação rara mas potencialmente grave.
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