Zero Hora 06/08/2014
Tenho acompanhado o debate em torno do novo plano diretor de Torres,
cidade onde passei os melhores momentos da infância e adolescência, e
que se mantém viva na minha memória afetiva. Até 2006, tinha apartamento
na cidade, e ainda sonho em ter outro refúgio onde possa estar perto do
mar, porém não mais lá.
Ao ler sobre a possível autorização para construir prédios de até 10
andares na orla, minha primeira reação foi ser contra. Concordei com
quem é desfavorável à mudança da lei: haverá menos tempo de sol batendo
na praia, descaracterização do cenário, menos ventilação natural etc.
Mas, depois, com desânimo, refleti: a esta altura, que diferença faz?
Já viajei bastante e posso dizer que, em termos de belezas naturais,
Torres é páreo para vários outros cartões-postais do planeta. As
formações rochosas que se estendem da praia da Cal até a praia da
Guarita, e as dunas logo atrás, produzem um efeito dramático
espetacular. O mar pode não ser cristalino, mas compõe a cena
dignamente. Seria um dos pontos turísticos mais valorizados do Brasil,
não fosse todo o resto.
E o resto são ruas esburacas e desniveladas, cômoros que se amontoam
calçadão adentro, pouca arborização, nenhum cinema, vida noturna
precária, comércio idem (estou falando como turista, não como moradora,
pois imagino que os moradores tenham reivindicações mais urgentes).
Ainda na visão de turista: surpreende que sejam os donos de bares e
restaurantes os maiores apoiadores da urbanização vertical a fim de
alavancarem seus negócios. Logo eles, que, salvo exceções, não investem
em seus próprios estabelecimentos, ignorando questões como boa
iluminação, boa música, aconchego, fachada decente. Torres parece ter
esquecido noções básicas de bom gosto. Quer ser grande sem atentar para o
quanto se tornou feia, desprezando sua vocação para ser um hot spot.
Cidades feias não atraem visitantes, não geram comentários positivos,
não viram destino de lua de mel.
Sei que não adianta ser nostálgica e querer que Torres volte a ser
aquela charmosa praia familiar onde aconteciam os campeonatos de surf,
as festas na sede da SAPT, os piqueniques em Itapeva, os jogos de vôlei
nos amplos quintais das casas dos veranistas. Foi outro tempo, e não se
pode deter o desenvolvimento, mas pode-se tentar preservar o espírito do
lugar, crescendo ordenadamente e com foco: Torres não é um subúrbio
qualquer, e sim um local diferenciado pelo seu recorte geográfico. Isso
não deveria ter sido desconsiderado.
Mas foi. Torres perdeu o timing, cresceu demais sem elaborar um
projeto para honrar a cidade privilegiada que era. Agora é difícil
recuperar o potencial desperdiçado. Já que não vingou como merecia,
talvez seja mesmo hora de um plano B – vá que funcione imitar Camboriú.
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