Rômulo Francisco Vera Del Carpio
Professor do MBA de gestão de comércio
exterior e negócios internacionais da Fundação Getulio Vargas/Faculdade IBS
Estado de Minas: 19/08/2014
O consumo de produtos estrangeiros não para de crescer. O Coeficiente de Penetração de Importações (CPI) registrou aumento de 22,5% no primeiro trimestre, indicando crescimento de 0,4 ponto percentual em relação a 2013, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A importação é um ponto favorável porque ajuda a controlar a inflação brasileira. Porém, essa relação comercial é mais vantajosa na compra de produtos que não são produzidos no Brasil e em setores como a indústria que precisa de máquinas, peças e componentes. Nesse caso, é possível aproveitar a taxa de câmbio e os incentivos oferecidos pelo governo para redução de impostos.
Em abril, o Diário Oficial da União (DOU) publicou uma resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex) reduzindo o Imposto de Importação de um grupo de bens de capital de 14% para 2%. Atualmente, muitas indústrias estão renovando seu maquinário e trazendo outros, mais modernos. Apesar de ser positiva a aquisição desses produtos, é importante pontuar que a compra deve ser mais controlada nos setores de calçados, vestuários e pequenos importados. É preciso reconhecer essa medida como um incentivo à indústria nacional para tentar fazer face à chinesa, que possui processos industriais mais baratos e o custo de mão de obra também menor. Além disso, devemos reconhecer, eles conseguem tudo isso mantendo um alto nível de qualidade. Os sapatos chineses, por exemplo, já são aceitos em lojas de grife na Itália. Competir com a China é difícil para as indústrias, que podem não resistir se não avançarem em uma velocidade adequada para enfrentar essa concorrência. Hoje, muitas empresas brasileiras estão produzindo na China e com maior qualidade. Essas indústrias estão se transformando em importadoras, porque mandam a matéria-prima para os chineses, que entram com a fabricação e devolvem o produto acabado. Isso faz com que as indústrias nacionais paguem apenas pelo valor agregado. A grande preocupação é que isso atinja outros setores, o que pode ocasionar um alto índice de desemprego no Brasil. A rigor, a indústria nacional tem de se aprimorar. Parte desse problema é a alta tributação. Em muitos países, trabalha-se somente com um imposto. Os custos da produção e da logística no Brasil são mais altos. Outro ponto que precisa ser repensado é como controlar a entrada de produtos pela fronteira, que apresentam uma concorrência desleal para o país. Alguns brasileiros ultrapassam a cota limite e compram uma grande quantidade de produtos no Paraguai para comercializarem aqui. O que não é culpa dos paraguaios, uma vez que, estando em seu próprio país, não têm a obrigação de controlar isso.
Em suma, o conceito da importação mudou porque era visto pela economia com algo negativo. Hoje, o país concede incentivos para a aquisição de produtos que vão facilitar a sua produção industrial. É claro que esse processo precisa de equilíbrio e o governo deve estabelecer medidas para controlar melhor as práticas de envio de matéria-prima e compra dos produtos prontos. Isso incentivará as indústrias a produzir aqui por um custo menor, por meio da diminuição dos tributos para evitar o aumento de mão de obra onerosa e o fechamento de empresas. Trata-se, portanto, de uma guerra pela competitividade, em que a economia nacional sairia vencedora.
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