terça-feira, 26 de março de 2013

Palco plural (Festival de Teatro de Curitiba)-Carolina Braga‏




Festival de Teatro de Curitiba começa amanhã com apresentação de peças brasileiras e internacionais. Minas Gerais participa com espetáculos na Mostra Oficial e no Fringe

Carolina Braga

Estado de Minas: 26/03/2013 

Os mineiros da Cia. Luna Lunera levam o espetáculo Prazer para  a Mostra Oficial do festival curitibano (Carlos Hauck/Divulgação)
Os mineiros da Cia. Luna Lunera levam o espetáculo Prazer para a Mostra Oficial do festival curitibano
Revelado nacionalmente em Curitiba, o Espanca! marca presença 
desta vez com a peça Líquido tátil (Guto Muniz/Divulgação)
Revelado nacionalmente em Curitiba, o Espanca! marca presença desta vez com a peça Líquido tátil

Não é segredo que o Festival de Teatro de Curitiba é o mais robusto realizado no país. Mesmo assim, o evento, que começa amanhã e se prolonga por 12 dias, costumava gerar controvérsia em relação à qualidade do que era apresentado em sua mostra paralela, o Fringe. Isso tem mudado nos últimos anos e Minas Gerais tem lá seus méritos nessa reformulação.

“O Fringe começou com sete espetáculos e organicamente chegou a 384. É obvio que alguém tem que organizar o caos”, diz Leandro Knopfholz, um dos diretores do festival. Foi daqui, precisamente do Galpão Cine Horto, que partiu a ideia da criação de pequenas mostras dentro da sempre disputada grade paralela de espetáculos em Curitiba. O exemplo tem sido seguido por outras regiões, como é o caso da Bahia, que agora também oferece um pacote de espetáculos locais.

Pelo terceiro ano consecutivo, companhias de Belo Horizonte partem em comitiva para o Sul do Brasil. Só a turma que sairá do Galpão Cine Horto terá 37 pessoas, entre atores, diretores e técnicos. Este ano, a mostra Grupos de BH – Teatro para ver de perto vai ocupar um novo palco. Além do Teatro Novelas Curitibanas, os mineiros também estarão no Espaço Cênico, a antiga sede do grupo ACT, capitaneado pelo ator Luís Mello. Ao todo, serão sete peças, que revelam a diversidade da atual produção do teatro de pesquisa feito em Belo Horizonte.

“Acho esse tipo de iniciativa muito importante, porque é o que ajuda a dar permanência maior ao espetáculo. É a partir dos festivais que você pode rodar um pouco mais e fazer com que a companhia alcance outra abrangência”, avalia o ator Alexandre Hugo. Parceiro de cena de Bruna Betito, eles levam 15 centímetros ao festival, peça que marca a estreia da dupla em palco profissional.

O coletivo Paisagens Poéticas, com A noite devora seus filhos e o grupo Mano a Mana, com Memórias em improviso, reforçam a turma estreante no Paraná. Além dos novatos, a seleção contempla trabalhos de veteranos, como Entre nebulosas e girassóis, da Cia Teatro Adulto; Por parte de pai, do Grupo Atrás do Pano; e A projetista, criação de Dudude.

“Um festival tem esse papel do encontro, do compartilhar as diferenças de apreensão da arte. É um lugar para se conhecer o trabalho do outro, travar relações, apresentar o que você tem pensado. O Festival de Curitiba já é mais velho, está na agenda do país e isso tem uma importância. Quantos artistas já foram lá? É como se fôssemos lá nos nutrir”, diz Dudude.

Frisson Antes de mostrar Prazer, a nova montagem, para os conterrâneos de BH, o Grupo Luna Lunera foi convidado a integrar a Mostra Oficial do evento curitibano. Para Odilon Esteves, ao longo de seus 22 anos, o festival conseguiu se firmar como uma vitrine importante. “Coincidentemente, alguns espetáculos muito especiais no teatro brasileiro recente, como Hysteria (Grupo XIX de Teatro de São Paulo) e Por Elise (Espanca!), ganharam projeção nacional a partir dali. Por isso tem um frisson”, explica.

“A curadoria de um festival imprime um pensamento sobre teatro. De modo geral, esses eventos se preocupam em mostrar a produção teatral relevante do nosso tempo. Pressupõe uma atualidade em relação à linguagem, à pesquisa”, analisa Grace Passô. A dramaturga foi sensação do Fringe na edição de 2005 com Por Elise e, há oito anos, a companhia é convidada a participar da Mostra Oficial.

