sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Assassinato de jovens negros no Brasil Luiz Francisco Corrêa‏


Luiz Francisco Corrêa

Diretor da Via Comunicação, membro do Conselho Curador da Fundação de Pesquisa e Ensino da Cirurgia/diretor da Associação Palavra Bem Dita


Estado de Minas: 23/08/2013 04:00


Quando vemos cenas de tropas matando centenas de jovens no Egito, como ocorreu recentemente, ficamos indignados. E o repúdio que sentimos é forte e verdadeiro, pois vemos essas imagens transmitidas repetidamente pela grande mídia internacional. Entretanto, a violência que mata milhares de jovens no Brasil está aqui ao lado, em Belo Horizonte, e está instalada também país afora, sobretudo nos grandes centros urbanos. Estudo divulgado pelo Ministério da Justiça mostra que o homicídio é a principal causa de morte de jovens entre 15 e 24 anos no Brasil. Elaborado pelo Instituto Sandari, o levantamento Mapa da Violência 2011 – Os jovens no Brasil destaca que entre 1998 e 2008 o homicídio foi a causa de morte de 39,7% dos jovens no Brasil. As epidemias e doenças infecciosas, principais causas de morte de pessoas nessa faixa de idade há cinco décadas, foram gradativamente substituídas por causas externas, tais como homicídios e acidentes de trânsito. O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, que coordenou o estudo, salientou que a situação é “epidêmica”.

É importante enfatizarmos que morrem muito mais jovens negros do que brancos. Segundo os registros do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), entre 2002 e 2010, morreram no país 272.422 cidadãos negros, com uma média de 30.269 assassinatos por ano. Além disso, os registros destacam 2010 como o ano mais crítico, por ter um somatório de 34.983 mortes por essa causa. Mas temos que pensar também nos não registros, que devem ser significativos. Existe um sofrimento imenso em muitas famílias afrodescendentes (esta palavra é importante, pois surgiu para demarcar um tempo sem preconceito) que perdem seus filhos.

Mas os sentimentos dos brancos, em geral da classe média, quando perdem os filhos, são muito mais destacados pela mídia em geral. Porém, todos sabemos que a dor de uma mãe ou de um pai que perde um filho é exatamente a mesma, seja de que etnia for. De acordo com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), da Presidência da República, há evidências de que a sociedade brasileira tolera mais a morte de negros do que de brancos. Uma pesquisa feita pela secretaria em parceria com o DataSenado, em 2012, mostrou que, para 55,8% da população, a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte do mesmo tipo de um jovem branco. De acordo com Felipe Freitas, da Seppir, a persistência da violência contra a juventude negra resulta tanto do processo histórico no país, em que a população negra foi sendo empurrada para as áreas mais pobres e vulneráveis das cidades, como do racismo que persiste na sociedade.

Existe um aspecto que deve ser salientado que é a banalização da morte/assassinatos em todo o mundo. O tema merece uma análise mais profunda. Por que a banalização? As imagens sucessivas que vemos levam a uma apatia da sociedade? Ou levam a mais violência? Temos que lembrar que a divulgação de suicídios é proibida em muitos países. Em tempos de manifestações e jornadas religiosas pelo mundo, temos que exprimir intensamente a nossa indignação com essa terrível realidade. E insistir na necessidade urgente de uma melhor educação e saúde, cursos profissionalizantes, esportes e cultura, principalmente nas periferias das grandes cidades. Só com melhorias nessas áreas e combate ao tráfico de drogas, que mata muitos jovens negros, o quadro mudará. E, então, todos esses jovens, muito amados por suas famílias, sobreviverão para que tenham seus filhos e netos em um Brasil igual e sem violência.

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