O Corinthians é o novo São Paulo
Mano é mano e mauricinho é mauricinho. E o xis da questão não tem nada a ver com dar ou não dar selinho
A foto que inaugura o meu Instagram foi tirada no dia 8 de abril de 2011 e postada, segundo informa o aplicativo, há 106 semanas. Ela mostra uma área em início de processo de terraplanagem e, à primeira vista, não oferece qualquer atrativo.
Na imagem constam dois caminhões ao centro, uma escavadeira no canto esquerdo e alguns blocos de concreto esparramados pelo chão. Faltam sujeito e contraste. Mas foi o que deu para fazer de dentro de um táxi em movimento na volta de uma reportagem.
Quem se der ao trabalho de olhar melhor, como fizeram os 23 beatos que deram "like" no meu post de segunda classe, mas hoje cheio de significado, irá verificar que lá longe, em segundo plano, é possível ler uma frase escrita no muro que cerca a obra retratada: "A Copa do Mundo de 2014 começa aqui".
Eu tinha ido entrevistar os operários que começavam a construir o Itaquerão na época em que ninguém da zona sul ainda conseguia comprar a ideia de que o chute inicial da Copa de 2014 seria dado ali na ZL paulistana.
Pelas filas de interessados buscando uma ocupação na obra que prometia consagrar um bairro tão distante do centro, habitado em sua maioria por migrantes nordestinos, já dava para perceber que haveria notícia de balde saindo dali. E, de fato, do meu clique em diante, muita saliva rolou.
Houve o episódio do duto da Petrobras debaixo do terreno que ameaçou paralisar o esforço por completo; a gritaria por conta dos custos que iam ultrapassando as projeções e sobrando para os cofres públicos; a alegações por parte dos dirigentes que eles haviam conseguido descontos formidáveis de fornecedores tão fanáticos pela Fiel que acabou sendo possível comprar, digamos, mármore, em vez de porcelanato.
Teve de tudo, enfim, até chegarmos ao estágio atual, que coincide com este Brasil "emergido", o país que subiu nos índices do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) e que o pessedebista Luiz Carlos Mendonça de Barros, veja só, define como "um país que passa de uma posição vergonhosa no campo do desenvolvimento social para a companhia de sociedades mais justas e ricas".
O Corinthians é essa renovação na carne. A Fiel dos renegados e humildes, que na época do meu clique não passava de uma Palestina do futebol, sem Libertadores, sem título mundial, sem passaporte e sem teto para chamar de seu, hoje tem tudo isso e mais um palácio de mármore e granito, praticamente um Caesars Palace da bola, um Coliseu estalando de novo. E com leão que dá selinho na boca, está sempre com a macaca (o nome dela é Cuta) e desafia a lógica. Quem mais, além de Emerson Sheik, mora em Tamboré e trabalha em Guarulhos?
O colega Vitor Guedes, corintiano, correspondente da BandNews FM em Itaquera (!) e colunista do jornal "Agora", brinca: "Em casa, fico no banheiro lendo jornal uns dez minutos, mas no estádio do Corinthians, pelo que eu pude ver, ficaria uma hora tranquilamente".
Pois é. Uma coisa é duvidar da Copa do Mundo em Itaquera. Mas quem ousaria imaginar que, de lá para cá, o Timão ganharia a Libertadores e o Mundial e que o Tite se desse ao esnobismo de não admitir a utilização, em coletiva de imprensa, do termo "vergonha" para definir a derrota contra o Luverdense? Emergente é uma coisa. Outra, é novo-rico. Deixar de ser maloqueiro para virar mauricinho disfarçado de mano fabricado no shopping Anália Franco... Vamos com calma!
Não sei se isso acontece com você, meu ilustre leitor, mas certas vezes eu preciso olhar duas vezes para verificar se o sujeito na rua vestindo a camisa do Corinthians não é um cordeirinho são-paulino em pele de gavião.
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