Até o ano que vem
Diversidade estética garantiu o interesse popular pelo festival Mimo, encerrado no fim de semana na cidade pernambucana de Olinda com apresentações de música popular e erudita
Eduardo Tristão Girão *
Estado de Minas: 09/09/2013
Um dos destaques da programação em Olinda, o músico Jards Macalé comemorou a oportunidade de tocar com os jovens e diante de um grande público que lotou a Praça do Carmo |
A abertura do Mimo, na quinta-feira, na Igreja da Sé, ficou a cargo de Freire, que tocou com a maestria habitual composições de Brahms, Bach e Chopin. Numa situação que beirou o absurdo, o pianista mineiro retornou ao palco cinco vezes para atender pedidos de bis. Na mesma noite, na Praça do Carmo, o grupo Electric Epic chamou atenção por encarar o desafio de tocar sem seu líder, o saxofonista francês Guillaume Perret, que sofreu acidente de moto pouco antes de vir ao Brasil e levou 52 pontos numa das mãos – ele tocou em Ouro Preto, mas não conseguiu repetir a façanha em Olinda.
Ibrahim Maalouf, que subiu ao palco em seguida, foi o destaque da primeira noite. Seu trompete não é como qualquer outro: criado pelo pai, tem quarta válvula que possibilita alcançar notas intermediárias típicas da música árabe. Com leveza, isso é incorporado ao som de seu grupo, cheio de balanço e pressão. “Na adolescência, meus amigos ouviam Spice Girls, e eu, sinfonia de Mahler. Quando cresci, descobri a música leve, para divertir. Isso mudou minha vida. Hoje, prefiro ouvir soul, hip-hop, electro”, conta Maalouf.
Comunicação Sexta-feira as surpresas começaram no Mosteiro de São Bento, onde a cantora paulistana Fortuna uniu-se ao bem entrosado Duo Milewski, formado pela pianista Aleida Schweitzer e pelo violinista Jerzy Milewski, cativando a plateia com canções judaicas. Omar Sosa, pianista cubano que se apresentou com banda multiétnica ainda na sexta-feira, eletrizou a plateia do Seminário de Olinda com suas peças inspiradas em Kind of blue, clássico álbum de Miles Davis. Embora não tenha sido comprometedora, a acústica do local não beneficiou o show, calcado em sonoridades jazzísticas, cubanas e africanas.
Outros brasileiros se destacaram no festival, a começar pelo bandolinista carioca Hamilton de Holanda. Na Igreja da Sé, sexta-feira, fez jus à fama de melhor do Brasil, tocando ao lado do pianista italiano Steffano Bollani, com quem acaba de lançar um disco, O que será. Verdadeira aula de delicadeza e entrosamento com temas de Chico Buarque e Pixinguinha no repertório.
No sábado, no mesmo local, o Quinteto da Paraíba fez belíssimo espetáculo ao lado do acordeonista francês Richard Galliano, interpretando Vivaldi e Piazzolla. No mesmo dia, mas na Praça do Carmo, o cantor e compositor Jards Macalé repaginou seu repertório ao lado da banda Let’s Play That, formada só por jovens. Passou pelo baião, reggae, blues, rock e balada deixando não só a certeza de que ainda tem o que dizer, mas também que consegue se comunicar com a nova geração. “Quero ouvir o que eles ouvem e eles me ouvem e querem saber quem eu sou”, define. A praça estava lotada.
* O repórter viajou a convite da organização do festival Mimo
Balanço
Com várias atividades paralelas, como mostra de cinema e ações educativas, o Mimo deverá manter seu formato ano que vem, sendo realizado nas mesmas cidades deste ano. O foco no público jovem deverá resultar num palco específico na próxima edição, adianta Lu Araújo, organizadora do evento: “Há muita coisa que precisa ter espaço. A banda mineira Iconili, por exemplo, é maravilhosa, tem assinatura”. Ela revela, ainda, que existe plano de acrescentar àao evento uma cidade por ano ao longo da próxima década.
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