sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Vacina desenvolvida no Canadá pode aumentar proteção contra tuberculose

Injeção de vírus contra a tuberculose 

Vacina desenvolvida no Canadá poderá ser aplicada com a BCG e aumentar proteção em adultos. Durante testes, imunização aumentou número de células de defesa dos voluntários



Isabela de Oliveira


Estado de Minas: 04/10/2013 


Pesquisadores canadenses divulgaram hoje, na revista Science Translational Medicine, os resultados dos primeiros testes feitos com uma vacina que pode aumentar a eficiência da imunização contra a tuberculose. Projetada na McMaster University, em Ontário, para ser aplicada após a vacinação inicial com a BCG, a terapia obteve boas respostas em testes de fase 1 com humanos. A BCG é a única imunização disponível contra a doença. A que está em teste, chamada de AdHu5Ag85A, não provocou efeitos colaterais relevantes nas cobaias e ainda aumentou a quantidade de células de defesa.

Embora consiga imunizar com sucesso bebês e crianças, a BCG encontra dificuldades em proteger adultos contra a infecções pulmonares causadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, agente também chamado de bacilo de koch e causador da tuberculose. Os testes clínicos foram realizados com 24 homens e mulheres saudáveis, sendo que alguns haviam sido previamente imunizados. Todos receberam uma única dose da AdHu5Ag85A e nenhum resultado adverso considerável foi registrado. A vacina conseguiu potencializar dois tipos de linfócitos T auxiliares, os CD4+ e CD8+, em especial no grupo que já havia sido vacinado com a BCG.


Zhou Xing, um dos pesquisadores da McMaster University, explica que a vacina foi desenvolvida a partir do adenovírus recombinante humano tipo 5, o AdHu5. Esse tipo de vírus quando manipulado é capaz de expressar um antígeno da bactéria causadora da tuberculose para ativar as células T — responsáveis pela imunidade celular e pela produção de anticorpos. “A vacina AdHu5Ag85A foi um sucesso. Também demonstrou ser eficiente quando usada de forma independente e como uma otimizadora da BCG em murinos, porquinhos-da-índia , cabras e bovinos com tuberculose pulmonar”, disse Xing. 


Luiz Castello-Branco, diretor científico da Fundação Ataulpho de Paiva, única produtora da BCG no Brasil, explica que a nova vacina está longe de chegar ao mercado, pois o estudo clínico ainda está na primeira fase. Segundo o médico, que não participou do estudo, na fase 1, é verificada a segurança e a ação imunogênica do produto. O projeto ainda precisará passar por duas etapas, quando será verificada a ação do imunizador em doentes, crianças e grandes populações.

“Há pouco tempo, tínhamos um modelo de vacina que estava bem evoluída, já na fase 2. No início do ano, ela foi testada e parecia ser uma boa coadjuvante à BCG, dada como reforço. Era também feita com vírus, produzida por pesquisadores da Universidade de Oxford, mas obteve resultados ruins. Essa vacina produzida pelos canadenses pode ser algo interessante, mas ainda não podemos avaliar se ela poderá realmente ajudar. Eu espero que sim”, diz Castello-Branco.

Problema mundial Xing destaca quer a tuberculose continua sendo uma das principais causas infecciosas de morte no mundo. Cerca de 1,4 milhão de pessoas morrem a cada ano por causa da doença e um terço da população mundial está infectada de forma latente pela bactéria. Há anualmente entre 8 a 9 milhões de novos casos de tuberculose registrados no mundo, sendo os soropositivos os mais suscetíveis à doença. Pelo menos um terço dos pacientes com AIDS não resiste a ela. 


O Brasil está entre os 20 países de maior carga de tuberculose no mundo, com cerca de 72 mil novos casos e 4,5 mil mortes por ano. Os estados mais atingidos são Rio de Janeiro e Amazonas. Castello-Branco explica que a mortalidade de crianças relacionada à bactéria, como meningite tuberculosa, foi reduzida drasticamente desde que a vacina começou a ser aplicada na década de 1930. “Para as crianças, portanto, há um claro benefício. No entanto, a eficácia da BCG nos adultos é de cerca de 48%.”


Segundo Lindivânia Brandão, coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em 2011, a média de cura da doença no Brasil foi de 75,4% e de 83% no DF. Ela destaca que o grande dificultador do combate à doença, principalmente por parte dos adultos, é o abandono do tratamento. “É longo, dura seis meses. Ao perceberem uma melhora no primeiro mês, os pacientes acabam abandonando os medicamentos. Além de vacinas, precisamos de um tratamento supervisionado que instrua melhor a comunidade”, conclui Lindivânia.


UFMG avalia testes de diagnóstico da doença

Descobrir se novos kits de diagnóstico são eficazes e se atendem aos requisitos necessários para serem usados na rede pública de saúde é o principal objetivo da pesquisa “Avaliação de custo-efetividade por meio de amplificação de ácido nucleico para o diagnóstico da tuberculose”, conduzida pelo Laboratório de Microbactérias da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A iniciativa tem apoio do Hospital das Clínicas da UFMG, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Os testes também serão realizados em outros dois estados, nas cidades de Manaus e Rio de Janeiro, para comparação dos resultados.


Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil ainda faz parte da lista de 22 países com maior número de casos da doença. São em torno de 70 mil novos registros, por ano. Só em Belo Horizonte, cerca de mil novos, e na região metropolitana, mais de 2 mil a cada ano. Em média, a cada dia morrem 16 pessoas vítimas da tuberculose na região. De acordo com a pneumologista Silvana Spindola de Miranda, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG que coordena a pesquisa no estado, a partir da autorização expressa dos pacientes do Hospital das Clínicas da UFMG suas amostras respiratórias serão testadas usando o kit Molecular Detect-TB Labtest.

A médica explica que o novo método, altamente sensível e específico, deverá levar cerca de dois dias para ficar pronto. Atualmente, os exames negativos, que exigem a cultura de células para confirmação, podem levar até 8 semanas. Assim, como os exames de diagnóstico realizados não são tão sensíveis e específicos, e apresentam grande probabilidade de erro. Por isso, mesmo sem um diagnóstico confiável, muitos pacientes são tratados. 


Mal de todos os séculos A tuberculose é uma doença de causa bacteriana e que está relacionada com a pobreza, condições precárias de saúde, alcoolismo e doenças crônicas como diabetes. Na maioria das vezes ela compromete os pulmões, mas pode afetar outros órgãos e sistemas do organismo. Apesar de o tratamento ser financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o principal problema para o devido controle da tuberculose é o abandono do tratamento. “Quando o tratamento é iniciado, o paciente já percebe que sintomas como tosse, febres e outros são reduzidos e, por isso, acha que já está curado. Isso é grave, pois é comprovado que a doença não é curada em menos de seis meses”, alerta a professora. Pessoas com tuberculose ativa podem transmitir a doença através de espirros, tosse e também ao falar. “Por isso a importância da conscientização, principalmente em locais com maior incidência, e métodos mais eficazes para o diagnóstico”, ressalta Silvana.

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