Estado de Minas: 19/10/2013
O bem-te-vi sai dos galhos da pata-de-vaca florida, na Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, e dá um voo rasante sobre a boina preta. Emite um som de alerta, como se fosse um grito de guerra. Volteia e dá outro rasante. Podem dizer que rasante é propício quando é rente ao chão. Mas é aplicável ao caso. O pássaro volta para a galhada e fica lá, vigilante, numa pose, digamos, de inocente arrogância. Dono do pedaço. Vem à mente Os pássaros, filme de Alfred Hitchcock que conta a revolta dos penosos e os ataques a moradores e visitantes de Bodega Bay, balneário californiano.
Ao contrário dos corvos, gaivotas e representantes de outras espécies de pássaros e aves astros da obra do mestre do suspense, o indivíduo da Avenida Getúlio Vargas não estava iniciando uma insurgência contra a controversa raça humana. O bem-te-vi bem faz por merecer desconfiança. É mal-humorado e contra tudo e todos em defesa do seu território. Está aniquilando a população de pardais de BH. E não trava uma guerra limpa, de homem para homem. Não. Vai ao ninho do pardal e o destrói, depois de matar os filhotes. Mina o inimigo pela raiz. Essa agressividade é característica da família dos tiranídeos, à qual pertence.
Imaginou-se ainda que a boina preta fê-lo lembrar-se de outro inimigo, bem mais perigoso para os passarinhos. É o mico. O pequeno primata vagueia pelas árvores caçando os ninhos dos pássaros. Delicia-se com os ovos. Tarde dessas, pelo menos seis bem-te-vis perseguiam um mico, que fugia agarrado aos fios de telefonia da Rua Gonçalves Dias. Parecia apavorado. Tentava se refugiar entre os galhos de árvores, mas era pior. Só conseguiu se salvar quando achou uma marquise. Encostado na parede do prédio, ficou imune aos voos rasantes e livre das bicadas.
Na Avenida Getúlio Vargas não havia início de revolta. O ataque à boina não tinha nada de confusão com mico. Era apenas um casal de bem-te-vis desesperado, aflito. O filhote saiu do alto de uma paineira vizinha à pata-de-vaca, ciente de que alçaria voo pela primeira vez. A mãe, cansada de alimentá-lo e disposta a seguir o ciclo da espécie, o estimulava. O coitado não estava pronto e caiu sobre a grama do canteiro central da avenida. Estufava o peito, tentava abrir as asas e não conseguia o suficiente para voar. Estava ali, supostamente, sozinho, indefeso.
Indefeso nada. Os pais estavam no alto, vigilantes. Quem passasse sob a árvore era atacado. A mãe bem-te-vi parecia dizer: “Não toquem no meu bebê”. Ao lado, em duas pistas, a vida urbana seguia entre buzinas, aceleradas, freadas e impropérios de motoristas e motoqueiros insatisfeitos com a pressa bloqueada pelo tráfego intenso e insano. E o menino bem-te-vi tentando voar para longe dali.
Em tempo: Por falar em bem-te-vi, vem à mente a cantoria do sabiá-laranjeira nas árvores de São Paulo. Moradores estão se mobilizando para expulsá-lo da cidade. Cantar na rua não pode. Nem sabiá nem gente. Nos tempos do governo militar, jovens se reuniam no meio-fio, ligavam uma radiola a pilha para ouvir Beatles, Rolling Stones, Credence e dançar. Rapazes passavam a mão em um violão e iam para a esquina fazer serenata para as moças. Hoje não pode. Dá multa. As leis da democracia são mais rigorosas que os guardas da esquina na ditadura. Sabia disso, Confraria São Gonçalo?
O bem-te-vi sai dos galhos da pata-de-vaca florida, na Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, e dá um voo rasante sobre a boina preta. Emite um som de alerta, como se fosse um grito de guerra. Volteia e dá outro rasante. Podem dizer que rasante é propício quando é rente ao chão. Mas é aplicável ao caso. O pássaro volta para a galhada e fica lá, vigilante, numa pose, digamos, de inocente arrogância. Dono do pedaço. Vem à mente Os pássaros, filme de Alfred Hitchcock que conta a revolta dos penosos e os ataques a moradores e visitantes de Bodega Bay, balneário californiano.
Ao contrário dos corvos, gaivotas e representantes de outras espécies de pássaros e aves astros da obra do mestre do suspense, o indivíduo da Avenida Getúlio Vargas não estava iniciando uma insurgência contra a controversa raça humana. O bem-te-vi bem faz por merecer desconfiança. É mal-humorado e contra tudo e todos em defesa do seu território. Está aniquilando a população de pardais de BH. E não trava uma guerra limpa, de homem para homem. Não. Vai ao ninho do pardal e o destrói, depois de matar os filhotes. Mina o inimigo pela raiz. Essa agressividade é característica da família dos tiranídeos, à qual pertence.
Imaginou-se ainda que a boina preta fê-lo lembrar-se de outro inimigo, bem mais perigoso para os passarinhos. É o mico. O pequeno primata vagueia pelas árvores caçando os ninhos dos pássaros. Delicia-se com os ovos. Tarde dessas, pelo menos seis bem-te-vis perseguiam um mico, que fugia agarrado aos fios de telefonia da Rua Gonçalves Dias. Parecia apavorado. Tentava se refugiar entre os galhos de árvores, mas era pior. Só conseguiu se salvar quando achou uma marquise. Encostado na parede do prédio, ficou imune aos voos rasantes e livre das bicadas.
Na Avenida Getúlio Vargas não havia início de revolta. O ataque à boina não tinha nada de confusão com mico. Era apenas um casal de bem-te-vis desesperado, aflito. O filhote saiu do alto de uma paineira vizinha à pata-de-vaca, ciente de que alçaria voo pela primeira vez. A mãe, cansada de alimentá-lo e disposta a seguir o ciclo da espécie, o estimulava. O coitado não estava pronto e caiu sobre a grama do canteiro central da avenida. Estufava o peito, tentava abrir as asas e não conseguia o suficiente para voar. Estava ali, supostamente, sozinho, indefeso.
Indefeso nada. Os pais estavam no alto, vigilantes. Quem passasse sob a árvore era atacado. A mãe bem-te-vi parecia dizer: “Não toquem no meu bebê”. Ao lado, em duas pistas, a vida urbana seguia entre buzinas, aceleradas, freadas e impropérios de motoristas e motoqueiros insatisfeitos com a pressa bloqueada pelo tráfego intenso e insano. E o menino bem-te-vi tentando voar para longe dali.
Em tempo: Por falar em bem-te-vi, vem à mente a cantoria do sabiá-laranjeira nas árvores de São Paulo. Moradores estão se mobilizando para expulsá-lo da cidade. Cantar na rua não pode. Nem sabiá nem gente. Nos tempos do governo militar, jovens se reuniam no meio-fio, ligavam uma radiola a pilha para ouvir Beatles, Rolling Stones, Credence e dançar. Rapazes passavam a mão em um violão e iam para a esquina fazer serenata para as moças. Hoje não pode. Dá multa. As leis da democracia são mais rigorosas que os guardas da esquina na ditadura. Sabia disso, Confraria São Gonçalo?
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