quarta-feira, 5 de junho de 2013

Eduardo Almeida Reis - Sexo oitentão‏

Se a evolução de nossa espécie nos deu dentes não foi para sugar, mas para mastigar os alimentos


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 05/06/2013 

Acreditei piamente na informação de Señor Abravanel, que o leitor conhece como Sílvio Santos: ‘Aos 82 anos, faço sexo quase todos os dias’. Quem não acreditou foi aqui o belo Windows 7 Ultimate, que passou a aspear embaixo da palavra, quando aspava normalmente em cima. Aspear ou aspar, minha gente: sinal gráfico, geralmente alceado, que delimita uma citação, título etc., ou usado para realçar certas palavras ou expressões; coma, vírgula dobrada.

Geralmente alceado? Pois sim. Em vez de posto no alto, erguido, suspenso, passou a vir embaixo e à frente da palavra que se quer aspar, mesmo depois de reinicializado o computador. Sai dessa, caro e preclaro leitor: serei obrigado a deixar de aspear per omnia saecula, saeculorum? “Epa, que o negócio consertou!” Melhor assim, porque só quero falar do sexo de Señor Abravanel.

Acreditei piamente por diversos motivos. Primeiro, porque acredito em muita coisa; depois, porque tive um tio-avô de 85 anos, casado em segundas núpcias com uma jovem mineira de 46 aninhos, que terminava a feijoada dos sábados e se metia no quarto com a mulher, voltando ao final da tarde vermelho feito um pimentão.

Seu filho médico, muito mais velho que a madrasta, perguntou à excelente belo-horizontina: “O pinto do papai ainda fica duro?”. E ela, no maior entusiasmo: “Um ferro!, Milton, um ferro!”. Não bastasse o exemplo familiar, andei lendo em algum lugar uma teoria psicanalítica, acho que do professor Jacques-Marie Émile Lacan (1901–1981), marido de Marie-Louise Blondi (de 1934 a 1941) e de Sylvia Bataille (de 1953 a 1981), suposto pai de Judith Miller, Laurence Bataille, Sibylle Lacan, Thibaut Lacan e Carolina Lacan.

Digo suposto pai, porque o afamanado psicanalista fazia tudo muito depressa e encerrava suas sessões em poucos minutos, ao contrário dos freudianos, cujas sessões duram cerca de 50 minutos por 10 de descanso, porque mesmo os melhores psicanalistas vão aos banheiros. Pois muito bem: Lacan teria dito que não existem relações sexuais (voltou a síndrome das aspas embaixo) e que as pessoas se relacionam consigo mesmas. Considera\ndo que Sílvio Santos se ama de montão e a mancheias, vai passar dos 200 anos fazendo amor quase todos os dias. E o philosopho para por aqui, mais que encucado com o aspear do Windows 7 Ultimate.


Do latim masticare

 A exemplo dos caros e preclaros leitores, acompanho na tevê as entrevistas de endocrinologistas, cardiologistas e outros craques nas diversas especialidades médicas. Sabem muito, explicam tudo, mas se esquecem do principal, que fica por minha conta: a importância da mastigação. Sim, porque o sujeito não precisa passar pela porta de uma escola de medicina para ter bom senso. O julgamento correto e equilibrado, a capacidade ou o poder de distinguir o verdadeiro do falso, o bom do mau, o bem do mal, sempre caracterizaram vosso philosopho.

Vejamos: se a evolução de nossa espécie nos deu dentes não foi para sugar, mas para mastigar os alimentos. Mastigação que é importantíssima, pasme o leitor, até para emagrecer. Elementar, meu caro Watson: a sensação de saciedade é relacionada com o tempo de mastigação. Se você engole, suga, chupa os alimentos às pressas, come muito mais antes de ficar saciado.

Ao engolir às pressas, esquecemo-nos de que não temos trituradores depois da garganta. Temos ácidos, sucos gástricos, bactérias e outros bichos, é certo, mas o alimento pouco mastigado quintuplica o trabalho do nosso organismo a partir da garganta: digestões monstruosas, gases tonitruantes, acidez e pirose, que todos chamam de azia.

Penitencio-me de não mastigar a décima parte do que deveria: à mesa, fico aflito para voltar ao computador depois do café e do charuto aceso. Problema que é meu, não do leitor, que deve almoçar e jantar com calma, mastigando bastante, mas muito mesmo, para melhorar quase tudo em sua vida. Sem se esquecer de uma lição basilar: não conversar enquanto estiver mastigando. É falta de educação.


O mundo é uma bola
5 de junho de 1805: Napoleão Bonaparte funda a Imperial Ordem da Coroa de Ferro, nome baseado na antiga Coroa de Ferro, antiga joia medieval que tinha no seu interior um anel de ferro forjado com cravos supostos de utilização para crucificar Jesus.

Em 1915, a Dinamarca altera sua constituição para permitir o voto feminino, providência que deve ter aumentando o número de divórcios. Explico: proibidas de votar, as senhoras dinamarquesas ficavam em casa preparando o almoço de seus maridos e senhores, enquanto os deuses do lar sufragavam seus candidatos nas urnas. Como pode um dinamarquês sério sobreviver sem risengrod, pebernodder, aebleskiver, flaeskesteg, brunede kartofler e gase steg? Gase steg é ganso assado. Dia desses, aprendi no Google a origem da expressão afogar o ganso: faz sentido, mas não posso contar aqui.

Em 1981, primeiro diagnóstico de caso de aids nos Estados Unidos. Em 1983, primeira transmissão da Rede Manchete de Televisão. Em 2009, Baciro Dabó, candidato à presidência de Guiné-Bissau, é morto em sua residência por forças de segurança. Antes de fazer política, Baciro era cantor e jornalista: que se pode esperar de um sujeito que deseja presidir Guiné-Bissau?

Hoje é o Dia da Ecologia.


Ruminanças
“A verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que se deve e nada além do que se deve.“ (La Rochefoucauld, 1613-1680)

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