Estado de Minas: 06/08/2013
Conheci José Olympio na noite de 25 de maio de 1991, em Patos de Minas, durante o lançamento de um número especial do Suplemento Literário de Minas Gerais dedicado ao poeta Altino Caixeta de Castro. No evento, que incluía um jantar de comemoração, estavam presentes vários escritores que moravam em Belo Horizonte, Brasília e São Paulo. A homenagem principal ao poeta ficou por conta do crítico Fábio Lucas, que, amigo de José Olympio (patense, residente em São Paulo), convidou-o para ir junto.
Fábio já havia me falado dele antes, comentando que era um dos homens mais cultos e inteligentes de seu círculo de amizades. Tinha ficado surpreso ao saber que eu ainda não conhecia meu conterrâneo. Assim como ficou Sonia Labouriau, também amiga de José Olympio, quando lhe falei que já tinha ouvido falar dele, mas nunca o tinha visto ao vivo. “Ele tem tudo a ver com você”, ela me disse na ocasião. Lembro-me do breve comentário que lhe fiz em seguida: “Pois é, ele é Borges e eu sou Maciel; temos mesmo muito a ver um com o outro”. Ela não entendeu a ironia, é claro. Aí, expliquei que Borges e Maciel eram famílias adversárias em Patos desde os anos 1920, devido a brigas políticas. E esclarecendo que não era conivente com essa briga, acrescentei: “Sempre gostei dos Borges, me dou muito bem com eles”. Por fim, ainda brinquei: “Não à toa o meu escritor favorito se chama Borges”.
Assim, José Olympio já fazia parte de meu imaginário quando o encontrei no jantar e me apresentei como amiga de Fábio Lucas e Sonia Labouriau. Para minha alegria, ele também já ouvira falar de mim e tinha, inclusive, lido um artigo meu sobre o poeta Augusto dos Anjos publicado no Estado de Minas. Foi desse modo que iniciamos nossa primeira conversa. Ele se sentou ao meu lado na mesa e passamos todo o jantar falando de mil coisas. O que mais me chamou a atenção nele foi a elegância. Era um homem de meia-idade, alto, esbelto e muito distinto. Usava um blazer cor de ferrugem e óculos de aros robustos. Com meus 28 anos, recém-contratada como professora na UFMG, fiquei encantada com aquele homem brilhante e maduro, que já via como um mestre da vida inteira. Mas me apaixonei mesmo quando ele falou, de cor e em francês, um poema inteiro de Baudelaire. Isso, ao saber que era um dos meus poetas favoritos. Até hoje ouço, em sua voz sóbria e sonora, o belo verso: “Sois sage, ô ma Douleur, et tiens-toi plus tranquille”.
Voltei a me encontrar com ele em Belo Horizonte, no lançamento de um livro de Fábio Lucas. Outros encontros vieram posteriormente, graças à nossa amiga Sonia. Meses depois, ele – que havia acabado de se aposentar em São Paulo – mudou-se para cá e, em pouco tempo, já estávamos juntos, vivendo um relacionamento de intensa cumplicidade amorosa e intelectual. A data de 25 de maio ficou sendo nossa, para sempre. E, de vez em quando, ao nos reportar àquele dia em Patos, repetíamos estes versos de Pessoa: “Quando te vi amei-te já muito antes./ Tornei a achar-te quando te encontrei./ Nasci pra ti antes de haver o mundo.”
José Olympio faleceu no mês passado, 22 anos depois do nosso primeiro encontro. Deixou-me aqui, com uma dor imensa. Tão grande, que em alguns momentos preciso repetir o verso de Baudelaire: “Sê sábia, ó minha Dor, e mantém-te calma”. Mas ela não sossega.
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