Paloma Oliveto
Estado de Minas: 26/08/2014
Desde a década de
1990, um procedimento pouco invasivo é utilizado em todo o mundo para
prevenir infartos em pacientes de doença arterial coronariana. O stent,
uma pequena prótese metálica, “desentope” os vasos responsáveis por
levar oxigênio e nutrientes ao músculo do coração e evita que eles sejam
novamente obstruídos pelas placas de gordura. Contudo, estudos mostram
que, para 30% da população, a técnica não é eficaz. Pessoas com
diabetes, vasos muito finos e lesões extensas estão impossibilitadas de
receber o implante pois, nesses casos, a chance de o problema voltar em
seis meses é alta.
Para elas, a opção é o stent farmacológico, que se difere do tradicional por liberar continuamente um medicamento capaz de contornar esse risco. “A principal diferença e vantagem dos stents farmacológicos é que eles são significativamente mais eficazes que os convencionais em diminuir a reestenose (retorno da obstrução) em uma grande quantidade de situações clínicas e anatômicas”, afirma o cardiologista Paulo Motta, do Incor Taguatinga.
No Brasil, esse implante foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2002 e, desde então, está disponível apenas na rede privada. Agora, ele foi incluído no Sistema Único de Saúde (SUS) e a previsão é de que comece a ser ofertado nos hospitais públicos no início do ano que vem. De acordo com Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, a expectativa é beneficiar cerca de 40 mil pessoas ao ano. A média anual de implantes convencionais pelo SUS é de 160 mil.
Paulo Motta explica que as obstruções nas artérias coronárias são consequência de depósitos de gordura que surgem devido principalmente a fatores ambientais. “As placas se formam quando a pessoa não cuida dos hábitos alimentares, não cessa o tabagismo e é sedentária, além da associação com outras doenças, por exemplo, o diabetes mellitus”, diz. Quando o exame coronariografia, um cateterismo feito por meio de punção arterial, indica que mais de 70% do vaso sanguíneo está ocupado pela gordura, é necessário implantar o stent.
O médico José Eduardo Fogolin, coordenador nacional de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, conta que essa é uma das estratégias de prevenção do infarto, um problema que afeta 300 mil brasileiros ao ano e que causou mais de 84 mil óbitos em 2012. No país e no restante do mundo, doenças cardiovasculares são a principal causa de morte. “Para evitar que a artéria fique obstruída, o tratamento se dá ou pela cirurgia, popularmente conhecida como ponte de safena, ou pela angioplastia, também chamada de cateterismo”, diz Fogolin. Durante o procedimento, o cirurgião insere um balão no vaso lesionado através do cateter. Esse balão é inflado, alargando a obstrução. “Então, coloca-se um dispositivo metálico, o stent, que evita que a artéria volte a se fechar. Ele pode ser o convencional ou farmacológico”, conta.
O segundo é indicado para pacientes com vasos sanguíneos muito finos (calibre menor que 2,75mm) e lesões extensas (maiores que 20mm), características presentes em diabéticos. As artérias desses pacientes costumam ser mais estreitas e calcificadas, o que exige um tratamento diferenciado. “O stent farmacológico tem a capacidade de liberar um remédio e essa medicação faz com que não aconteça a cicatrização de forma excessiva; portanto, diminuindo de forma significativa a reestenose”, diz Paulo Motta. Já para quem tem vasos calibrosos, estudos indicam que esse stent é contraindicado, pois ele pode estimular a formação de trombos.
O SUS vai ofertar a prótese farmacológica para diabéticos com vasos finos e lesões extensas. Os demais continuarão recebendo o implante convencional. “A literatura recente indica que são esses casos que justificam o stent farmacológico, pois é quando se reduz a taxa de reinserção”, afirma Carlos Gadelha. Ele comemora a negociação do ministério, que permitiu a inclusão do stent farmacológico a R$ 2.034, mesmo preço que o convencional. A redução foi de 20%.
Críticas A demanda pela inclusão do stent farmacológico no SUS foi da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, que, desde 2005, pleiteia a ampliação do acesso a esse procedimento. Em março passado, o Ministério da Saúde abriu a consulta pública para avaliar a proposta enviada à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec). A inclusão do stent, contudo, não agradou completamente à SBHCI, de acordo com cardiologista Marcelo Queiroga, diretor de Avaliação de Tecnologias em Saúde da entidade médica. “O governo vem protelando essa incorporação. No fim de 2012, a sociedade fez o pleito e, agora, o pedido foi parcialmente acatado”, lamenta.
Segundo Queiroga, estudos demonstram que o procedimento é eficaz e seguro para os demais portadores de doença arterial crônica. “As evidências de maiores benefícios não é para diabéticos. Não é a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista que diz isso, são as sociedades médicas europeias, americanas e do Canadá que fizeram essa avaliação. Por que no Brasil é diferente?”, questiona.
