Premiados em
Gramado, o documentário A estrada 47, a ficção A despedida e o
infantojuvenil O segredo dos diamantes são longas de grande apelo
afetivo
Gracie Santos
Estado de Minas: 18/08/2014Vicente Ferraz (de camisa branca) festeja com a equipe o Kikito de melhor filme para A estrada 47 |
“Quem descobre o tesouro de um filme é o público”, afirma o diretor mineiro Helvécio Ratton, premiado com a aventura infantojuvenil O segredo dos diamantes pelo júri popular do 42º Festival de Cinema de Gramado, na noite de sábado. O Kikito de melhor filme ficou com A estrada 47, de Vicente Ferraz, sobre pracinhas brasileiros na Itália durante a Segunda Guerra, vencedor ainda do prêmio de melhor desenho de som.
Satisfeito por ter conquistado o troféu “em meio a uma safra tão boa”, Ratton acredita que o diferencial de seu filme seja exatamente o fato de ele ser dirigido ao público que o escolheu. “Normalmente, as pessoas não assumem isso. Nós buscamos o espectador e essa conquista dá uma pista de que estamos no caminho. Acho que recebemos o prêmio certo, pois a nossa obra tem o objetivo de emocionar”, afirma o mineiro.
Dedicado a um nicho de mercado quase nunca valorizado nas produções nacionais, o do público infantojuvenil, O segredo dos diamantes, rodado no Serro, na Região Central de Minas Gerais, chega às salas de exibição em dezembro. Para o cineasta, a premiação em Gramado acende mais uma luzinha sobre a obra e lhe dá maior visibilidade. “O público dos festivais é propagador”, aposta. Em 1987, o mineiro ganhou o mesmo prêmio em Gramado com A dança dos bonecos.
Com A estrada 47, o carioca Vicente Ferraz também comemora o Kikito pela segunda vez. Em 2004, com o badalado Soy Cuba, o mamute siberiano – sobre a produção do filme cubano-soviético Soy Cuba, do início dos anos 1960, dirigido pelo russo Mikhail Kalatozov –, ele faturou o prêmio de melhor documentário e melhor filme da crítica no festival gaúcho. O longa venceu também o Festival de Guadalajara (México) e foi o representante brasileiro no Festival de Sundance, em 2005.
Documentário filmado na Itália com forte tempero brasileiro, A estrada 47 conta a história de uma esquadra de caçadores de minas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em meio a um ataque de pânico. Desesperados, com frio e fome, os pracinhas têm de optar entre enfrentar a corte marcial ou encarar novamente o inimigo. “Só louco para aceitar entrar nessa história. E isso devo aos produtores. Mas, fora essa questão, tem a camaradagem, a participação desses atores maravilhosos, que se entregaram. Tudo o que faço só é possível com essa pessoa que, além de ser minha produtora, é minha esposa e o grande amor da minha vida: Isabel Martinez”, declarou Ferraz ao receber o prêmio.
Pela primeira vez, Gramado distribuiu prêmios em dinheiro, somando R$ 280 mil. Também pela primeira vez houve premiação latina. Os vencedores foram El lugar del hijo (melhor filme, roteiro e ator para Felipe Dieste); Las analfabetas (diretor, para Moisés Sepúlveda; atriz, dividido entre Paulina García e Valentina Muhr, e fotografia); e Esclavo de Dios (de Joel Novoa), melhor filme, segundo o júri popular.
O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton, foi premiado pelo júri popular |
Coleção de prêmios Depois de ter vencido em Gramado em 2012 com Colegas, Marcelo Galvão saiu da cerimônia como grande vencedor com A despedida. Faturou os prêmios de direção e fotografia, que dedica à equipe, à esposa e ao avô (“inspiração de tudo isso”): “Ele está lá em cima, adorando o fato de eu estar aqui recebendo esse prêmio por ele”.
A despedida levou os prêmios de melhor ator (Nelson Xavier) e atriz (Juliana Paes). O longa conta a história de Almirante (Nelson Xavier), homem de 92 anos que sente o fim se aproximar e decide se despedir de tudo e todos. Também se permite desfrutar daquele que pode ser seu último prazer: uma intensa noite de amor com Fátima (Juliana Paes), sua amante de 37 anos.
O prêmio especial do júri foi entregue a Os senhores da guerra, de Tabajara Ruas, e a Fernanda Montenegro, pelo papel em Infância, de Domingos Oliveira – o diretor, que não estava presente, ficou com o prêmio de roteiro, mesmo troféu conquistado por O primeiro dia de um ano qualquer, no ano passado.
A despedida, de Marcelo Galvão, levou Kikitos de diretor, ator, atriz e fotografia |
Saiba mais
O TROFÉU
É comum as pessoas pensarem ou se referirem ao Kikito de Ouro. Não procede. Para começar, o troféu, símbolo e prêmio máximo do tradicional Festival de Gramado, é feito de bronze. A estatueta foi criada inicialmente em madeira. A autora é a artesã Elisabeth Rosenfeld, alemã radicada no Brasil. Rosenfeld é também o nome por trás do Artesanato Gramadense. Ela inaugurou um teatrinho na cidade, promoveu exposições de arte e criou o Kikito para ser troféu da 1ª Feira Nacional de Artesanato, em 1972. A estatueta (com 33cm, em madeira) passou depois a ser troféu do Festival de Cinema de Gramado. A escultura simboliza o bom humor do povo da cidade.
Bastidores
A despedida – Com a terceira idade bem representada no festival, o ator Nelson Xavier se revela figura de ponta. Ele promove avassaladora comoção ao protagonizar via-crúcis de redentor afeto, numa narrativa em que um idoso, de bem com vida, faz engasgar, no adeus definitivo.
A estrada 47 – A excelência técnica está em todos os cantos, para um interiorizado drama de guerra capaz de se enamorar da gramática hollywoodiana; só que não: marcante tempero brasileiro se infiltra na trama de desgarrados pracinhas da FEB.
Infância – Se muitos associam o diretor Domingos Oliveira, um sentimental incorrigível, ao veloz humor de Woody Allen, é melhor rever conceitos: revolvendo o baú de memórias familiares, com a altiva Fernanda Montenegro na pele da avó, o diretor se mostra um Bergman dos trópicos.
(Ricardo Daehn)
VENCEDORES
Longas brasileiros
Melhor filme – A estrada 47, de Vicente Ferraz
Melhor diretor – Marcelo Galvão, por A despedida
Melhor filme (júri popular) – O segredo dos diamantes, de Helvécio Ratton
Melhor ator – Nelson Xavier (A despedida)
Melhor atriz – Juliana Paes (A despedida)
Outros prêmios: Fernanda Montenegro, prêmio especial do júri, por Infância;Os senhores da guerra, prêmio especial do júri; Infância, roteiro, montagem e ator coadjuvante para Paulo Betti; A despedida, fotografia; A luneta do tempo, direção de arte e melhor trilha musical, composta por Alceu Valença; Os senhores da guerra, melhor atriz coadjuvante para Andrea Buzato; e A estrada 47, melhor desenho de som.
Confira a lista dos vencedores em: www.festivaldegramado.net
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