ZERO HORA 16/10/2013
Foi
muito divertido o retorno que tive da crônica de domingo passado, sobre
as balas da infância. Muitos leitores lembraram de suas guloseimas
favoritas, lamentaram eu não ter citado as balas Mocinho, apostaram que a
pastilha cujo nome esqueci era a Supra Sumo (também adorava, mas não
era essa...) e contaram episódios de quase morte por engasgamento com a
bala Soft.
Porém, sacudidos de cabeça para baixo, todos se
salvaram. Há quem jure que essas balas foram proibidas por terem um
formato perfeito para grudar na traqueia até asfixiar – não encontrei
fontes oficiais sobre o assunto, mas estou tentada a acreditar que elas
entraram mesmo para a lista negra do FBI, da CIA e da Scotland Yard. Era
tenso: eu chupava essas balas como se estivesse participando de uma
roleta-russa.
Engasgos rendem cenas hilárias, mas levo o assunto
a sério, pois quem já teve o desprazer de passar por isso sabe o quanto
é estressante. E se a cena se der em local público, não só é
estressante como constrangedor. Difícil manter a pose quando se está
prestes a morrer sufocada, com os olhos esbugalhados e o rosto ganhando o
tom de beterraba.
Acontece comigo com uma frequência que não
chega a ser alarmante, mas manda a prudência que eu não relaxe tendo um
copo em mãos. Não engasgo com sólidos, apenas com líquidos. Já vivenciei
o problema no meio da madrugada, ao tomar água, e também em
restaurantes, bares, até em beira de piscina.
Sofro só de
imaginar que um dia possa ocorrer durante uma palestra ou uma
entrevista. Hoje me concentro demais para que a epiglote (porta de
entrada do ar nos pulmões) não feche em hora indevida, mas às vezes
estou empolgada com a conversa, emocionada até, e aí é que o rolo
acontece. Se dá para manter a classe? Olha, nem sendo a Costanza
Pascolato.
Quase sempre estou acompanhada, e quem me conhece
sabe o que fazer: é a manobra de Heimlich, criada pelo médico americano
Henry Heimlich, que em 1974 inventou um método simples para induzir uma
tosse artificial. O salvador deve se posicionar por trás do engasgado e
abraçá-lo mantendo as duas mãos bem abaixo do peito dele, e fazer uma
pressão curta, porém firme em direção ao tórax, tantas vezes quantas
necessárias.
Pequenos socos até que seja expelido o que estiver
interrompendo aquele bate-papo que, até então, transcorria de forma tão
agradável. É um procedimento mais indicado para quem tem algo sólido
obstruindo a respiração, mas mesmo com líquidos funciona. Comigo, ao
menos, funciona, ou não estaria aqui respirando e escrevendo.
Considere
essa crônica um serviço de utilidade pública. Mesmo as balas Soft tendo
sido banidas do comércio (nada sei sobre o mercado negro), ainda assim
há muitas coisas que nos engasgam, entre sólidos, líquidos e emoções
sortidas: quem já não quase sufocou com um beijo? Se for para faltar ar,
que seja por amor, que também é doce.
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