Na proposta enviada à Conitec, a entidade apresentou uma revisão e uma meta-análise de estudos científicos randomizados que indicaram que pacientes diabéticos e não diabéticos têm menor taxa de reintervenção com o stent farmacológico. A avaliação da comissão, contudo, é que os dados sobre benefícios para pessoas que não têm vasos de menor calibre nem lesões extensas são insuficientes. “Lamento que, depois de mais de uma década, quando a incorporação do stent farmacológico é aprovada, aprova-se pela metade”, diz Queiroga.
Aspirina evita coágulo sanguíneo
Baixas doses de aspirina podem reduzir o risco de recorrência de coágulos sanguíneos, representando uma opção de tratamento para pacientes que não podem tomar drogas anticoagulantes durante muito tempo. A afirmação é de cientistas que publicaram um artigo na edição de ontem da revista Circulation, da Academia Americana do Coração. Há duas semanas, outra pesquisa apontou um potencial terapêutico do ácido acetilsalicílico para além de sua vocação analgésica original: segundo pesquisadores da Universidade Queen Mary, em Londres, tomar um comprimido por dia reduz os riscos de desenvolver câncer.
“O estudo fornece evidências claras e consistentes de que o remédio, em baixa dosagem, pode ajudar a prevenir eventos cardiovasculares em pacientes que estão em risco por ter sofrido de coágulos anteriormente”, disse John Simes, da Universidade de Sydney.
Simes ressaltou que medicamentos anticoagulantes tradicionais ou inibidores de trombina de última geração têm mais eficácia na redução de problemas circulatórios e cardiopulmonares. “Mas a aspirina representa uma opção de tratamento útil para pacientes que não são candidatos a essas drogas devido ao uso ou ao risco aumentado de sangramento associado aos anticoagulantes.”
O artigo científico baseia-se na análise combinada de dois estudos independentes similares que envolveram 1.224 pacientes. Ao longo de dois anos, aqueles que receberam 100mg de aspirina por dia tiveram risco reduzido em até 42%. Houve diminuição de tromboembolismo (obstrução de um vaso por um coágulo ), da trombose de veia profunda (formação do coágulo em veias profundas, predominantemente da perna), embolismo pulmonar (coágulo afetando as artérias que fornecem sangue para os pulmões), infarto do miocárdio, derrame e morte por causas cardiovasculares.
A maior parte das pessoas que teve um coágulo de veia profunda ou já sofreu embolismo têm de fazer um tratamento à base de anticoagulantes por pelo menos seis meses. Contudo, tomar esses medicamentos por longo prazo é caro e inconveniente, sendo necessários exames de sangue regulares para ajuste de dosagem. Além disso, há um risco elevado de hemorragia.
Para elas, a opção é o stent farmacológico, que se difere do tradicional por liberar continuamente um medicamento capaz de contornar esse risco. “A principal diferença e vantagem dos stents farmacológicos é que eles são significativamente mais eficazes que os convencionais em diminuir a reestenose (retorno da obstrução) em uma grande quantidade de situações clínicas e anatômicas”, afirma o cardiologista Paulo Motta, do Incor Taguatinga.
No Brasil, esse implante foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2002 e, desde então, está disponível apenas na rede privada. Agora, ele foi incluído no Sistema Único de Saúde (SUS) e a previsão é de que comece a ser ofertado nos hospitais públicos no início do ano que vem. De acordo com Carlos Gadelha, secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, a expectativa é beneficiar cerca de 40 mil pessoas ao ano. A média anual de implantes convencionais pelo SUS é de 160 mil.
Paulo Motta explica que as obstruções nas artérias coronárias são consequência de depósitos de gordura que surgem devido principalmente a fatores ambientais. “As placas se formam quando a pessoa não cuida dos hábitos alimentares, não cessa o tabagismo e é sedentária, além da associação com outras doenças, por exemplo, o diabetes mellitus”, diz. Quando o exame coronariografia, um cateterismo feito por meio de punção arterial, indica que mais de 70% do vaso sanguíneo está ocupado pela gordura, é necessário implantar o stent.
O médico José Eduardo Fogolin, coordenador nacional de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, conta que essa é uma das estratégias de prevenção do infarto, um problema que afeta 300 mil brasileiros ao ano e que causou mais de 84 mil óbitos em 2012. No país e no restante do mundo, doenças cardiovasculares são a principal causa de morte. “Para evitar que a artéria fique obstruída, o tratamento se dá ou pela cirurgia, popularmente conhecida como ponte de safena, ou pela angioplastia, também chamada de cateterismo”, diz Fogolin. Durante o procedimento, o cirurgião insere um balão no vaso lesionado através do cateter. Esse balão é inflado, alargando a obstrução. “Então, coloca-se um dispositivo metálico, o stent, que evita que a artéria volte a se fechar. Ele pode ser o convencional ou farmacológico”, conta.
