domingo, 13 de outubro de 2013

O mercado imobiliário das formigas‏

Estudo britânico mostra que os insetos sondam os arredores em busca de lugares melhores para morar. O objetivo é garantir a segurança da rainha e, consequentemente, da colônia


Vilhena Soares

Estado de Minas: 13/10/2013 




O mercado imobiliário das formigas é tão movimentado quanto o dos humanos, mostra pesquisa realizada por cientistas americanos da Escola de Ciências Biológicas de Bristol, no Reino Unido. Os pequenos insetos, mesmo quando moram em formigueiros que atendem suas necessidades, mudam para uma morada melhor assim que a identificam. Por isso, fazem constantemente passeios pelos arredores, de olho nas melhores “ofertas”.

A descoberta, divulgada no jornal especializado Biology Letters, é fruto de um experimento no qual os cientistas puderam observar o comportamento dos bichos em ninhos artificiais construídos em laboratório. Os cientistas notaram também que as incursões em busca por novas casas ocorrem em grupo, o que acrescenta mais um dado à já famosa organização coletiva das formigas.

Carolina Doran, uma das autoras do estudo, explica que o hábito de esses animais se mudarem constantemente já era conhecido pelos cientistas. No entanto, a nova investigação mostrou que essa migração ocorre mesmo quando o endereço atual atende as necessidades básicas dos bichos. “Devido a esse resultado, podemos assumir que elas monitoram os seus arredores constantemente. E decidimos verificar como elas se comportam quando vivem em ‘casas’ de qualidades distintas”, detalha.


No experimento, os especialistas selecionaram uma colônia de formigas da espécie Albipennis temnothorax, a retiraram do campo onde ela vivia e a transferiram para o laboratório, onde havia cinco ninhos artificiais à disposição. Cada ambiente foi planejado para atender de forma “boa” ou “muito boa” as necessidades do grupo. Os cientistas notaram, então, que, à medida que o tempo passava, os animais seguiam mudando para as casas com mais vantagens – como pouca luz e entradas menores, por exemplo.

Esse movimento mostrou-se ligado a incursões feitas em grupo. “Depois de um período em que elas já tinham se adaptado em um ninho específico, algumas formigas continuavam à procura de um ambiente melhor. Contabilizamos esses grupos e vimos que o número de bichos que seguiam em busca de novos lares foi considerável”, conta Doran.

A autora explica a importância da alternância de endereço para a colônia: “Qualquer espécie age sempre de forma a maximizar seu bem-estar no ambiente em que vive. Para as formigas, é muito importante ter a rainha longe de perigos. Os melhores ninhos são os mais seguros. No entanto, emigrar também pode ser perigoso, por isso é preciso calcular para onde ir”, diz. “Essa estratégia de ajustar a coleta de informações de acordo com as reais necessidades e identificar o valor real das qualidades de uma ‘propriedade’ mostra que as formigas avaliam seu ‘mercado imobiliário’ de uma forma ponderada e completa”, completa.

Divisão de tarefas Pedro Ribeiro, pesquisador e pós-doutorando em fisiologia animal pela Universidade de São Paulo (USP), destaca que a pesquisa dos britânicos mostra um ponto muito interessante no comportamento das formigas: a capacidade de avaliar se algo é bom ou ruim para elas. “O interessante é que esses insetos são capazes de medir a qualidade do ninho onde vivem e agem de acordo com isso na busca de novos locais”, avalia o especialista brasileiro, que não participou do estudo.

O professor ressalta outro dado curioso mostrado pelo trabalho britânico: a diferenciação de tarefas. “Em espécies como essa, existem formigas responsáveis por buscar lugares melhores. Nesse experimento, é possível notar isso claramente: um pequeno grupo segue em busca de um local mais seguro para a rainha. É o pensamento individual e coletivo agindo juntos. Isso mostra que elas têm essa capacidade específica de adequar o comportamento ao contexto em que vivem”, detalha.

Carolina Doran acredita que novos estudo poderão revelar outros comportamentos surpreendentes nas colônias. “Existem muitos aspectos relativos à tomada de decisões que ainda podem ser esclarecidos, e experimentos com esses insetos sociais vão certamente contribuir para esse ramo. No nosso laboratório, em Bristol, estamos muito interessados nesses vários mecanismos e pretendemos nos aprofundar neles”, adianta.


Qualquer espécie age sempre de forma a maximizar seu bem-estar no ambiente em que vive. Para as formigas, é muito importante ter a rainha longe de perigos. Os melhores ninhos são os mais seguros. No entanto, emigrar também pode ser perigoso, por isso é preciso calcular para onde ir” - Carolina Doran, coautora do estudo

Repelente melhorado
Isabela de Oliveira
Publicação: 13/10/2013 04:00
Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram os receptores olfativos que fazem com os mosquitos percebam o princípio ativo da maioria dos repelentes, o deet. Os resultados, que foram publicados na revista Nature, apresentam ainda três compostos seguros que poderiam, um dia, ser usados para prevenir a picada de insetos que transmitem doenças como a malária, a dengue e a febre amarela.

Anandasankar Ray, principal autor do estudo e especialista em entomologia, afirma que, até agora, ninguém tinha a menor ideia sobre os receptores olfativos usados pelos insetos para evitar o deet. Introduzido na década de 1940, esse composto químico utilizado nos repelentes manteve-se inalterado nos últimos 65 anos, em grande parte porque o receptor olfativo dos insetos era desconhecido. “Sem o conhecimento desses receptores é impossível aplicar a tecnologia moderna para conceber novos repelentes e aperfeiçoar o deet”, explica.

Os pesquisadores analisaram todos os neurônios sensoriais da Drosophila melanogaster, a mosca-da-fruta. Ela foi geneticamente modificada para que os neurônios ativados pelo deet apresentassem uma coloração verde fluorescente. Assim, foi possível identificar o Ir40a, receptor que reveste o interior de uma região pouco estudada da antena, o sáculo.

Essa descoberta permitiu que a equipe tentasse descobrir quais substâncias poderiam ser repelentes mais eficientes. “Nossas descobertas podem levar a uma nova geração de repelentes baratos e acessíveis que pode proteger humanos, animais e nossas plantações também”, acredita Ray. 

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