De quatro em quatro anos, na campanha das eleições para as cadeiras legislativas do país, a conversa é a mesma: honestidade, saúde, educação, segurança e transporte de qualidade. De quatro em quatro anos, nada muda na saúde, na educação. E a questão da honestidade passa longe de ser deixada de lado. Coitados dos aposentados. Há sempre representantes daqueles que contribuíram décadas e décadas com a Previdência e foram transformados em pensionistas por tempo de contribuição ou de serviço. Ou por ambos os quesitos. E nunca, nunca nem um aposentado sequer viu sua minguada vida mudar.
Inventaram o horário eleitoral gratuito para mais de 200 milhões de brasileiros ouvirem as promessas de centenas (ou seriam milhares?) de concorrentes, estreantes ou postulantes a novo mandato falarem do que não farão, porque não fariam mesmo ou prometeram o que não lhes é de competência. Se o discurso não muda, o que mais mudaria na política? Há aqueles que já estão sentados nas cadeiras há quatro legislaturas e o programa é igual ao apresentado na primeira campanha. Um desses, que já ocupou cargo em corporação policial federal, está de volta falando em trabalhar pela segurança. Ele já foi oficial da área de segurança e está há 20 anos travestido de parlamentar. A insegurança está sempre em alta. Cara de pau esse candidato ou não passa de um folgado?
No dia em que os caras foram eleitos, 80 mil, 100 mil ou mais pessoas acordaram pensando em cada um deles. Foram lá, apertaram o botão eletrônico e os elevaram a representantes do povo. Assentados no cargo, eles não pensam em nenhuma daquelas 80 mil, 100 mil ou mais almas desesperadas nas filas dos postos de saúde e do transporte coletivo ou que passam o mês se equilibrando em mais despesas do que dinheiro.
Mesmo se houver boa intenção na promessa e o prometido for de competência do parlamentar, que, de repente, pensou naqueles que o elegeram, ele sozinho não acrescenta nada às necessidades da sociedade. É preciso que a maioria do plenário o acompanhe na ideia. E é aí, como diz um velho senhor do Vale do Mucuri, calejado de tanta frequência às urnas, que a porca torce o rabo. Talvez a melhor oferta no horário eleitoral gratuito, em cartaz no rádio e na TV, seja a daquele cidadão ainda jovem: “Não sei o que faz um deputado, mas posso vir a saber se você votar em mim”. É mais ou menos isso o que diz.
Vai aprender, sim. Vai aprender que no Parlamento não vale apenas a boa intenção. Foi o que ocorreu com um ex-jogador de futebol. Cidadão de qualidade. Botou o nome de craque na campanha e ganhou a eleição. Entrou no gabinete cheio de projetos voltados para a solução de uma porção de pendências das camadas mais humildes da população. Gente que naqueles tempos, antes das arenas, frquentava a geral e a arquibancada para idolatrá-lo. Ao fim de quatros anos, saiu sem aprovar nada. E decidiu não se recandidatar.
Será que ele não se sentiu leal ao eleitorado? Nada disso. Numa conversa íntima, o sujeito que encantara multidões nos estádios e não conseguira convencer ninguém como político contou por que não buscou a reeleição. “Lá funciona assim: o parlamentar novato tem que se juntar a uma das bancadas que representam grandes interesses econômicos, religiosos ou políticos. Se você não se unir a tudo aquilo que se repudia aqui fora, não consegue aprovar nada. Passa a ser totalmente ignorado. Não quis compactuar com isso.”
Conversa de Negão:
Deu no jornal que a campanha do balde de gelo fracassa em Minas. As doações não pagam uma cesta básica. Faz sentido. O que mais há neste chão mineiro é pão-duro. Amigo do Negão, escritor, convidado a entrar na onda, vai esperar chover granizo para encher o balde. Imaginem, então, quanto vai doar...
>> arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br
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