terça-feira, 12 de agosto de 2014

Incerteza econômica no ano eleitoral‏

Incerteza econômica no ano eleitoral 
 
Aquiles Leonardo Diniz
Vice-presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi)
Estado de Minas: 12/08/2014


O governo já admite mais um ano de crescimento pífio, arrecadação fraca e inflação em alta. No período, o Brasil deixou de arrecadar R$ 50,7 bilhões por conta da desoneração para promover o crescimento econômico que não veio. O cenário, nada promissor, é de desaceleração com o recuo da atividade econômica, também resultado da alta da Selic em uma tentativa de conter a inflação. Para piorar, é grande a desconfiança por parte dos consumidores, empresários e investidores internacionais com a condução da política econômica, baseada em intervenções pontuais e equivocadas.

Não sejamos alarmistas, não estamos sujeitos a planos mirabolantes do passado, mas é evidente que o governo desviou da rota. Na minha modesta avaliação, em se tratando de economia, não dá para ficar reinventando a roda. Existem mecanismos avançados e práticas comprovadas que podem ser aplicados nos mais variados e possíveis cenários econômicos, guardando as devidas particularidades de cada lugar. Na dúvida, o melhor a fazer é seguir a cartilha. O que não se pode é pôr em risco a economia de um país com a adoção de medidas pouco assertivas e experimentais.

Foi assim com a equipe econômica do governo Dilma. Diferentemente dos seus antecessores Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, o tripé que consistia em metas de inflação, superávit primário e taxa de câmbio flutuante foi aos poucos colocado de lado em função da adoção de políticas monetárias maleáveis, com tentativas de expansão do crédito e câmbio desvalorizado. Se não bastasse, há o registro de um forte aumento da dívida do setor público. Da maneira como foi conduzida, deu errado e não adianta ficar culpando a crise europeia ou a China.

A indústria brasileira estagnou, não caíram os preços dos produtos sem mecanismo de controle do governo e a inflação está em alta. Mesmo com todos os incentivos, o Produto Interno Bruto (PIB) declinou. A situação só não foi pior devido ao setor de serviços e às atividades agropecuárias, que continuaram crescendo e empregando. Um quadro que não deve se sustentar por muito tempo, uma vez que o mercado de trabalho vem dando sinais de exaustão, sem a geração de novos empregos capazes de absorver a mão de obra disponível. Segmentos como o da construção civil, montadoras, de autopeças e transportes mostram queda no nível de atividade e no número de empregos. São dados preocupantes.

A trajetória escolhida não alcançou os resultados desejados e as decisões de ajuste foram tardias. Semelhante ao jogo Brasil x Alemanha, o governo federal subestimou o adversário, não conseguiu reagir a tempo, comprometendo a agenda financeira de investimento, sucumbindo à desaceleração da economia. Num trocadilho com a atuação da própria Seleção Brasileira, um verdadeiro apagão econômico. Faltou, acima de tudo, planejamento estratégico, agravado pelo excesso de confiança.

O que o setor produtivo já indicava vem se confirmando nas recentes pesquisas de avaliação do governo Dilma, que registram índices crescentes de rejeição. Isso nada mais é do que a demonstração, por parte da população, da insatisfação com a atual política econômica. No complexo jogo de cena que o período eleitoral proporciona, misto de realidade e ilusão, o governo tentará passar a ideia de um quadro de aparente normalidade, sustentado principalmente pelo baixo índice de desemprego, enquanto os opositores farão de tudo para evidenciar o frágil modelo vigente. 

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