quarta-feira, 6 de agosto de 2014

JK e a revolução sobre rodas - Mario Garnero

JK e a revolução sobre rodas
Mario Garnero
Estado de Minas: 06/08/2014


Tive o privilégio de ouvir do presidente Juscelino Kubitschek e do ministro Lúcio Meira, que criaram a indústria automobilística, uma fascinante história daquilo que representou o grande salto para a frente no desenvolvimento nacional. Histórias que demonstram como JK, ao criar os grupos de trabalho encarregados de cumprir as metas do seu plano, driblou a burocracia nacional, já desde o império consolidada, e encontrou homens do caráter e competência do almirante Lúcio Meira para chefiar o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (Geia).

No planejamento de sua implantação, o caminhão seria o primeiro e primordial instrumento da penetração para as estradas que seriam abertas, ligando a futura capital Brasília a todos os mais remotos pontos do país. Depois viriam os automóveis e, por último, os tratores, tudo isso em quatro anos que, por fim, viram a caravana da integração nacional unir o país de ponta a ponta com carros e caminhões made in Brazil.

Dessa saga, da qual participaram todas as empresas que, na época, eram as maiores fabricantes mundiais de veículos, uma faltou. A Fiat, que, depois, se redimiria lançando o primeiro carro 100% movido a álcool, em julho de 1979. Houve antes um curioso episódio, na campanha presidencial JK 65, que eu coordenava em São Paulo. Organizei uma visita do presidente`a Fiat, em Turim.

Recebidos pelo presidente Vittorio Valetta, que havia reconstruído a empresa no pós-guerra, e por Gianni Agnelli, só então membro da diretoria, durante o almoço JK perguntou: “Presidente Valetta, por que apenas a Fiat, entre as mais importantes produtoras de veículos do mundo, não atendeu ao meu chamado para instalar-se no Brasil?”. E Valleta respondeu: “Presidente, a colônia italiana na Argentina era muito mais influente e forte que a brasileira e nos empurrou para lá”.

E se arrependimento matasse, anos depois Gianni Agnelli, já na condição de presidente da empresa, corrigiu o tiro investindo mais de um US$ 1 bilhão na construção de uma fábrica de veículos que se instalou, pela força política dos mineiros e com participação societária do governo estadual, na cidade de Betim. A fábrica da Fiat foi inaugurada em julho de 1976 e seu primeiro produto foi o compacto Fiat 147.

Coube a mim, em 1983, negociar com o então governador Tancredo Neves o acordo final que, permitindo a recompra das ações do governo pela Fiat contra o pagamento de créditos fiscais acumulados, poôde dar asas livres para a sua expansão vitoriosa no país, líder que é, atualmente, do concorrido mercado automobilístico brasileiro.

Lúcio Meira foi, por 10 anos, meu companheiro de diretoria no Grupo Monteiro Aranha, no Rio de Janeiro. Amável, discreto, decisivo e grande trabalhador, foi o primeiro chefe do Geia e o absoluto responsável pelo êxito da meta estabelecida por JK de dotar o país continente de meios de transportes modernos e eficientes.

Vencer a batalha de trazer as multinacionais para um país ainda carente de estradas, de energia, de aço, de mão de obra qualificada, de processos de produção e gestão foi um grande desafio. Desde a sua criação, por decreto, em junho de 1956, até o final do governo JK, em 1960, mais de 300 mil carros, camimhões e tratores foram produzidos a partir de um sonho tornado realidade.

Desse mesmo sonho desfrutei quando, indicado por Olavo de Souza Aranha e Joaquim Monteiro de Carvalho, que se associaram ao sonho desde o início, detendo participação societária de 20% do capital inicial da Volkwagen do Brasil, fui indicado, em 1970, para assumir a diretoria de relações industriais da VWB e, depois, por indicação de Rudolf Leiding, então presidente no Brasil e mais tarde presidente mundial da VW, assumi a presidência da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). E daí nasceu o carro a álcool.

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