Assim que chegaram
àquele prédio, no Bairro Santo Antônio, onde iriam fazer a entrega de
dois colchões, um de solteiro e outro de casal, num apartamento do 14º
andar, o porteiro, com cara de poucos amigos, disse aos dois rapazes,
quase meninos, que naquele dia não iria ser possível, porque tinha
acontecido um pequeno acidente. “Uma doida do quarto andar, ontem à
tarde, esqueceu a máquina de lavar roupas funcionando e inundou tudo,
inclusive o elevador de serviço, que tivemos de desligar”, completou,
sem oferecer aos moços nenhuma alternativa.
“E por este outro, o social? A gente sobe rapidinho com os colchões”, tentou argumentar um dos rapazes, que pelo sotaque, meio cantado, devia ser do Norte de Minas ou até mesmo da Bahia. “Não vai dar amigo, é expressamente proibido pelo regulamento interno do condomínio transportar qualquer mercadoria, incluindo animais, pelo elevador da frente”, foi taxativo o porteiro, já mostrando-se meio irritado com aquela conversa. Em seguida, dando por encerrado o assunto, foi atender o interfone.
“Mas moço, a gente veio de longe. O depósito da firma é perto de Santa Luzia, não podemos voltar com os colchões e ainda temos mais entregas para fazer”, foi a vez de o outro rapaz, um tipo muito branco e com o rosto cheio de espinhas, tentar convencer o porteiro a quebrar aquele galho. “Já falei que não posso fazer nada. Não é má vontade não, é porque, se eu deixar vocês subirem com esses colchões, posso até perder meu emprego, tá entendendo?”, respondeu, já com a voz alterada, depois de ter desligado o interfone. Na sequência, enquanto os moços permaneciam ali, sem saber o que resolver, o porteiro ajudou uma senhora idosa moradora do prédio a tomar um táxi e atendeu um funcionário dos Correios.
Seguiram-se então alguns instantes de silêncio, com o impasse criado: de um lado os dois rapazes, com os colchões encostados na entrada do prédio; do outro, o porteiro, que se mostrava irredutível. “E se você fizer um favor pra nós, meu mano, e conversar com o síndico, às vezes ele abre uma exceção ”, disse o que parecia ser do Norte de Minas ou baiano. “É síndica, amigo, e além do mais é uma coroa muito chata. Não é sacanagem minha, mas não vai adiantar falar com ela. Já aconteceu outras vezes e não deu em nada.”
“Mas, moço...”, ainda tentou o entregador que, sem outra saída, pegou o celular e ligou para o escritório da firma, explicando a situação. “Voltar com os colchões, de uma distância destas...?, Nem pensar, vocês ficaram doidos?”, foi a resposta do gerente, quase aos gritos, que veio do lado de lá. Então, os dois rapazes, quase meninos, não tiveram outra alternativa: xingaram um pouco, amaldiçoaram aquele emprego, do qual já estavam de saco cheio, pela miséria que ganhavam, e encaram os 14 andares.
“E por este outro, o social? A gente sobe rapidinho com os colchões”, tentou argumentar um dos rapazes, que pelo sotaque, meio cantado, devia ser do Norte de Minas ou até mesmo da Bahia. “Não vai dar amigo, é expressamente proibido pelo regulamento interno do condomínio transportar qualquer mercadoria, incluindo animais, pelo elevador da frente”, foi taxativo o porteiro, já mostrando-se meio irritado com aquela conversa. Em seguida, dando por encerrado o assunto, foi atender o interfone.
“Mas moço, a gente veio de longe. O depósito da firma é perto de Santa Luzia, não podemos voltar com os colchões e ainda temos mais entregas para fazer”, foi a vez de o outro rapaz, um tipo muito branco e com o rosto cheio de espinhas, tentar convencer o porteiro a quebrar aquele galho. “Já falei que não posso fazer nada. Não é má vontade não, é porque, se eu deixar vocês subirem com esses colchões, posso até perder meu emprego, tá entendendo?”, respondeu, já com a voz alterada, depois de ter desligado o interfone. Na sequência, enquanto os moços permaneciam ali, sem saber o que resolver, o porteiro ajudou uma senhora idosa moradora do prédio a tomar um táxi e atendeu um funcionário dos Correios.
Seguiram-se então alguns instantes de silêncio, com o impasse criado: de um lado os dois rapazes, com os colchões encostados na entrada do prédio; do outro, o porteiro, que se mostrava irredutível. “E se você fizer um favor pra nós, meu mano, e conversar com o síndico, às vezes ele abre uma exceção ”, disse o que parecia ser do Norte de Minas ou baiano. “É síndica, amigo, e além do mais é uma coroa muito chata. Não é sacanagem minha, mas não vai adiantar falar com ela. Já aconteceu outras vezes e não deu em nada.”
“Mas, moço...”, ainda tentou o entregador que, sem outra saída, pegou o celular e ligou para o escritório da firma, explicando a situação. “Voltar com os colchões, de uma distância destas...?, Nem pensar, vocês ficaram doidos?”, foi a resposta do gerente, quase aos gritos, que veio do lado de lá. Então, os dois rapazes, quase meninos, não tiveram outra alternativa: xingaram um pouco, amaldiçoaram aquele emprego, do qual já estavam de saco cheio, pela miséria que ganhavam, e encaram os 14 andares.
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