quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Um (in) certo amor virtual‏ - Flávia Ayer

Arrependida por não ter passado o número do celular, advogada espalha faixas no Bairro Santo Antônio, em BH, para tentar encontrar rapaz que conheceu em bate-papo na internet


Flávia Ayer

Estado de Minas - 18/09/2013


Foi na noite de 6 de setembro, num chat na internet, que DeleGata conheceu um rapaz chamado Bonito. O papo fluiu. Ele pediu o número do telefone, mas ela negou. Só depois a moça descobriu que havia se apaixonado e, então, se arrependeu. Bonito não aparece mais no bate-papo. Nem por isso ela desanimou. Ontem, DeleGata, de 30 anos, que apesar do apelido é advogada, transpôs o universo virtual e deu início à procura pelo amado num mundo bem real, no Bairro Santo Antônio, Centro-Sul de Belo Horizonte. O resultado da busca é incerto, mas tem dado o que falar.

Enfeitadas com corações, quatro faixas foram espalhadas pelas ruas do bairro com as pistas de Bonito: advogado, 34 anos, morador do Santo Antônio. O número do celular da advogada, que pagou R$ 300 para confeccionar e pôr as faixas, aparece em letras garrafais. “A intenção é marcar um encontro real, nem cheguei a vê-lo por câmera nem ligo se ele for feio, pois é tão legal que compensa. Isso se ele realmente existir. Mas meu coração está me dizendo que ele existe”, conta. Até a tarde de ontem, ela havia recebido mais de 30 ligações, a maioria trotes, além de interessados em conquistá-la.

A moça se inspirou na Delegada Helô, personagem de uma novela, para criar o apelido e não se identificar. “Sou uma pessoa séria, estudo para concurso, quero entrar para o Ministério Público e acho que não pegaria muito bem”, justifica. 

A loira de olhos castanhos era policial militar e abriu mão da corporação no mês passado para se dedicar aos estudos. Já teve quatro namorados, inclusive dois que conheceu pela internet. Há um ano e meio está solteira e, com a rotina pesada de concurseira, não tem saído muito de casa. “Decidi entrar no chat para conversar, tem muita coisa engraçada que rola no bate-papo. Só que dá muito pilantra, então prometi que não iria passar meu contato para ninguém”, diz.

Mas aí chegou Bonito. “Me arrependi de não ter pegado o telefone dele. Não queria me envolver com ninguém, mas esse cara foi diferente”, diz DeleGata, assustada com a repercussão da busca, que já ganhou a internet e as ruas do Santo Antônio. “Está todo mundo tirando foto, está dando até engarrafamento na rua”, conta Jairo Alves, de 34, comerciante da Rua Antônio Dias esquina com Teixeira de Freitas, onde uma das faixas está afixada. Casado e pai de um filho de seis meses, Jairo apoia DeleGata. “Acredito no amor e acho que o que tiver de ser vai ser. Também conheci minha esposa numa coincidência e já estamos juntos há oito anos”, incentiva.

ATRAÇÃO NAS RUAS

Ao ver a faixa, o carteiro Leonardo Martins, de 28, logo tirou uma foto. Ele trabalha no bairro há cinco anos e nunca tinha visto algo parecido. “Ela é muito corajosa. Aqui é cheio de advogados, não vai ser fácil achar”, diz. Cezer Lopes Júnior é um deles no Santo Antônio. Ele trabalha em um escritório no bairro, mas garante que não é o procurado. “Não entro em site, tenho 29 anos e namorada. Meu sócio mora aqui, mas tem 40 anos e é muito bem casado”, diz. Para Cezer, só há uma explicação para a atitude da DeleGata: “Isso é carência!”
Moradora do Santo Antônio há 36 anos, Maria das Graças Gris, de 65, ficou curiosa ao ver as faixas e suspeita que possa saber quem é procurado. “Às vezes, a gente conhece.” Mas a aposentada acredita ser difícil alcançar o sucesso caso eles invistam na relação amorosa. “Acho que esses relacionamentos de internet têm 10% de chance de dar certo. Uma relação depende muito de convivência, não apenas de paixão”, ensina a viúva, que foi casada por 30 anos.

Apesar de ter 34 anos e ser morador do bairro, Márcio de Deus não é o amado de DeleGata. “Sou motorista”, diz ele, reprovando a iniciativa. “Acho que ela está se desvalorizando.” O engenheiro Alexandre Barros, de 24, é mais romântico. “Já me apaixonei e acredito no destino. Ninguém entra na vida de ninguém por acaso. Cada um deixa algo de si na vida da pessoa, mesmo num site”, afirma Alexandre, convicto de apenas um fato. “Esse ‘Bonito’ é muito bom de prosa”
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