Palavras
As autoridades têm encontrado dificuldades para bloquear os sinais de celulares nos presídios
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 27/11/2013
Como termo
jurídico, egresso significa indivíduo que, tendo cumprido toda a pena,
sai do estabelecimento prisional, readquirindo a liberdade. Em rigor,
tanto o adjetivo como o substantivo têm outros significados: que se
retirou, que se afastou, que não mais pertence a um grupo. E ainda o de
indivíduo que deixou o convento, ex-frade, não me perguntem por quê. O
fato é que o termo jurídico tomou conta da palavra, o que me faz lembrar
episódio ocorrido no tempo de antigamente, quando um chefe de seção do
Banco do Brasil traçou o perfil de um funcionário que deveria ser
promovido. O bancário, chamado Presídio, trabalhara durante anos como
caixa no Departamento de Tesouraria, e o seu novo chefe, no elogio,
começou: “Egresso da Tesouraria...”. O chefão deles todos, que tinha
graça, quando viu o texto chamou o autor: “O rapaz se chama Presídio e
você diz que ele é egresso. Muda isso, que pega mal para ele”. Assim se
fez e o Presídio foi promovido. Já que a palavra veio à baila,
concordemos em que cadeia, calabouço, cana, cárcere, enxovia, ferros,
grades, masmorra, penitenciária, presídio, xadrez e xilindró são
sinônimos.
Vejo que as autoridades têm encontrado dificuldades
para bloquear os sinais de celulares nos presídios. Ao bloquear,
bloqueiam também o sinal nos bairros do entorno. As operadoras, por seu
turno, se defendem dizendo que sua função é levar, não bloquear os
sinais. Daí a pergunta que faço ao leitor: quem foi que disse que
presídio deve ter luz elétrica? Montaigne, Cervantes, Shakespeare,
Goethe viveram sem eletricidade. Será que o Nem, o Marcola, e o
Beira-Mar precisam de tomadas para carregar as baterias dos seus
celulares? Impedir a entrada dos telefoninhos é muito difícil. Meses
atrás, no presídio de Paracambi (RJ), uma mulher amantíssima, ao visitar
seu marido e senhor, transportava quatro celulares, algumas baterias e
uma dose generosa de maconha num único orifício de sua anatomia. Fato de
provocou imensa manchete de primeira página no jornal regional: Que
vaginão!
Chefe de estábulo
Contratado
pela Cooperativa Central dos Produtores de Leite (CCPL), o zootecnista
argentino chegou disposto a produzir leite da melhor qualidade no estado
do Rio de Janeiro. Uma de suas primeiras providências foi recomendar
que os retireiros passassem a trabalhar de short, para evitar que
limpassem as mãos nas calças, tornando a limpá-las quando as calças
ficam imundas, misto de urina de vaca e leite azedo. Sempre que vejo a
notícia de uma união como a do senhor Fábio Souza, barbudo, bigodudo e
cabeludo, marido de papel passado e aliança no anular do senhor
Alexandre Herchcovitch, me lembro do argentino dr. Degrandi. Correndo a
notícia do short para tirar leite, o chefe de estábulo do fazendeiro
Rodolpho Figueira de Melo pediu as contas. Funcionário exemplar,
mungidor excepcional, assustou o patrão ao pedir as contas. Rodolphinho
pensou que fosse questão de dinheiro e se prontificou a reajustar o
salário do empregado, que foi admirável: “Gosto muito da fazenda e do
senhor, doutor Rodolpho, mas não fico de perna de fora na frente de
ninguém”.
Delícia...
Parte da medicina
que estuda as doenças vasculares e o seu tratamento, a angiologia tem
invenções formidáveis, a melhor das quais é um negócio chamado meia
elástica. Philosophos caminhados em anos, que passam horas sentados
diante de computadores, devem usar as tais meias para evitar uma série
de problemas que não conheceriam se tivessem vivido menos primaveras.
Meias de mor qualidade, que deixam os dedinhos de fora, custam R$ 150 o
par. Exigem assistência domiciliar de calçadoras de peúgas, considerando
que a tarefa é impossível para o utente. Ao descalçar, o referido
utente também requer assistência, sob pena de recorrer a uma tesoura e
perder os R$ 150, enquanto jura jamais comprar outro par de peúgas. Às
voltas com esse dilema atroz, a vítima acaba concluindo que é melhor
afrontar os mandamentos angiológicos, do que sofrer de cotio, a cote,
cotidianamente. Vale notar que as duas senhoras que me ajudaram a calçar
as meias confessaram que, nas respectivas gestações, foram aconselhadas
a usar peúgas elásticas. Ambas compraram as meias, usaram uma vez e
jogaram fora.
O mundo é uma bola
27 de
novembro de 1807, diz a Wikipédia, “a família real portuguesa foge para o
Brasil na sequência da invasão do país por tropas napoleônicas”. Pelo
napoleônicas dá para perceber que o texto foi escrito em Portugal.
Parece-me que “foge” é pouco simpático: prefiro “transmigra”, do verbo
transmigrar: mudar(-se) de uma região, país etc. para outro. Em 1912,
França e Espanha assinam um tratado segundo o qual todas as terras do
que é atualmente Marrocos, ao sul do Rio Drá, passariam a estar sob
domínio espanhol; esse território teve as designações de colônia de Cabo
Juby e Zona Sul do protetorado espanhol de Marrocos, informação da
maior utilidade para os atleticanos que vão assistir aos jogos do
Mundial de Clubes. Hoje é o Dia do Técnico de Segurança no Trabalho.
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