Opsigamia
O mundo está cheio de opsígamos ricos, homens e mulheres
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 03/08/2014
A internet, que
me serve mal e porcamente, deve divertir-se com o seu entra-e-sai
irritante. Quando sai, a tela do computador avisa: “Ops! parece que
houve um problema”. Do tanto que vejo “ops!” aqui e alhures resolvi
consultar o Dicionário de Gíria, de J. B. Serra e Gurgel, onde
encontrei: Ops! interj. espanto. “Ops! Vacilei.”
Curioso, fui ao
Houaiss eletrônico que não tem ops!, mas tem opsigamia: casamento
contraído por pessoa de idade avançada. Homessa! Quer dizer que fui
opsígamo e não sabia? Adjetivo e substantivo masculino, opsígamo é “que
ou aquele que se casa em idade avançada”.
O mundo está cheio de
opsígamos ricos, homens e mulheres. Quase escrevi “de ambos os sexos”,
mas os sexos deixaram de ser dois e andam próximos dos 70 (setenta),
como vimos numa listagem do Facebook. Foi do Facebook? Sei lá, mas me
lembro de que eram quase 70.
Na opsigamia, um dos cônjuges,
marido ou mulher, pretende mostrar que ainda vale alguma coisa, enquanto
o cônjuge mais novo, marido ou mulher, faz o seu pé-de-meia, no que
obra muitíssimo bem. Opsígamos são o Blatter, da Fifa, o Ecclestone, da
Fórmula 1, e Maria del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia
Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita
Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y de Silva Falcó, a
duquesa de Alba, nascida dia 28 de março de 1926, uma das mulheres mais
ricas da Espanha, que se casou em 2011 com Alfonso Díez Carabante,
funcionário público de 60 aninhos.
Em defesa do philosopho
opsígamo seja dito que não tinha fortuna e vivia exclusivamente do
salário. Mas que é bom apaixonar-se depois de certa idade, lá isto é.
Tragédias
Ao
vivo e em cores, uma tragédia como aquela das mortes sob o viaduto
despencado em Belo Horizonte sempre se transforma em duas: a tragédia
propriamente dita e o improviso do apresentador da tevê. Pensei anotar
num bloquinho o monte de asneiras do rapaz, cujo nome não vem a pelo,
coitado, porque fez o que todos fazem: perguntas e comentários de uma
idiotice espantosa. É inacreditável que o canal de tevê não tenha um
editor para segurar o besteirol do apresentador por meio do ponto
eletrônico de ouvido.
Há coisas que não deveriam acontecer, como a
queda de imenso viaduto, mas acontecem, tanto assim que o Guararapes
caiu. O solo de Belo Horizonte é complicadíssimo. No badalado Bairro
Belvedere, por exemplo, o construtor de uma porção de prédios me disse
que nunca encontrou dois solos iguais. Lotes vizinhos têm solos
diferentes. No Alto Santa Lúcia, lá perto do Belvedere, o maldito filito
exige estacas tão compridas que um dia alcançam o Japão.
Penso
que os senhores apresentadores de tevê não precisam comentar a tragédia
como se estivessem narrando uma partida de futebol. O telespectador tem o
impacto da filmagem ao vivo e deve ser poupado da loquacidade burra e
repetitiva.
Endez
Como sabe o leitor,
endez vem do latim indicii (sc. ovum) 'ovo de chamariz', genitivo
singular de indicìum,ìi 'sinal, indicação, denúncia, acusação'. Em
português tem vários significados, mas me limito ao endez que se deixa
no ninho como chamariz para outras galinhas virem fazer postura no local
(diz-se de ovo). Alfim e ao cabo, fui criador de galinhas.
O
certo é que de repente, sem aviso prévio, baixou nos leitores do grande
jornal dos mineiros deliciosa onda distribuidora de charutos cubanos,
puros de Havana que têm como destinatário um philosopho amigo nosso.
Enviados pelo Sedex merecem vivório e foguetório e servem de endez para
as próximas remessas, bem como para as encomendas que o referido
cavalheiro faz, sempre que possível, aos seus habituais fornecedores.
O mundo é uma bola
3
de agosto de 1492: zarpa de Palos de La Fronteira, Espanha, a frota
comandada por Cristóvão Colombo, que descobriria a América no dia 12 de
outubro daquele ano. Frota é maneira de dizer: três caravelas
minúsculas, casquinhas de nozes, comandadas e tripuladas por
aventureiros malucos. Salvador de Madariaga (1886-1978) escreveu livro
lindíssimo sobre Colombo, Vida del muy magnífico señor don Cristóbal
Colón (1940), das melhores coisas que já li.
Em 1500, assassinato
de Afonso de Biscegli, marido de Lucrécia Bórgia. Nunca ouvi falar
dele, mas li alguma coisa sobre a familia Bórgia. Se foi ela quem mandou
matar Afonso, fez muito bem. São raros os maridos que não merecem
morrer. Uxoricídio é o assassínio de mulher por quem era seu marido,
crime comum num país grande e bobo. Não sei como é o assassínio de
marido por quem era sua mulher, nem tenho tempo de procurar porque deu a
louca aqui no Windows 7, que passou a sublinhar em vermelho as palavras
escritas em português. Espanholou-se depois que escrevi em espanhol o
título do livro de Salvador de Madariaga.
Ruminanças
“Não é louco o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a razão” (Chesterton, 1874-1936).
Nenhum comentário:
Postar um comentário