Este ano, além de estar em cena com Gustavo Bones e Marcelo Castro em O líquido tátil, montagem dirigida pelo argentino Daniel Veronese, Grace mostrará sua faceta de diretora e dramaturga com Os bem intencionados, do Grupo Lume, de Campinas, na Mostra Oficial; e, no Fringe, com Os ancestrais, do Grupo Teatro Invertido.


Renovar é palavra de ordem

Carolina Braga

 (Censura Livre/Divulgação)
Realizado desde 1992, o Festival de Teatro de Curitiba tem formato mais que sedimentado. Como lembra Leandro Knopfholz, já que o lema é “se questionar sempre”, a edição deste ano apresenta algumas novidades. A principal delas – e talvez a mais arriscada – é a interferência direta da equipe na produção de algumas peças.

“O festival percebeu que também tem a função de viabilizar e propor. Se queremos ser uma vitrine, quando propomos a criação de espetáculos queremos algo diferente. Estamos interferindo de outra maneira”, compara o organizador. Da grade com 32 montagens na Mostra Oficial, três são fruto desse esquema: Cine Monstro versão 1.0, do encenador carioca Enrique Diaz; Parlapatões revistam Angeli, dos Parlapatões; e a coprodução internacional Homem vertente, com os argentinos da Cia Ojalá e Parnaxx.

Além disso, o Festival de Teatro de Curitiba continua de olho no repertório de grupos nacionais que mantêm produção frequente. Nessa seara, além dos mineiros Espanca! e Cia Luna Lunera, estarão em cartaz novidades da cena de grupo como do A marca d’água, do Armazém (RJ); Ficção,  da Cia Hiato (SP); Hamlet, da Cia Clowns de Shakespeare (RN); e Esta criança, da Cia Brasileira (PR). “Nossa fila nunca anda. É a roda que aumenta. São companhias que vêm e criam vínculos”, diz o diretor.

Segundo Leandro, o festival continua com a proposta de fazer uma leitura do momento teatral brasileiro. E como no mundo as fronteiras estão cada vez menos definidas, os palcos de Curitiba pouco a pouco se tornam mais internacionais. Da Bélgica, por exemplo, vem Kiss and cry, com direção de Jaco van Dormael; da Coreia, Pansori Brecht UKCHUK-GA, com Ja Ram Lee; e da Escócia, o espetáculo de dança urbana In the dust.

Do interior


Não só os grupos de BH são atraídos pelo burburinho que o festival de Curitiba pode causar. Pelo menos quatro companhias do interior de Minas – de São Lourenço, Ipatinga, Ouro Preto e Juiz de Fora – apresentarão seus trabalhos por lá. “Vale a pena porque sempre tem uma crítica coesa para falar do nosso espetáculo”, avalia Cy Andrade, diretor da Cia Teatral Censura Livre. O grupo de São Lourenço apresentará Liquidificador: sarau literomusical.


Para o diretor do festival, Leandro Knopfholz,  Curitiba abre diálogo com o teatro mundial (Daniel Sorrentino/Divulgação)
Para o diretor do festival, Leandro Knopfholz, Curitiba abre diálogo com o teatro mundial

MINAS EM CURITIBA

>>  No Fringe
A projetista, de Dudude; Entre nebulosas e girassóis, Companhia Teatro Adulto; 15 centímetros, Cia. 15 de Teatro; Por parte de pai, Grupo Atrás do Pano; A noite devora seus filhos, Paisagens Poéticas; Memórias em improviso, Mano a Nana; Os ancestrais, Grupo Teatro Invertido; Arquivo vivo, Grupo Farroupilha (Ipatinga); Pequenas coisas grandes, Grupo Residência (Ouro Preto); Liquidificador – sarau literomusical, Cia Teatral Censura Livre (São Lourenço); Antes da chuva, Cortejo Cia de Teatro (Juiz de Fora).

>>  Na Mostra Oficial

. Prazer, da Cia Luna Lunera
. O líquido tátil, do Espanca!


SAIBA MAIS

Fringe


A mostra paralela de Curitiba é inspirada na proposta do Fringe, o festival de teatro de Edimburgo, na Escócia. Considerado o maior evento do gênero no mundo, ele é realizado desde 1947 e se caracteriza pela ausência de curadoria. É um canal aberto para quem quiser mostrar sua criação. Na edição do ano passado, foram 2.695 espetáculos, de 47 países, ao longo de 25 dias. Este ano, o Fringe curitibano terá 376 produções.

22º Festival de Teatro de Curitiba

De amanhã a 7 de abril, em Curitiba, Paraná. Informações e programação completa: www.festivaldeteatro.com.br

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