Bom para a saúde, ruim para o bolso
Produtos que fazem bem ao organismo custam até 168% mais que os tradicionais e podem fazer a compra da família ficar 60% mais cara. Dica é mesclar o consumo e buscar o que está na safra
Luciane Evans
Estado de Minas: 19/08/2014
Em busca de uma
vida saudável, consumidores têm tentado mudar seus hábitos e selecionam
com mais rigor o que colocam à mesa. Com benefícios que vão desde o
emagrecimento até prevenções para doenças, alimentos como os orgânicos e
os integrais estão cada vez mais disponíveis nas redes varejistas e
recomendados por médicos e nutricionistas. Mas, a receita para o bem
estar pode fazer mal ao bolso. A pedido do Estado de Minas, o site
Mercado Mineiro elaborou pesquisa para calcular quanto custa ser
saudável em Belo Horizonte. Para isso, foram comparados os preços dos
produtos convencionais com os que são mais benéficos para a saúde. A
diferença é alta. Um item orgânico, por exemplo, pode custar até 168,64%
mais do que um tradicional e, em uma compra dando preferência a eles e
aos integrais, o consumidor pode pagar quase 60% a mais no fim da conta.
Para quem procura, há à venda na capital desde alface até achocolatado orgânico. São muitos os produtos que, dependendo do estabelecimento, anunciam em sua composição levar menos (ou nenhum) ingrediente químico. Na pesquisa do Mercado Mineiro, foram selecionados 10 itens vendidos em nove supermercados da cidade e, segundo o diretor executivo do site, Feliciano Abreu, os preços ainda são “salgados” demais. “Estão fora da realidade do brasileiro. Como uma família com cinco filhos vai se alimentar de arroz integral? Os preços desanimam qualquer um”, comenta. Feliciano diz que, no levantamento, foram pesquisados estabelecimentos da Região Centro-Sul, onde a oferta desses produtos era maior, e também de estabelecimentos em outras regiões de BH, onde, em muitos lugares, não havia tantos itens do tipo.
O que mais chama a atenção na comparação (veja quadro) é a diferença de um suco orgânico para um convencional. A variação é de 168, 64%. Outro item que também é destaque é o açúcar mascavo que, segundo defendem profissionais da nutrição, é benéfico por ter mais vitaminas e minerais na sua composição. Mas ao ser comparado com o açúcar cristal, há uma variação de 102,71%. A alface, tão comum na mesa dos brasileiros e recomendada como fonte de saúde, quando adquire a orgânica o consumidor chega pagar 88,34% mais do que aquela em que foram usados produtos químicos para o seu cultivo.
Na hora da compra, o consumidor questiona o que vale mais: saúde ou dinheiro. A princípio, a qualidade de vida pesa mais para Flávia do Valle Oliveira, corredora e funcionária pública, de 52 anos. Com problemas no intestino, ela vem optando, por exemplo, em comprar produtos sem glúten e paga mais do que o dobro por eles. Ela confessa que, com os alimentos saudáveis, sua compra no supermercado já aumentou em 30%. Por isso, ela diz que não dá para consumir esses itens durante toda a semana. “Penso nos benefícios, mas, tenho revezado essas compras. Tem dias que compro os convencionais e dias que opto pelos mais saudáveis”, diz.
CREDIBILIDADE Na avaliação da presidente do Movimento das Donas de Casas e Consumidores de Minas Gerais, Lúcia Pacífico, o preço inviabiliza a opção pelos alimentos saudáveis. “Os valores são muito além do que as pessoas, geralmente, podem pagar. E além do mais, como vamos garantir que um produto é tudo aquilo que ele está prometendo ser?”, questiona. Essa é uma dúvida comum diante dos orgânicos.
