Tereza Cruvinel - Fora de hora
Estado de Minas: 12/12/2013
Começa hoje o 5º
Congresso do PT, que boa parte dos petistas graduados considera
inoportuno e, se pudessem, adiariam. Como a direção já foi renovada pelo
voto direto em novembro, e o momento não recomenda ações reformadoras
de grande envergadura nas vésperas do ano eleitoral, o grande encontro
servirá para a reafirmação da candidatura de Dilma, que aparecerá ao
lado de Lula para desestimular qualquer movimento “queremista”, e para a
realização do primeiro ato oficial de solidariedade do partido aos
petistas presos — o ex-ministro José Dirceu, o ex-tesoureiro Delúbio
Soares e o ex-presidente da legenda José Genoino.
Para começar,
os delegados são os mesmos que recentemente votaram o processo de
eleições diretas dos novos dirigentes nacionais, regionais e locais.
Logo, não há clima mudancista nem disposição renovadora entre os que
participarão de um congresso concebido inicialmente para atualizar os
compromissos programáticos do partido, 10 anos depois de sua chegada ao
poder, e de todas as mudanças ocorridas no mundo e no país, nesse
período. Como diz uma eminência petista quase irritada com o Congresso,
um encontro que não foi precedido de um franco e vigoroso debate nas
bases, como ocorria antigamente, não levará a uma formulação inovadora
sobre “o Brasil que queremos”, como sugere a propaganda do evento.
E
isso não ocorreu, entre muitas outras razões, porque o momento não
recomenda. Às vésperas de um ano eleitoral, em que estará em causa a
Presidência da República, conquistada em 2002, nenhum partido abrirá um
processo revisionista, para usar um chavão da esquerda. O momento é de
destacar acertos, não de repisar os erros, embora isso deva ser feito na
hora adequada, diz a mesma fonte do partido. O momento ideal para a
realização de tal congresso, diz o petista ilustre, seria no início de
2015, qualquer que fosse o resultado eleitoral de 2014. Com Dilma
reeleita, o segundo mandato estaria em debate, pois tal como 66% da
população que, segundo as pesquisas, deseja mudanças na orientação do
governo, os petistas querem mudanças de rumo em algumas áreas no
eventual segundo mandato de Dilma. Em caso de derrota, um congresso em
2015 também viria a calhar, abrindo espaço para a catarse do revés e o
debate sobre as necessárias correções. Mas agora, com todo mundo se
armando para a campanha, não é hora de remexer feridas ou mexer em
programa partidário. No máximo, será aprovado o documento elaborado por
Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais da
Presidência da República, que atualiza algumas questões programáticas,
especialmente pela inclusão de temas novos que não apareciam no programa
original.
Num congresso de discussões políticas rarefeitas, o
grande momento será hoje à noite, na abertura, que terá as participações
de Lula e Dilma, e Rui Falcão será reempossado na presidência. A
aparição conjunta dos dois servirá para inibir algum eventual coro de
“volta, Lula”. O próprio Lula teria recomendado este formato. E amanhã,
pela manhã, ocorrerá o ato de solidariedade aos petistas presos, bem
como homenagens póstumas ao governador de Sergipe, Marcelo Déda, e ao
ex-ministro Luis Gushinken, que morreram este ano.
Ou seja, muito
barulho por quase nada, mas, como em política não existe gesto inútil,
os fotógrafos é que trabalharão muito, para atender o batalhão de
candidatos que vão querer uma foto posada ao lado de Lula. Ou de Dilma.
Por via das dúvidas, com os dois.
Companhias de viagem
Sobre
o que conversaram Dilma e seus quatro antecessores – Collor, Sarney,
FHC e Lula – durante o voo para o funeral de Nelson Mandela, ainda
saberemos. A apuração, por parte de jornalistas e políticos, está em
curso. Dilma ficou bem na foto com todos eles. Pegou bem. A decisão foi
dela mesma, mas pode ter envolvido outro elemento. Voando para tão
longe, para representar o Brasil, o natural era que Dilma conferisse o
status de viagem de Estado ao deslocamento às custas do erário. Para
isso, o caminho mais curto, e até banal, era convidar os presidentes dos
demais poderes. Mas aí começariam os problemas. Com as feridas do PT
sangrando, por causa das prisões de Dirceu, Genoino e Delúbio, como
convidar Joaquim Barbosa, presidente do Supremo? E quanto ao Congresso,
tudo bem com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas
Dilma anda muito irritada com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN), por causa da sua insistência em votar matérias que
desagradam ao governo, afora o incidente com o PT que levou à renúncia
de Genoino. Convidando os antecessores, Dilma livrou-se do incômodo de
ter que chamar esses outros condôminos do poder.
Pelos estados: Minas
Muita
gente dá como certa a candidatura do ex-ministro Pimenta da Veiga ao
governo de Minas Gerais, pelo PSDB, mas, oficialmente, o senador Aécio
Neves, presidente nacional da legenda, ainda não bateu o martelo. Das
quatro candidaturas iniciais, persiste a do presidente do partido no
estado, deputado Marcus Pestana. Com isso, o candidato do PT, ministro
Fernando Pimentel, continua solto na raia, mas não conseguiu, ainda,
garantir o apoio do PMDB mineiro. A uma graduada embaixada petista,
chefiada por Pimentel, o senador Clésio Andrade reiterou sua própria
candidatura a governador. O PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, continua sem candidato, diante da recusa peremptória do prefeito
Marcio Lacerda em deixar o cargo para concorrer. A não ser que Aécio e
Campos tenham se entendido em torno de um chapa comum no jantar que
tiveram no Rio de Janeiro.
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