segunda-feira, 2 de setembro de 2013

CIÊNCIA » Testes no pré-natal‏

Pesquisa apresentada por estudante mineira em conferência internacional sobre o HTLV vai contribuir para a redução da transmissão do vírus de mãe para filho 


Augusto Pio

Estado de Minas:
02/09/2013 





Um grupo de alunos mineiros participou, na cidade de Montreal, no Canadá, da 16ª Conferência Internacional de Retrovirologia Humana – HTLV. Foram cinco trabalhos científicos apresentados à Sociedade Internacional de Retrovirologia, responsável pela organização do evento. Um deles, o da estudante do 5º ano de medicina da Faculdade de Saúde e Ecologia Humana (Faseh) Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Mariana Amaranto, propôs verificar o impacto do aconselhamento de mulheres soropositivas para o HTLV-1, que incluiu as recomendações para não amamentar e, preferencialmente, realizar o parto por cesariana. "Minha pesquisa é um braço de várias outras que esse grupo desenvolve. Ela constatou a eficácia do aconselhamento para a não transmissão do vírus", disse. O resultado, segundo a estudante, favorece a argumentação para que seja realizada a pesquisa laboratorial do HTLV no pré-natal e para que seja oferecida pelo governo o leite em pó para filhos de mães soropositivas. Tanto que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) acaba de incluir os testes no pré-natal.

Mariana, que recebeu o título de Jovem investigadora, esclarece que o HTLV causa sintomas, em média, em 10% dos indivíduos infectados, que incluem leucemia e linfomas de células T, paraparesia espástica tropical e uveíte, entre outros. "A transmissão ocorre por via parenteral, sexual e vertical. Minha pesquisa se relaciona à prevenção da transmissão do vírus por meio da atuação na via vertical. O aconselhamento de mães soropositivas inclui evitar o aleitamento materno e o parto natural. Nesse sentido, o aconselhamento auxilia na prevenção da infecção do HTLV."

O vírus linfotrópico da célula T humana 1 (HTLV-1) é um retrovírus associado com a leucemia de células T do adulto (ATL), doenças neurológicas, dermatológicas, oftalmológicas, entre outras. O vírus HTLV pode ser transmitido da mãe para o feto (via vertical), na relação sexual e por compartilhamento de agulhas e seringas contaminadas. "O período de incubação do HTLV, aliado à alta taxa de portadores assintomáticos e às graves doenças associadas, justifica a atenção à possibilidade de se evitar a transmissão por via vertical", explica.

Inicialmente, para participar do estudo, foram selecionadas mulheres soropositivas para verificação de indivíduos nascidos antes e depois da participação das mães no estudo do Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em HTLV (Giph), criado em 1997 pela Fundação Hemominas, do qual a Faseh faz parte, junto com a UFMG, Fiocruz, Rede Sarah e a Universidade do Vale do Jequitinhonha e Mucuri. "Os resultados encontrados são preliminares, mas já foi possível constatar que mães que não amamentaram e preferiram o parto cesáreo transmitiram menos o vírus do que aquelas que não seguiram o aconselhamento." Mariana ressalta que o interesse em atuar na prevenção é o que a pesquisa traz de maior impacto. "Com os resultados da pesquisa é possível cobrar do poder público a doação do leite em pó para as mães que não podem amamentar os filhos, por serem portadoras do vírus HTLV. Espero contribuir para a divulgação do conhecimento acerca do vírus HTLV no meio da saúde para que a prevenção se torne ampla e eficaz."

A professora do curso de medicina da Faseh Anna Bárbara, orientadora de Mariana, reconhece que foi ótimo acompanhar a estudante e seus colegas – Débora, Gabriela, Rafael e Cláudia –, cujo grupo recebeu o nome de Giph/Faseh. "A dedicação desses alunos é muito grande, como demonstram os resultados de suas pesquisas, reconhecidos pelos organizadores da 16ª conferência internacional. O trabalho foi fundamental para a obtenção dos resultados apresentados na conferência."



"A dedicação desses alunos é muito grande e foi fundamental para a obtenção dos resultados apresentados na conferência", Anna Bárbara, professora e orientadora da pesquisa



APOIO  A infecção pelo HTLV é endêmica no Brasil e é considerada uma doença negligenciada, com poucas verbas para tratamento e para pesquisa. "Temos a sorte de, em Minas Gerais, contar com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Fundação Hemominas para essas pesquisas, bem como contar com os alunos da Faseh, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da UFMG, que contribuem para o avanço das pesquisas. Com os resultados apresentados pelo grupo Giph, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) acaba de incluir os testes para HTLV no pré-natal, pois essa virose pode ser transmitida de mãe para filho por meio do aleitamento materno. Isso é muito importante, pois, atualmente, a transmissão ocorre silenciosamente, sem que as pessoas saibam."

Além de Anna Bárbara, orientaram o grupo os professores Marina Lobato Martins, Bráulio Gonçalves Marinho e Ana Lúcia Starling, além dos especialistas e mestres em ciência da saúde Luiz Romanelli e Sueli Namen. "A professora Ana Lúcia Starling e a pesquisadora Ludimila Labanca são alunas de doutorado da pós-graduação de infectologia e medicina tropical, que é parceira do Giph, por meio da orientadora Denise Utsch Gonçalves."





"Espero contribuir para a divulgação do conhecimento acerca do vírus HTLV no meio da saúde para que a prevenção se torne ampla e eficaz%u2019', Mariana Amaranto, estudante de Medicina e autora da pesquisa
 

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