Para evitar o suicídio
Apesar de delicado, o assunto precisa ser tratado com atenção
Rafael Ribeiro Santos
Médico psiquiatra do corpo clínico do Biocor Instituto, mestre em neurociências pela UFMG
Estado de Minas: 26/08/2014
Suicídio é definido
pela Organização Mundial de Saúde como ato realizado por uma pessoa com
ciência e expectativa de resultados fatais. Trata-se de tema que nos
afeta profundamente. A perplexidade e a incompreensão acerca de atos
tão extremos tentados ou cometidos por familiares, amigos ou, mesmo,
celebridades é inevitável. Torna-se patente o quão desafiador é abordar
e prevenir o suicídio. Apesar do tabu que circunda o assunto, mortes
por suicídio não são infrequentes, tornando a questão bastante
relevante em saúde pública. Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas
cometem suicídio anualmente no mundo, sendo a décima causa de morte e
responsável por 1,5% de todas as mortes. Taxas de suicídio variam de
acordo com a idade, raça, sexo, religião, cultura ou país. No Brasil,
estima-se que aproximadamente 24 pessoas cometem suicídio diariamente,
segundo o Ministério da Saúde. Fatores de risco sociodemográficos
associados são: sexo masculino, idade entre 14-40 anos ou acima dos 65,
ser separado, solteiro ou viúvo, extremos socioeconômicos, áreas
urbanas, desemprego ou aposentadoria e isolamento social. Outros
fatores relevantes são características de personalidade (impulsividade,
labilidade afetiva, rigidez); predisposição genética, eventos pré e
perinatais; história familiar de suicídio; transtornos do humor ou
alcoolismo; instabilidade familiar; abuso sexual ou outros eventos
traumáticos na infância. Aproximadamente 90% dos êxitos letais são
perpetrados por pacientes com transtornos mentais. Depressão,
transtorno bipolar, esquizofrenia e dependência química são as
patologias psiquiátricas com as maiores taxas de incidências de
autoextermínio, sendo comum a presença de comorbidades psiquiátricas. É
relevante ainda a presença de doenças crônicas incapacitantes ou
terminais, crises psicossociais em curso, disponibilidade de meios,
exposição prévia a modelos, suporte sociofamiliar precário, desesperança
e principalmente, histórico de tentativas prévias. É desejável
delinear epidemiologicamente tal agravo para estratégias populacionais
de prevenção, mas abordar diretamente o indivíduo em risco de
autoextermínio revela-se igualmente importante. Alterações
comportamentais podem sinalizar sofrimento psíquico, principalmente se
há relatos de ideias de morte ou até claramente suicidas. Conversar
abertamente, perguntando sobre ideias suicidas e oferecendo apoio
emocional de forma confortante e sem julgamentos, permite avaliação
inicial sobre a necessidade de atenção psicossocial imediata e reais
intenções de suicídio.
Atendimentos psicológicos e psiquiátricos de urgência permitem quantificar os riscos e orientar pacientes e acompanhantes sobre a conduta e tratamento adequados (necessidade de internação, uso de psicofármacos, psicoterapia etc.). Diagnóstico e tratamento psiquiátrico precoce minimizam a ocorrência de tais atos e mortes. O preconceito que envolve pensamentos e tentativas suicidas deve ser combatido para que os indivíduos em sofrimento possam ser tratados de forma humanizada, retomando qualidade e apreço à vida. Se observadas as alterações comportamentais acima expostas é essencial buscar ajuda profissional, mantendo vigilância preventiva.
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