Fados. As pessoas sucedem-se
Xica Antunes
Filósofa
Estado de Minas: 26/08/2014
Não há explicação completa da vida. Há explicações, muitas, mosaicadas. Não há explicação qualquer da morte. Há palavras tantas sobre a vida. Silêncio é o que impõe a morte.
A morte desavisada — aquela que se dá no repente, sem aviso ao corpo e ao entorno humano, transformado pela mão de parca — põe o homem no inexorável confronto de sua ilusão de imorribilidade (há formas de ser imortal, sem jeito achado de ser imorrível) com a dor de saber-se finito.
Vida que se estende para além do vivente, aquele que viveu por si e por outros — caso de políticos, artistas, pensadores e aqueles todos que fazem diferença para o conjunto humano — tem traçado de morte diversa. O velório figura um pouco o funeral de cada um dos que um dia também passarão.
O acabado mas não terminado — e a morte nunca deixa que tudo se tenha terminado, por ser a vida um sempre a fazer — escancara-se mais bruto quando trágica a passagem. Explode-se o sonho, queima-se o planejado, desfaz-se o previsto.
A morte não pede passagem. Nem perde sua passagem. Atravessa o passo humano como quem dá um calço no andante: fim de linha, esgotamento do caminho.
Vai-se o construtor de uma obra humana. Fica a construção por continuar. Na criação das catedrais, sabiam os mestres construtores medievais que seu fazer era etapa iniciada por outro e a ser sempre seguida por outros.
Catedral é obra que nunca se dá por terminada. Como a fé, que nela se expõe, um construir permanente, um sentir e fazer inacabados. Como a vida experimentada no e para o público. A obra na pólis não tem etapa vencida, mas projetos a vencer.
Planos, valores e até coisas perduram mais que as gentes. Alguns deles se acabam. As pessoas sucedem-se, para que planos, valores e coisas se realizem.
A vida pode ser uma glória ou um insucesso. A morte é sempre o fracasso da ilusão de imortalidade que teimamos em deter. Até para que os nossos limites tenham tempo de se estender e nossa felicidade possa ser alcançada. Enganos que precisam ser sonhados. Afinal, os sonhos nunca são enganos. Já a morte é por si o grande desengano.
Xica Antunes
Filósofa
Estado de Minas: 26/08/2014
Vida constrói-se e
desconstrói-se pela arte do homem e pela força do que a ele escapa.
Estamos fadados nós, humanos, ao tino da vida e ao desatino da morte.
As moiras não são apenas figuras distantes da mitologia: sua simbologia
atravessa, sem pedir licença, os umbrais da porta de casa. O fio da
vida é tecido e a sua extensão tem no instinto o zelo e o apego do ser
vivente, mas a terceira parca corta sua linha e esconde o novelo.
Não há explicação completa da vida. Há explicações, muitas, mosaicadas. Não há explicação qualquer da morte. Há palavras tantas sobre a vida. Silêncio é o que impõe a morte.
A morte desavisada — aquela que se dá no repente, sem aviso ao corpo e ao entorno humano, transformado pela mão de parca — põe o homem no inexorável confronto de sua ilusão de imorribilidade (há formas de ser imortal, sem jeito achado de ser imorrível) com a dor de saber-se finito.
Vida que se estende para além do vivente, aquele que viveu por si e por outros — caso de políticos, artistas, pensadores e aqueles todos que fazem diferença para o conjunto humano — tem traçado de morte diversa. O velório figura um pouco o funeral de cada um dos que um dia também passarão.
O acabado mas não terminado — e a morte nunca deixa que tudo se tenha terminado, por ser a vida um sempre a fazer — escancara-se mais bruto quando trágica a passagem. Explode-se o sonho, queima-se o planejado, desfaz-se o previsto.
A morte não pede passagem. Nem perde sua passagem. Atravessa o passo humano como quem dá um calço no andante: fim de linha, esgotamento do caminho.
Vai-se o construtor de uma obra humana. Fica a construção por continuar. Na criação das catedrais, sabiam os mestres construtores medievais que seu fazer era etapa iniciada por outro e a ser sempre seguida por outros.
Catedral é obra que nunca se dá por terminada. Como a fé, que nela se expõe, um construir permanente, um sentir e fazer inacabados. Como a vida experimentada no e para o público. A obra na pólis não tem etapa vencida, mas projetos a vencer.
Planos, valores e até coisas perduram mais que as gentes. Alguns deles se acabam. As pessoas sucedem-se, para que planos, valores e coisas se realizem.
A vida pode ser uma glória ou um insucesso. A morte é sempre o fracasso da ilusão de imortalidade que teimamos em deter. Até para que os nossos limites tenham tempo de se estender e nossa felicidade possa ser alcançada. Enganos que precisam ser sonhados. Afinal, os sonhos nunca são enganos. Já a morte é por si o grande desengano.
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