Me recuso a comprar automóvel anunciado como ideal para fugir dos tiros de metralhadora disparados de um helicóptero
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 06/11/2013
Como lhes
contei na edição da última segunda-feira, passei dias hospedado numa
UTI, sigla de unidade de terapia intensiva, de bom hospital juiz-forano.
Sempre supus que UTI fosse um conjunto de leitos dispostos lado a lado,
em sala imensa, cada um ocupado por dama ou cavalheiro agonizante.
Enganei-me.
A UTI que me hospedou é composta de um conjunto de salas, cada qual com
aproximadamente 25m2, um leito e uma infinidade de máquinas fixas e
outra infinidade de máquinas móveis, que circulam de sala em sala, sem
olvidar a infinidade de médicos, enfermeiros e técnicos trabalhando 24
horas por dia, de segunda a segunda, inclusivamente aos sábados e
domingos.
Hospedagem que deve custar uma fortuna. Não sei, porque
tudo correu por conta dos planos de saúde: tenho dois. Por baixo, cada
leito de UTI não pode custar menos que R$ 5 mil/dia. Isso,
evidentemente, nos hospitais normais, porque há UTIs em dois hospitais
paulistas, preferidas pelos bandidos especializados no desvio de
dinheiro público, que devem custar muito mais. É certo que as duas
também cuidam de brasileiros honestos, mas se notabilizaram pelos
ladrões que têm hospedado geralmente com sucesso clínico. Amanhã tem
mais.
Pilosidades
Mr. King Camp Gillette
(1855–1932) inventou a lâmina de barbear no tempo em que os homens
sérios usavam navalhas suecas, se possível da marca Três Coroas. Sou do
tempo das navalhas e não me ajeitei com elas, preferindo aderir ao
invento do americano nascido em Fond du Lac, Wisconsin, para esticar as
canelas aos 77 anos em Chicago, Illinois.
De duas, uma: ou as
suas lâminas eram muito caras ou muito pobres os meus primos, porque me
lembro da maioria deles amolando as lâminas para a Gillette durar. O
“amolador” era um cálice de vidro, desses usados para beber cachaça.
Rodando a Gillette blue blade por dentro do cálice o primo achava que a
lâmina durava meses.
A exemplo de tantas outras coisas, a lâmina
de barbear mudou muito, surgiu a concorrência e o sábio philosopho,
depois de um período em que exibiu indecorosos cavanhaque e bigode,
aderiu ao rosto barbeado com o Bic de três lâminas. Gosto muito dos
produtos de Marcel Bich, italiano que fundou a empresa Bic depois de
eliminar o agá de seu nome, porque em inglês soava como bitch – cadela,
vagabunda, puta.
Influenciável pela propaganda, pedi à secretária
que me comprasse um pacote da Gillette, junto com os cinco da Bic,
todos com três lâminas. Levo muito a sério o trabalho de todas as
agências de propaganda, tanto assim que sou incapaz de comprar uma
picape anunciada na tevê com as seguintes credenciais: “O mundo ainda
vai maltratar muito esta camionete”. Prefiro comprar veículo de outro
fabricante, que não seja anunciado por sua aptidão para ser maltratado.
Como também me recuso a comprar automóvel anunciado como ideal para
fugir dos tiros de metralhadora disparados de um helicóptero.
Isto
posto e com pureza de alma, como sempre, posso contar ao pacientíssimo
leitor que experimentei o Gillette de três lâminas e constatei que não é
pior do que o Bic: é mil vezes pior. Opinião pessoal, direito meu:
comprei, paguei, usei, opinei.
Derrapagens
Dia
desses, encaminhei bilhete a ilustre escritor, que acumula as funções
de magistrado, começando com “Presado doutor”. E o Windows 7 não
sublinhou de vermelho o adjetivo e substantivo masculino presado, o que
se explica: é o mesmo que apresador, que ou o que apresa. O certo é que
não me lembro de ter incorrido no presado em lugar de prezado. Fiquei
preocupado.
Dois dias depois embarquei numa “viajem de
primeiríssima classe”, repassando e-mail que me foi mandado por um dos
maiores cultores da língua portuguesa. Repassei seu e-mail sobre o voo
Tailândia-Hong Kong numa empresa asiática em Airbus A-380: um luxo só,
mas o substantivo viagem é com gê.
Donde se conclui que, em
português, há que desconfiar. Não por acaso, Abgar Renault dizia
escrever com alguma correção porque era muito desconfiado.
O mundo é uma bola
6
de novembro de 1430: coroação de Henrique IV, de Inglaterra. Depois do
V, do VI e do VII, os ingleses conheceriam Henrique VIII, aquele que
tinha mania de mandar matar suas mulheres na Torre de Londres sob
acusação de adultério, sinal de que era vocacionado para receber pares
de chifres em sua testa real.
Em 1797, o tzar Paulo I assume o
poder na Rússia depois da morte de sua mãe, a imperatriz Catarina, a
Grande. Em 1817, o futuro Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal se
casa com Leopoldina, aliás Caroline Josepha Leopoldine Franziska
Ferdinanda von Habsburg-Lothringen, nascida em Viena, Áustria.
Em
1844, a República Dominicana, que produz bons charutos, se torna
independente do Haiti, que continua sendo o Haiti. Em 1913, prisão de
Gandhi quando liderava marcha de mineiros indianos na África do Sul.
Deve datar daí seu relacionamento homoafetivo com um alemão, que a
bisbilhotice biográfica internacional andou citando recentemente.
Hoje é o Dia Nacional do Riso e o Dia Nacional do Amigo da Marinha do Brasil.
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