sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Um ardente Planeta Vermelho‏

Um ardente Planeta Vermelho 

Cientistas descobrem que, há 3,5 bilhões de anos, supervulcões entraram em erupção em Marte e provocaram as grandes crateras registradas hoje por satélites e sondas 

Roberta Machado


Estado de Minas: 04/10/2013

Brasília – Estudos detalhados sobre imagens de satélite revelam que Marte tinha supervulcões há bilhões de anos. A descoberta, publicada ontem na revista Nature, pode mudar o que os cientistas sabem sobre o passado geológico do planeta. As crateras, que antes eram relacionadas a impactos de objetos espaciais, são similares às estruturas formadas na Terra por violentas explosões de cinzas, gás e lava. Estima-se que os componentes voláteis expelidos pelas enormes formações sejam responsáveis pela formação da antiga atmosfera do Planeta Vermelho.

Supervulcões produzem mais de mil quilômetros cúbicos de material em uma única erupção e têm um formato diferente das montanhas curvadas que são popularmente associadas a esse fenômeno. As violentas explosões originadas nessas estruturas são como uma pessoa abrindo de uma vez uma garrafa cheia de refrigerante: a mudança de pressão expulsa o líquido do recipiente de uma forma diferente do que aconteceria se a cobertura fosse retirada devagar. A lava expulsa se solidifica no formato de uma parede muito alta, que acaba entrando em colapso. O que sobra é uma grande cratera, também conhecida como caldeira vulcânica.

As ruínas vulcânicas foram encontradas em uma região marciana chamada Arabia Terra, fotografada por satélites e varrida por um equipamento a laser que coleta dados topográficos do espaço. “O que aconteceu é que eu estava originalmente estudando crateras de impacto em Marte e encontrei algumas que não parecem com crateras de impacto de verdade. Algumas têm formatos muito diferentes e evidência clara de vulcanismo”, conta Joseph Michalski, autor da descoberta e pesquisador no Museu de História Natural de Londres.

Provas escassas Caso a origem das crateras seja mesmo vulcânica, estima-se que os vulcões tenham entrado em atividade há mais de 3,5 bilhões de anos. O tempo e a própria ação dos vulcões teriam apagado a maioria das provas do acontecimento geológico — tudo em um planeta que ainda está fora do alcance de qualquer ser humano. “Em geologia, nós nunca podemos absolutamente provar a origem de alguma coisa sem qualquer tipo de dúvida. Mas, nesse caso, podemos apresentar uma forte teoria, que construímos por anos de pesquisa”, acredita Michalski.

De acordo com Michalski, os gases expelidos por esses supervulcões podem ter uma participação importante na formação da atmosfera de Marte, assim como importantes mudanças climáticas que ainda não são bem compreendidas pelos cientistas. Os supervulcões também podem ser a fonte da grande quantidade de material vulcânico encontrado em todo o Planeta Vermelho. Erupções seguidas de terremotos e emissões de gás teriam levado a uma enorme explosão da crosta superior do planeta, cobrindo o solo com uma grande camada de cinzas.

Até então, os sedimentos que cobrem o solo marciano eram considerados uma misteriosa peça do quebra-cabeça que remonta o passado de Marte, pois ainda não haviam sido encontradas estruturas geológicas grandes o suficiente para causar o fenômeno. Embora existam caldeiras similares na Terra, pesquisadores acreditam que o mesmo não aconteceu devido à diferença de pressão das crostas dos planetas: a terrestre é maior, o que significa que a origem da lava é mais superficial e surge com menos expansividade.

Novas provas dependem de análises feitas diretamente com as rochas magmáticas do Planeta Vermelho, como as feitas pelo rover Curiosity há um ano. “É possível inferir aspectos da composição do manto de onde o magma foi gerado e a pressão e temperatura em que ocorreu a fusão. Também é possível inferir as condições que levaram à cristalização do magma”, enumera Edward Stolper, pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
Recentemente, Stolper e um grupo de pesquisadores foram capazes de apontar que a formação de rochas magmáticas no Planeta Vermelho é parecida com o mesmo processo terrestre. “Isso foi inesperado”, conta Stolper.

Nenhum comentário:

Postar um comentário