O Globo - 08/11/2013
Governo cria grupo para casos de vandalismo em atos, nos moldes dos que atuam em estádios
BRASÍLIA E SÃO PAULO - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou ontem a criação de uma força-tarefa para apurar e julgar casos de violência em manifestações de rua. Batizada de Pronto Atendimento Judicial, a força-tarefa deverá atuar nos mesmos moldes dos juizados especiais instituídos em estádios de futebol no país. Cardozo fez o anúncio depois de se reunir com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e com os secretários de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e de São Paulo, Fernando Grella.
A
criação da força-tarefa judicial faz parte do pacote de medidas que o
governo federal começou a preparar depois do recrudescimento da
violência em protestos de rua, principalmente em São Paulo e no Rio de
Janeiro. A reunião de ontem teve a participação também do desembargador
Flávio Sirangelo, representante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e
do advogado Cláudio Pereira de Souza, um dos dirigentes da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB). A proposta de criação do Pronto Atendimento
Judicial partiu de Sirangelo e teve imediata acolhida.
—
A proposta que nós trouxemos é encaminhar soluções, dar agilidade à
persecução penal das pessoas que cometem esses delitos, esses atos de
vandalismo, de modo a que se encerre um período de impunidade que possa,
eventualmente, ter acontecido — disse Sirangelo. O desembargador
participou da reunião em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Joaquim Barbosa. Segundo Cardozo, a proposta será submetida agora
à apreciação dos presidentes dos tribunais de Justiça do Rio e de São
Paulo. Os magistrados poderão fazer sugestões para ampliar a linha de
atuação das forças-tarefas.
Mas
a ideia é que os grupos reproduzam a estrutura operacional dos juizados
instalados em estádios de futebol para conter os excessos de torcidas
organizadas em meio às multidões de torcedores. Nesses casos, abusos
são apurados e julgados em tempo recorde. Não está claro, no entanto, se
as forças-tarefas terão poderes de estabelecer medidas judiciais
drásticas como penas de prisão ou se apenas medidas cautelares, como
restrições de direito. Cardozo reafirmou que o Estado tem o dever de
garantir a liberdade de manifestação, mas não pode tolerar, em nenhuma
hipótese, a violência e a depredação de patrimônio, como aconteceu em
alguns dos mais recentes protestos.
FÓRUM EM BUSCA DE DIÁLOGO
Ele
também anunciou a criação do Fórum Social de Diálogos das
manifestações. O fórum deverá servir de espaço para que cidadãos comuns
ou agentes públicos apresentem queixas contra excessos contra violência
ou desrespeito de garantias individuais. A sugestão foi apresentada pelo
procurador-geral e foi inspirada nos fóruns de debate sobre conflitos
agrários. Durante a reunião, Janot disse que os fóruns serviram para
facilitar decisões sobre posse de propriedades rurais e, com isso,
reduzir tensões no campo.
O
procurador-geral se comprometeu a apresentar os detalhes da proposta
até o final do mês. Na semana passada, Cardozo anunciou a primeira parte
do pacote de medidas anti-violência nas manifestações. Entre as
propostas está a criação de um padrão de atuação das polícias militares
do Rio e de São Paulo durante os protestos. O chamado protocolo de
atuação das polícias dos dois estados, palcos das maiores manifestações
até o momento, deverá servir de modelo para outras unidades da
Federação.
O
protocolo deverá definir questões que vão de posicionamento das tropas
aos tipos de armas a serem usadas nas ações policiais. Na reunião da
semana passada, surgiu a ideia de se aumentarem penas para quem comete
danos ao patrimônio público e privado e para quem atacar agentes do
Estado, especialmente policiais. Todas as sugestões deverão ser
arrematadas até o final deste mês por um grupo especial formado por
representantes do Ministério da Justiça, das secretarias de Segurança
Pública do Rio e de São Paulo, do Conselho Nacional de Justiça, do
Conselho Nacional do Ministério Público e da OAB.
Acusado de agredir coronel em manifestação é solto em São Paulo
A
Justiça de São Paulo concedeu ontem liberdade ao estudante
universitário Paulo Henrique Santiago dos Santos, suspeito de participar
do espanca- mento do coronel da Polícia Militar (PM) Reynaldo Simões
Rossi, durante protesto no último dia 25 na região do terminal Parque
Dom Pedro II, no centro de São Paulo.
A
soltura, segundo o juiz Alberto Anderson Filho, da 1ª. Vara do Júri,
acontece após diligências que contribuíram para a elucidação do caso e
pelo fato de o Ministério Público não oferecer denúncia contra o
suspeito. Uma semana apos o fato, o mesmo magistrado alegou, após pedido
de liberdade da defesa, “manutenção da ordem pública" para manter
Santos preso.
"Tendo
em vista que não foi oferecida denúncia pelo Ministério Público e que
foram requeridas novas diligências para perfeita elucidação do caso, a
fim de não causar constrangimento ilegal para o indiciado, com excesso
de prazo que certamente ocorrerá, mediante compromisso de com- parecer
mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades, bem
como endereço, de estar presente a todos atos processuais e ainda de não
participar de qualquer atos ou manifestações públicas, não frequentar
bares, casas noturnas, locais de reunião e aglomeração de pessoas,
exceto a faculdade que está cursando, concedo liberdade provisória ao
indiciado disse o juiz na decisão desta quinta-feira.
Santos
foi preso indiciado por tentativa de homicídio e associação criminosa
após um protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), pela
adoção da tarifa zero no transporte público. Rossi teve a clavícula
quebrada e ferimentos na perna e na cabeça. Santos nega ter participado
das agressões. Ele era o único sem máscara entre os suspeitos de
envolvimento no espancamento.
A
defesa do estudante, feita pelo escritório Braga Martins Advogados,
diz, em nota, que “em nenhum momento ele pode ser visto em cenas de
agressão ou depredando o patrimônio público” e “quem aparece agredindo o
policial é um indivíduo desconhecido e que está mascarado, sendo que
Paulo estava sem máscara (por não pertencer aos Black Blocs) e inerte”.
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