Estado de Minas: 15/10/2013
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O Brasil tomou conta da cidade de Frankfurt na semana passada. O verde-amarelo pôde ser visto em grandes painéis, em diferentes prédios no Centro e em outras áreas distantes. Exposições de arte, peças teatrais, mostras de filmes, shows, performances e debates literários ocorreram em diversos museus, galerias, teatros, salas e auditórios. Brasileiros circulavam pelas ruas, estavam nos trens de metrô e nos pontos de ônibus. Tudo isso, graças à homenagem recebida pelo Brasil na Feira do Livro de Frankfurt deste ano.
O Pavilhão do Brasil, montado num espaço privilegiado da feira, parecia uma instalação de arte. Todo o cenário foi construído de forma a prestar um impactante tributo ao papel e ao livro impresso, em plena época digital. Não se via nenhum daqueles clichês nacionalistas que costumam aparecer em eventos brasileiros para estrangeiro ver. O país em destaque não era folclórico, nem caricatural. E isso foi, a meu ver, um grande acerto da organização. Já era tempo de levarmos ao mundo um país que não se resume a carnaval, praia e futebol.
Aterrissei em Frankfurt na manhã da segunda-feira, dia 7, sob uma chuva fina e descontínua. Ao chegar ao hotel, a primeira pessoa que vi e com quem conversei foi o escritor Luiz Ruffato, que faria, dois dias depois, o contundente e corajoso discurso de abertura da feira. Mais tarde, encontrei-me com diversos outros escritores integrantes da comitiva brasileira, e ainda tive a sorte de sair para jantar com a amiga mineira Ângela Lago e a poeta Alice Ruiz. Fomos a um aconchegante restaurante alemão perto do hotel. E, sob os efeitos do vinho, conversamos, entre outras coisas, sobre os artifícios e sacrifícios a que têm se rendido muitas mulheres maduras hoje em nome da beleza. Tingir os cabelos brancos, por exemplo. Ângela e Alice não tingem os seus, e estão lindas.
Os dias que se seguiram foram intensos. Muitas mesas de discussão, leituras de textos, coquetéis e eventos culturais. Meu filho, que está morando em Londres, chegou na sexta-feira, tornando meus dias em Frankfurt mais felizes. A cidade – oscilando entre horas de chuva e manhãs de sol – convidava aos passeios pelas ruas e pelos museus. Mas só tínhamos tempo, mesmo, para as atividades da feira, e era necessário deixar as outras coisas – como a visita à casa de Goethe – para depois.
O Brasil presente nas mesas de debate da Feira de Frankfurt também não tinha muito a ver com a imagem que os europeus cultivaram, por tanto tempo, da cultura brasileira. O que os escritores levaram para suas discussões foi um Brasil múltiplo, contemporâneo e consciente de suas próprias contradições. Uns se voltaram mais para questões políticas; outros, para a literatura brasileira contemporânea e para questões relativas aos seus próprios trabalhos literários. Muitas leituras de textos foram feitas, com traduções para o alemão ou o inglês.
Ainda fico aqui por mais três dias, para participar de um evento na universidade. E se der, quero ir de trem a algumas cidades próximas, como Heidelberg (uma das mais lindas e cultas cidades alemãs) e Bingen (terra de santa Hildegarda). No mais, é arranjar umas horinhas para curtir os museus, os parques e os bons restaurantes, com direito às incríveis cervejas que só os alemães sabem fazer.
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