No mercado desde 1994, a Fradhe Orgânicos, empresa familiar da produtora Mônica Pletchette, é voltada para a comercialização de verduras, legumes e frutas in natura. Mônica diz que, geralmente, para as folhas, há uma variação de preço de 40% a mais do que as folhas que não são orgânicas. “Os legumes são um pouco mais caros, mas as frutas chegam a custar 80% mais”, compara. Ela comenta que a produtividade dos produtos orgânicos é menor e, como não são usados produtos químicos, a despesa por mão de obra é alta. “O processo é manual, então, tudo se torna mais oneroso do que aqueles produzidos em larga escala e com uso de agrotóxicos. Além disso, o certificado para os produtos orgânicos tem um custo elevado, está na faixa de R$ 2,5 mil por ano.” Para ela, esses são um dos fatores que elevam os preços desses alimentos.
“O orgânico vai muito além do que um produto produzido na roça”, diz. Mônica acredita que, se houver mais consciência do consumidor para a importância desses produtos para a saúde, é possível que o preço diminua. Para Feliciano Abreu faltam incentivos políticos para a agricultura no país. “Os alimentos saudáveis deveriam ser de acesso popular e não restrito a uma classe que pode pagar”, afirma. Ele comenta também que é preciso, para uma maior confiança do consumidor, uma fiscalização rigorosa desses itens.
De olho na procedência
Uma estratégia para driblar os preços é buscar os alimentos orgânicos que estão na safra ou os naturais que não têm o certificado de orgânico e, geralmente, são encontrados nas feiras nos bairros. Para a nutricionista Ana Cristina Mendes Muchon, professora da Faculdade de Educação de Bom Despacho (Faceb/Unipac) e mestre em saúde coletiva, porém, é preciso que o consumidor conheça a procedência. “Outra dica é ter uma horta em casa”, diz.
Ela explica que nem todo alimento natural é orgânico. “O orgânico requer um processo produtivo mais oneroso e há, no produto, a certificação. Já o natural não tem o certificado.” Segundo ela, os alimentos integrais, ricos em fibras, são fundamentais para o bom funcionamento do intestino e de todo o sistema digestivo, além de ajudar no tratamento da obesidade, ao dar uma saciedade maior. “Além disso, eles, assim como o orgânico, fazem bem ao organismo, evitam doenças cardiovasculares e até mesmo o câncer.
A nutricionista também defende que as pessoas reflitam que, apesar do preço, a busca por produtos mais saudáveis é um investimento na saúde, o que pode gerar lucros mais adiante. “Se você tem condições de pagar por um alimento sem agrotóxico, compre. Mas se não tem, tente, ainda que com os produtos tradicionais, balancear a alimentação, colocando mais frutas, verduras, sementes e legumes na dieta”, recomenda.
Para quem procura, há à venda na capital desde alface até achocolatado orgânico. São muitos os produtos que, dependendo do estabelecimento, anunciam em sua composição levar menos (ou nenhum) ingrediente químico. Na pesquisa do Mercado Mineiro, foram selecionados 10 itens vendidos em nove supermercados da cidade e, segundo o diretor executivo do site, Feliciano Abreu, os preços ainda são “salgados” demais. “Estão fora da realidade do brasileiro. Como uma família com cinco filhos vai se alimentar de arroz integral? Os preços desanimam qualquer um”, comenta. Feliciano diz que, no levantamento, foram pesquisados estabelecimentos da Região Centro-Sul, onde a oferta desses produtos era maior, e também de estabelecimentos em outras regiões de BH, onde, em muitos lugares, não havia tantos itens do tipo.
O que mais chama a atenção na comparação (veja quadro) é a diferença de um suco orgânico para um convencional. A variação é de 168, 64%. Outro item que também é destaque é o açúcar mascavo que, segundo defendem profissionais da nutrição, é benéfico por ter mais vitaminas e minerais na sua composição. Mas ao ser comparado com o açúcar cristal, há uma variação de 102,71%. A alface, tão comum na mesa dos brasileiros e recomendada como fonte de saúde, quando adquire a orgânica o consumidor chega pagar 88,34% mais do que aquela em que foram usados produtos químicos para o seu cultivo.
