Os aeroportos (e as rodoviárias) não foram feitos para os que vivem preocupados com as altas cousas do espírito
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 04/09/2013
Piloto adora ser
chamado de comandante. Na fazenda em que trabalhei, fronteira com o
Paraguai, contava-se o caso de um major-aviador boliviano, fugido de uma
revolução, que se empregou como piloto da empresa. Muito cuidadoso,
muito educado, ótimo piloto, foi levar ao aeroporto de Campo Grande um
grupo de hóspedes e contratar outro avião para uma nova viagem de
hóspedes, que eram muitos.
Contratado o táxi-aéreo, o major
explicou: “Comandante, vou voar a mil e quinhentos pés”. Seu Stinson era
muito mais lento do que o Cessna alugado. Quando o boliviano decolou, o
comandante do táxi-aéreo avisou aos colegas de hangar: “Vou dar um
susto neste gringo”. Susto tão caprichado que morreram os dois. O major
deixou viúva e cinco filhos pequenos.
No final do século e do
milênio passados fiz aquele que espero tenha sido o meu último voo
internacional. Nada tenho contra o aeroplano como meio de transporte,
mas os aeroportos (e as rodoviárias) não foram feitos para os que vivem
preocupados com as altas cousas do espírito. Millôr diria que aeroporto é
coisa de gentinha.
No citado voo fui de executiva
Confins-Brasília-Miami, voltando 10 dias mais tarde. A empresa aérea
estava falindo e vendia passagens na executiva a preços razoáveis: faliu
poucos meses depois. Decolando de Brasília à noite, observei que saíam
comandantes da cabine.
Quando saiu o sexto rumo ao rabo do imenso
aeroplano, e não voltou nenhum, interpelei o ilustre aeronauta:
“Comandante, ainda que mal pergunte, ficou alguém na cabine?”. O rapaz
entendeu minha preocupação e explicou que naquele voo viajavam três
tripulações, duas que apanhariam seus equipamentos nos Estados Unidos.
Pois é: comandante não conduz aviões, pilota equipamentos.
Na
recente derrocada do grupo Eike Batista aconteceu algo parecido com os
pilotos que não paravam de sair da cabine. Eike tinha uma espécie de
conselho de administração, equivalente à cabine de comando, com uma
porção de nomes de peso. De repente, os notáveis começaram a deixar a
cabine de aconselhamento, primeiro um, semana seguinte outro e mais dois
ou três. Pelo que se viu, não sobrou tripulação para conduzir o
equipamento.
Arte
Enquanto não chega o livro
de Vargas Llosa sobre certa “arte” que é feita, exposta e vendida por
aí, presente prometido por um amigo são-joanense que trabalha em Belo
Horizonte, fico vendo e ouvindo o que é mostrado e comentado pelos
jornalistas impressos e televisivos.
Amigo são-joanense obviamente
del-Rei, que existem 21 são-joanenses no Houaiss: da Barra (RJ), do
Cariri (PB), Nepomuceno (MG), do Rio do Peixe (PB), do Piauí (PI), dos
Patos (MA), de São João (PE), do Araguaia (PA), do Jaguaribe (CE), do
Sabuji (RN), do Tigre (PB), da Boa Vista (SP), do Oriente (MG), Batista
(MA), do Pau-d’Alho (SP), das Duas Pontes (SP), da Paraúna (GO) e mais
três que não entendi, como São João da Madeira BEI.LIT.
Que diabo
será BEI.LIT? Quem souber que me explique. Procurei no Google, que me
remeteu para o Houaiss. Há bei à beça no Google em alemão. Acho que
significa “perto”. LIT na lista de reduções do Houaiss é literatura.
Acabei descobrindo que significa Beira Litoral. Resta saber onde? Vou
ficando por aqui, depois de constatar que tem são-joanense à ufa e que
neste ano escapei do foguetório das festas juninas.
Falávamos de
“arte”, não é? Pois fique o leitor sabendo que no dia 10 de agosto
apareceu na tevê um cavalheiro com as credenciais de “critico de arte”
comentando certa exposição de maluquices num museu de Buenos Aires. Deve
ser o último dos críticos de arte. Atualmente, a arte deve ser
analisada pelos mestres e doutores em psiquiatria, ramo da medicina que
se ocupa do diagnóstico, da terapia medicamentosa e da psicoterapia de
pacientes que apresentam problemas mentais.
Entre outras tolices, o
crítico de arte censurou o fato de até 1967, numa das escolas de artes
de Paris, os alunos se levantarem à entrada de um professor na sala de
aula. Homessa! Desde quando é crime respeitar professores? Nossa turma
na faculdade carioca, antes de 1967, sempre se levantava à entrada de um
professor. Melhor que isso: até hoje, um ótimo colégio de Belo
Horizonte exige que os meninos e meninas se levantem não somente quando
entra um professor, como também qualquer pessoa que esteja visitando a
escola.
O mundo é uma bola
4 de setembro de
1842: dom Pedro II se casa com a jovem Teresa Cristina Maria Giuseppa
Gasparre Baltassarre Melchiore Gennara Rosalia Lucia Francesca d’Assisti
Elisabetta Francesca di Padova Donata Bonosa Andrea d’Avelino Rita
Liutgarda Geltruda Venancia Taddea Spiridione Ricca Matilde, princesa de
Duas-Sicílias, que puxava de uma perna, o que dizem ser ótimo para
fortalecer a musculatura das partes que interessam.
Montaigne,
ninguém menos que Michel Eyquem de Montaigne (1533 – 1592), em Os
ensaios perguntou se seria mais prazeroso fazer sexo com mulheres
mancas. E Aristóteles (384 – 322 a.C.) afirmou que as vaginas de quem
manca são mais musculosas por receberem a nutrição de que as pernas são
privadas. Aleluia!
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