quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Consumo e empresas nas favelas Luiz Barretto‏

Consumo e empresas nas favelas 
 
Luiz Barretto
Presidente do Sebrae Nacional

Estado de |Minas: 12/12/2013


O aumento de renda registrado nos últimos anos e o mercado interno de mais de 100 milhões de consumidores criam uma conjuntura muito positiva para  empresas no Brasil. A inclusão recente de 40 milhões de pessoas na classe média é uma oportunidade que estimula o consumo e a abertura de negócios. Um exemplo claro desse processo é o retrato atual dos pequenos negócios nas favelas, onde o empreendedorismo se reforça como alternativa de geração de renda e de emprego e se beneficia diante de um novo público com mais condições de comprar serviços e produtos.

De um total de 11,7 milhões de brasileiros que moram em favelas, cerca de 20% vivem economicamente de um pequeno negócio. Quase a metade desses empreendedores iniciou essa atividade há menos de três anos, em sintonia com o incremento do poder de consumo registrado no país nos últimos anos. Esses dados são de uma pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular, com apoio do Sebrae, que registra um movimento positivo em 63 comunidades do país.

O estudo entrevistou 2 mil pessoas e revelou avanços do empreendedorismo nas favelas: 64% dos donos de pequenos negócios entrevistados informaram que estão indo bem ou muito bem na sua atividade. Trinta por cento avaliaram o andamento dos negócios como estável e 90% dos empreendedores nas favelas esperam manter ou expandir os negócios nos próximos 12 meses.

Os pequenos negócios encontram nas favelas um grande potencial de consumidores. A pesquisa indicou que 65% dos moradores das comunidades pesquisadas pertencem à classe média. O poder de consumo desse público está estruturado mais no aumento do número de trabalhadores formais e menos nas políticas de transferência de renda. Os moradores das favelas brasileiras têm uma renda anual superior a R$ 63 bilhões, valor próximo ao PIB da Bolívia.

O Sebrae está trabalhando diretamente com esses empreendedores para aumentar essa riqueza. Um exemplo são as ações executadas no Rio de Janeiro, onde a coleta de dados e os atendimentos empresariais foram viabilizados com o trabalho de pacificação em favelas antes dominadas pelo tráfico de drogas. Desde 2010, foram feitos mais de 30 mil atendimentos no Rio. A experiência carioca está sendo replicada em outros estados e deve ser expandida.

O empreendedorismo nas favelas foi muito estimulado com a criação da figura do microempreendedor individual (MEI), em 2009, que incentivou, desde então, a formalização de quase 4 milhões de pessoas em todo o país. São profissionais que trabalham por conta própria, com faturamento bruto anual de no máximo R$ 60 mil. A formalização é gratuita e pode ser feita em poucos minutos pela internet. A carga tributária mensal é inferior a R$ 40.

Os MEIs são destaque no crescimento significativo dos pequenos negócios, que representam quase 8 milhões de empreendimentos no país. Há uma década, metade das empresas não completava dois anos. Atualmente, de cada 100 novas empresas, 76 conseguem superar essa fase crítica inicial. Esse quadro positivo é reflexo direto de fatores como o aumento do nível de escolaridade dos empreendedores.

São indicadores positivos como esses que desejamos reforçar nas favelas. Assim, será mais viável e mais rápido concretizar algumas das intenções manifestadas pelos entrevistados. O estudo apontou uma alta identificação dos moradores com suas comunidades: 81% deles gostam de viver onde moram e 66% do total de pessoas ouvidas não querem sair da favela. Mais da metade dos entrevistados acreditam que a favela melhorou e 76% acreditam que vai melhorar ainda mais.

Sem dúvida, o empreendedorismo tem muito a contribuir para realizar essas expectativas. Quanto mais atividades empreendedoras, maiores a força e a estabilidade da economia de um país. Esse é um caminho promissor para a melhoria da qualidade de vida não só nas favelas, mas em toda a sociedade brasileira.

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