Diante de uma candidatura favorita, o
maior número de candidatos da oposição tende mesmo a forçar o segundo
turno, mas isso nem sempre favorece a ruptura e a mudança
Estado de Minas: 26/03/2013
Se a eleição
presidencial já estava na agenda, ganhou uma espécie de concretude a
partir da divulgação das pesquisas Datafolha e Ibope, com os índices de
preferência conferidos a Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB),
Eduardo Campos (PSB ) e Marina Silva (Rede). As duas pesquisas indicaram
que, se a eleição fosse hoje, Dilma se reelegeria em primeiro turno.
Quando um candidato surge com tal favoritismo, é natural o raciocínio de
que o maior número de candidatos promoverá a pulverização dos votos,
favorecendo a ocorrência de segundo turno. Ontem, enquanto Dilma e
Campos fingiam muito mal que serão adversários, Aécio Neves, antes de se
reunir com os paulistas, saudava os concorrentes: “todas as
candidaturas são bem-vindas porque qualificam o debate eleitoral”. A
divisão, entretanto, nem sempre favorece a oposição.
Se Dilma
tem 58%, como apurou o Datafolha, e a soma das intenções de voto em
Aécio (10%), Marina (16%) e Campos (6%) é 32%, não é mesmo impossível
que os três juntos consigam crescer ao ponto de derrubá-la para baixo da
linha da maioria absoluta (50% mais 1 dos votos válidos). O eleitor
ainda está muito “frio” em relação à eleição, ainda bem distante no
tempo. E quando a campanha começar para valer, como já previu Dilma,
todos eles “vão fazer o diabo”. Jogos de retórica e golpes baixo já
deram sumiço em vantagens até maiores.
Supondo então que haja um
segundo turno, voltemos à pergunta: a pluralidade de candidatos
favorecerá a oposição? As eleições recentes nos ensinaram que isso
depende da disposição do eleitorado para a ruptura. Quando Lula se
elegeu em 2002, derrotando Serra no segundo turno, havia uma grande
disposição do eleitorado para romper com os oito anos de governos
tucanos. Quando faltava um ano para o pleito de 2006, apostar na
reeleição de Lula era bastante temerário. No entanto, ele se reelegeu
apesar do mensalão, das tentativas de responsabilizá-lo pelo acidente da
TAM e do escândalo dos aloprados. O eleitorado não queria ruptura.
Houve um segundo turno com Alckmin, cuja votação acabou encolhendo. Os
votos de Cristóvam (PDT) e Heloisa Helena (PSOL), ambos egressos do PT,
refluíram para Lula. Em 2010, deu-se o mesmo. Impôs-se o segundo turno
entre Dilma e Serra, mas os quase 20 milhões de votos de Marina Silva, o
fenômeno daquela eleição, refluíram para Dilma.
Em 2014, se não
surgir uma quarta candidatura de oposição à coalizão liderada por
PT-PMDB, teremos, na prática, o mesmo cenário: um candidato do PSDB
pregando efetivamente a ruptura com o modelo petista hegemônico desde
2002 e dois candidatos egressos do governismo. Campos, até agora, não se
diferenciou. Disse apenas que “é possível fazer mais”. Mais do mesmo? A
agenda de Marina se diferencia pela ênfase na questão ambiental e na
sustentabilidade. Mas, se nenhum deles chegar ao segundo turno, e sim
Aécio, para onde iriam seus eleitores?
Essas passagens da
história recente mostram que a divisão nem sempre soma para a oposição.
Mas, mesmo sabendo disso, todos querem – e precisam – acumular forças
para 2018. Ou para o momento em que o eleitorado estiver mesmo disposto a
impor mudanças no comando do país. Na democracia, não há hegemonia que
dure para sempre.
Pelos estados: SC
Com a
eleição presidencial antecipada, o jogo eleitoral nos estados também
acelerou-se. E como é nos estados que os palanques são montados,
testando a solidez das coligações, é hora de prestar atenção ao que
neles acontece. Já examinamos o quadro de Pernambuco na semana passada.
Vejamos hoje a situação de Santa Catarina. O estado é pequeno, mas nele a
presidente Dilma teve 800 mil votos a menos que o tucano Serra no
segundo turno de 2010. Essa situação pode se repetir caso ela não
consiga ali uma boa solução eleitoral. Aconteceu porque, como recorda o
senador Luiz Henrique, ele se elegeu governador em 2002 apoiando Lula.
Mas, empossado, o PT recusou-se a participar do governo e passou a lhe
fazer oposição na Assembleia Legislativa. Luiz Henrique buscou o apoio
do DEM, reelegeu-se em 2006 e, em 2010, apoiou o democrata Raimundo
Colombo para sucedê-lo no governo. Juntamente com o ex-senador Jorge
Bornhausen, Colombo migrou em 2012 para o PSD.
Luiz Henrique, que
já foi do chamado “grupo dos oito” senadores peemedebistas de oposição,
aproximou-se de Dilma recentemente, quando ela o convidou para
acompanhá-lo na viagem à Rússia. Como governador, ele implantou uma
unidade do Balé Bolshoi em seu estado. Na volta, recusou apelos para
disputar a Presidência do Senado com Renan Calheiros. Agora, está
conversando muito com os governistas, especialmente com o petista Jorge
Viana, sobre a montagem de um grande palanque pró-Dilma no estado. Como
ainda tem mais quatro anos no Senado, não precisa estar na chapa. Propõe
uma coligação PSD-PT-PMDB. Colombo disputaria a reeleição e a ministra
Ideli seria candidata ao Senado. O PMDB daria o vice. “Essa é a solução
ideal e meus companheiros do PT precisam entender isso”, diz Viana. E o
PSD também. Se, para estar no jogo, Serra tiver que mudar de partido,
pode aportar no PSD.
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