quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dia de são nunca e Primeiro tango - EDitoriais FolhaSP

folha de são paulo
Dia de são nunca
Governo federal adia pela terceira vez leilão do trem-bala, que ligaria São Paulo ao Rio; projeto é descabido e deveria ser abandonado
O governo federal deveria aproveitar o novo fracasso no leilão do trem de alta velocidade (TAV) para abandonar, de vez, a ideia de despender pelo menos R$ 35,5 bilhões em obra tão controversa.
Para evitar constrangimentos, nem é necessário formalizar a desistência. Basta não falar mais no assunto. Trata-se, afinal, do terceiro adiamento --desta vez por prazo indefinido-- de uma licitação para o trem-bala que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro.
A primeira postergação se deu em 2010, quando havia apenas um consórcio disposto a participar. O quadro piorou na segunda tentativa, em 2011, que não atraiu ninguém. A saída, então, foi dividir o leilão em duas etapas.
Uma delas, que ocorreria nesta sexta-feira, deveria definir o fornecedor dos equipamentos e o operador. Em seguida, seria licitada a obra em si. O plano, como se vê, não deu certo. Apenas uma empresa, a Alstom, mantinha-se na disputa, e o projeto ficará para um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
O problema desde sempre foi a dificuldade técnica da empreitada e a inexistência de um projeto executivo finalizado. Não há sequer análise de solo e definição de traçado, quanto mais estimativas confiáveis de custos. Isso para nada dizer da dificuldade de obter licenças ambientais e cumprir a miríade de obrigações burocráticas.
A despeito do adiamento, o governo dá sinais de que pretende insistir no assunto, pois vai liberar R$ 80 milhões para o projeto executivo. Espera eliminar incertezas e atrair interessados.
O mais provável, porém, é que continue a gastar dinheiro público em vão. Para ser competitivo, o trem-bala precisaria percorrer a distância entre São Paulo e Rio em até duas horas --algo que as características topográficas do trajeto não parecem propiciar.
Trechos entre São Paulo e Campinas ou São José dos Campos são viáveis, mas, estando ambas as cidades a menos de 100 km da capital, o TAV torna-se supérfluo.
Por fim, o custo da obra não se justifica diante de necessidades de mobilidade urbana e de escoamento da produção. Com a mesma quantia seria possível, por exemplo, dobrar a extensão do metrô de São Paulo ou construir milhares de quilômetros de ferrovias para transportar a safra agrícola do Centro-Oeste para os portos, cortando o custo logístico à metade.
Nada disso parece preocupar o governo Dilma, que acredita em sua capacidade de executar ou direcionar de forma eficaz grandes empreendimentos. O que se vê, no entanto, é paralisia, desperdício e falta de foco para entregar o que realmente interessa ao país.

EDITORIAIS
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Primeiro tango
Convocados às urnas para fazer uma seleção prévia dos candidatos que disputarão o pleito parlamentar de outubro, os argentinos mostraram que não pretendem apoiar a busca de um terceiro mandato por parte da presidente Cristina Kirchner.
O principal vitorioso das eleições primárias realizadas na Argentina foi o postulante a deputado Sergio Massa, prefeito de Tigre, um subúrbio da capital.
Seu feito foi bater o governista Martín Insaurralde na província de Buenos Aires, que reúne 37,3% dos eleitores do país. Ao conquistar 35% dos votos, contra 29,6% do rival, Massa já se credencia como candidato à Presidência em 2015.
Ele não faz parte, contudo, da oposição tradicional ao kirchnerismo. Foi responsável pela Previdência no governo de Néstor Kirchner (2003-2007) e chegou a ministro-chefe da atual presidente. O rompimento entre os dois data de 2010, quando vazaram conversas em que Massa acusava Néstor Kirchner de ser um "monstro psicopata".
Se o prefeito de Tigre surge como a novidade eleitoral da fragmentada oposição, a derrota de Cristina Kirchner, em certa medida esperada, chamou a atenção pela contundência. Embora a frente oficial tenha ficado em primeiro lugar nas primárias, com 26% do total nacional de votos, foi o pior desempenho da situação desde 1983.
O resultado é particularmente surpreendente porque a mandatária havia sido reeleita em 2010 com 54% dos votos --o melhor resultado de um candidato desde a redemocratização do país.
Cristina, agora, vê seu cacife político minguar. O fiasco praticamente elimina a chance de o governo obter dois terços do Congresso, o necessário para alterar a Constituição e permitir que a presidente dispute um terceiro mandato.
Muitos fatores contribuíram para a derrota, como escândalos de corrupção e o autoritarismo de Cristina. Mas o mau desempenho da economia teve papel decisivo. Depois de crescer em média 7,3% ao ano a partir de 2003, o PIB argentino, em 2012, aumentou 1,9% e não deverá chegar a 3% em 2013.
Nessas condições, a elevada inflação (cerca de 20%, segundo cálculos independentes) mostra-se bem menos suportável. Além disso, o governo restringiu de maneira drástica a compra de dólares para conter a fuga de divisas. As cotações dispararam, e a medida foi interpretada como um sinal de que a crise econômica é grave.
Em tese, a presidente ainda pode reagir, mas os sinais de que o ciclo kirchnerista se aproxima do fim são cada vez mais enfáticos.

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