Na hora da compra, o consumidor questiona o que vale mais: saúde ou dinheiro. A princípio, a qualidade de vida pesa mais para Flávia do Valle Oliveira, corredora e funcionária pública, de 52 anos. Com problemas no intestino, ela vem optando, por exemplo, em comprar produtos sem glúten e paga mais do que o dobro por eles. Ela confessa que, com os alimentos saudáveis, sua compra no supermercado já aumentou em 30%. Por isso, ela diz que não dá para consumir esses itens durante toda a semana. “Penso nos benefícios, mas, tenho revezado essas compras. Tem dias que compro os convencionais e dias que opto pelos mais saudáveis”, diz.
CREDIBILIDADE Na avaliação da presidente do Movimento das Donas de Casas e Consumidores de Minas Gerais, Lúcia Pacífico, o preço inviabiliza a opção pelos alimentos saudáveis. “Os valores são muito além do que as pessoas, geralmente, podem pagar. E além do mais, como vamos garantir que um produto é tudo aquilo que ele está prometendo ser?”, questiona. Essa é uma dúvida comum diante dos orgânicos.
No mercado desde 1994, a Fradhe Orgânicos, empresa familiar da produtora Mônica Pletchette, é voltada para a comercialização de verduras, legumes e frutas in natura. Mônica diz que, geralmente, para as folhas, há uma variação de preço de 40% a mais do que as folhas que não são orgânicas. “Os legumes são um pouco mais caros, mas as frutas chegam a custar 80% mais”, compara. Ela comenta que a produtividade dos produtos orgânicos é menor e, como não são usados produtos químicos, a despesa por mão de obra é alta. “O processo é manual, então, tudo se torna mais oneroso do que aqueles produzidos em larga escala e com uso de agrotóxicos. Além disso, o certificado para os produtos orgânicos tem um custo elevado, está na faixa de R$ 2,5 mil por ano.” Para ela, esses são um dos fatores que elevam os preços desses alimentos.
“O orgânico vai muito além do que um produto produzido na roça”, diz. Mônica acredita que, se houver mais consciência do consumidor para a importância desses produtos para a saúde, é possível que o preço diminua. Para Feliciano Abreu faltam incentivos políticos para a agricultura no país. “Os alimentos saudáveis deveriam ser de acesso popular e não restrito a uma classe que pode pagar”, afirma. Ele comenta também que é preciso, para uma maior confiança do consumidor, uma fiscalização rigorosa desses itens.
De olho na procedência
Uma estratégia para driblar os preços é buscar os alimentos orgânicos que estão na safra ou os naturais que não têm o certificado de orgânico e, geralmente, são encontrados nas feiras nos bairros. Para a nutricionista Ana Cristina Mendes Muchon, professora da Faculdade de Educação de Bom Despacho (Faceb/Unipac) e mestre em saúde coletiva, porém, é preciso que o consumidor conheça a procedência. “Outra dica é ter uma horta em casa”, diz.
Ela explica que nem todo alimento natural é orgânico. “O orgânico requer um processo produtivo mais oneroso e há, no produto, a certificação. Já o natural não tem o certificado.” Segundo ela, os alimentos integrais, ricos em fibras, são fundamentais para o bom funcionamento do intestino e de todo o sistema digestivo, além de ajudar no tratamento da obesidade, ao dar uma saciedade maior. “Além disso, eles, assim como o orgânico, fazem bem ao organismo, evitam doenças cardiovasculares e até mesmo o câncer.
A nutricionista também defende que as pessoas reflitam que, apesar do preço, a busca por produtos mais saudáveis é um investimento na saúde, o que pode gerar lucros mais adiante. “Se você tem condições de pagar por um alimento sem agrotóxico, compre. Mas se não tem, tente, ainda que com os produtos tradicionais, balancear a alimentação, colocando mais frutas, verduras, sementes e legumes na dieta”, recomenda.
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