O segundo é indicado para pacientes com vasos sanguíneos muito finos (calibre menor que 2,75mm) e lesões extensas (maiores que 20mm), características presentes em diabéticos. As artérias desses pacientes costumam ser mais estreitas e calcificadas, o que exige um tratamento diferenciado. “O stent farmacológico tem a capacidade de liberar um remédio e essa medicação faz com que não aconteça a cicatrização de forma excessiva; portanto, diminuindo de forma significativa a reestenose”, diz Paulo Motta. Já para quem tem vasos calibrosos, estudos indicam que esse stent é contraindicado, pois ele pode estimular a formação de trombos.
O SUS vai ofertar a prótese farmacológica para diabéticos com vasos finos e lesões extensas. Os demais continuarão recebendo o implante convencional. “A literatura recente indica que são esses casos que justificam o stent farmacológico, pois é quando se reduz a taxa de reinserção”, afirma Carlos Gadelha. Ele comemora a negociação do ministério, que permitiu a inclusão do stent farmacológico a R$ 2.034, mesmo preço que o convencional. A redução foi de 20%.
Críticas A demanda pela inclusão do stent farmacológico no SUS foi da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, que, desde 2005, pleiteia a ampliação do acesso a esse procedimento. Em março passado, o Ministério da Saúde abriu a consulta pública para avaliar a proposta enviada à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec). A inclusão do stent, contudo, não agradou completamente à SBHCI, de acordo com cardiologista Marcelo Queiroga, diretor de Avaliação de Tecnologias em Saúde da entidade médica. “O governo vem protelando essa incorporação. No fim de 2012, a sociedade fez o pleito e, agora, o pedido foi parcialmente acatado”, lamenta.
Segundo Queiroga, estudos demonstram que o procedimento é eficaz e seguro para os demais portadores de doença arterial crônica. “As evidências de maiores benefícios não é para diabéticos. Não é a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista que diz isso, são as sociedades médicas europeias, americanas e do Canadá que fizeram essa avaliação. Por que no Brasil é diferente?”, questiona.
Na proposta enviada à Conitec, a entidade apresentou uma revisão e uma meta-análise de estudos científicos randomizados que indicaram que pacientes diabéticos e não diabéticos têm menor taxa de reintervenção com o stent farmacológico. A avaliação da comissão, contudo, é que os dados sobre benefícios para pessoas que não têm vasos de menor calibre nem lesões extensas são insuficientes. “Lamento que, depois de mais de uma década, quando a incorporação do stent farmacológico é aprovada, aprova-se pela metade”, diz Queiroga.
Aspirina evita coágulo sanguíneo
Baixas doses de aspirina podem reduzir o risco de recorrência de coágulos sanguíneos, representando uma opção de tratamento para pacientes que não podem tomar drogas anticoagulantes durante muito tempo. A afirmação é de cientistas que publicaram um artigo na edição de ontem da revista Circulation, da Academia Americana do Coração. Há duas semanas, outra pesquisa apontou um potencial terapêutico do ácido acetilsalicílico para além de sua vocação analgésica original: segundo pesquisadores da Universidade Queen Mary, em Londres, tomar um comprimido por dia reduz os riscos de desenvolver câncer.
“O estudo fornece evidências claras e consistentes de que o remédio, em baixa dosagem, pode ajudar a prevenir eventos cardiovasculares em pacientes que estão em risco por ter sofrido de coágulos anteriormente”, disse John Simes, da Universidade de Sydney.
Simes ressaltou que medicamentos anticoagulantes tradicionais ou inibidores de trombina de última geração têm mais eficácia na redução de problemas circulatórios e cardiopulmonares. “Mas a aspirina representa uma opção de tratamento útil para pacientes que não são candidatos a essas drogas devido ao uso ou ao risco aumentado de sangramento associado aos anticoagulantes.”
O artigo científico baseia-se na análise combinada de dois estudos independentes similares que envolveram 1.224 pacientes. Ao longo de dois anos, aqueles que receberam 100mg de aspirina por dia tiveram risco reduzido em até 42%. Houve diminuição de tromboembolismo (obstrução de um vaso por um coágulo ), da trombose de veia profunda (formação do coágulo em veias profundas, predominantemente da perna), embolismo pulmonar (coágulo afetando as artérias que fornecem sangue para os pulmões), infarto do miocárdio, derrame e morte por causas cardiovasculares.
A maior parte das pessoas que teve um coágulo de veia profunda ou já sofreu embolismo têm de fazer um tratamento à base de anticoagulantes por pelo menos seis meses. Contudo, tomar esses medicamentos por longo prazo é caro e inconveniente, sendo necessários exames de sangue regulares para ajuste de dosagem. Além disso, há um risco elevado de hemorragia.
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