domingo, 1 de dezembro de 2013

EM DIA COM A PSICANÁLISE » O poder do remédio‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » O poder do remédio 
 
Regina Teixeira da Costa

Estado de Minas: 01/12/2013


Acredito que nem todas as pessoas desejam curar-se. Falo da cura analítica. Ela é diferente da cura médica, que detecta a doença por meio dos sintomas e a confirma com exames sofisticados, que permitem precisão diagnóstica, tratamento e solução do problema. É uma cura positiva e, felizmente, existe para muitas doenças.

Tratamento médico é imprescindível. Sem ele e sem o poder dos modernos medicamentos, muitas doenças antes graves e fatais agora não seriam vencidas, nos devolvendo a saúde tão desejada. E também não teríamos aumentado a média de vida, hoje estendida a idades mais avançadas.

A média de vida subiu, as pessoas vivem mais e como tudo tem dois lados, as doenças senis aparecem e precisam de mais pesquisas e medicamentos para seus sintomas e sinais. Se a tentativa do homem é evitar a morte a todo custo, não é sem custo. Pagamos caro por isso, e questiono se em algum momento o melhor não seria deixar a vida se extinguir naturalmente, com menor insistência em mantê-la sem qualidade.

A vida é um bem precioso, o maior deles. Suportar a perda de entes queridos é muito doloroso e nos aferramos em prolongar a vida, para não sofrer por amor. E por isso sempre nos surpreendemos quando alguém deseja desistir da existência, sendo dever ético dos profissionais da saúde dissuadir ou proteger essa pessoa de si mesmo. Teria o sujeito o direito de desistir de sua vida? Polêmica discussão.

E isso não somente na hora da escolha entre vida e morte, mas em muitos outros momentos em que a interferência subjetiva extrapola o campo médico, um campo positivista, e se torna menos palpável. Não há exames para comprovar uma neurose, uma psicose ou mesmo a perversão. Nem para positivar uma depressão ou a angústia. As palavras nos permitem decidir o diagnóstico e a direção de cada tratamento, e alguns especialmente são bastante difíceis de decidir.

Embora a busca seja para encontrar um diagnóstico, tomar um remédio e se curar, muitas vezes não ocorre assim. Remediar nem sempre é a cura e nem todo sintoma somático refere-se a uma doença positiva. O inconsciente encontra modos singulares de se expressar por meio do corpo, e quando você não quer saber nada sobre o que o move e o que causa sofrimento, surgem sinais no corpo. Às vezes, uma angústia se aferra ao corpo de forma contundente.

E, de fato, é um trabalho árduo traduzir em palavras tais sinais. Dá para entender que o sujeito preferisse curar-se com uma pílula. Quando ele encontra um profissional que tem uma explicação, fica satisfeito e aliviado. O diagnóstico retira o sujeito da angustiante nuvem do não saber e o livra de trabalhar na busca da tradução em palavras que até ele mesmo desconhece em si mesmo. Isso não quer dizer que se cure.

É por isso que uma análise dá trabalho ao sujeito. Implica que ele se responsabilize pelo que se passa no corpo e trabalhe na busca da verdade sobre seu desejo, nem sempre muito óbvia ou em concordância com sua ideologia.

Isso tudo quando de fato se esgotam recursos como os exames e nenhuma melhora é alcançada com o uso de medicamentos, pois igualmente não se pode acreditar que tudo seja psicológico, sem fazer uma verificação. Se assim fosse, não haveria diagnósticos precoces tão importantes para a cura de certas doenças, como no caso do câncer, por exemplo.

Quando digo que nem todos querem se curar, aponto para ganhos secundários do adoecimento como, por exemplo, livrar o sujeito das responsabilidades da vida comum que talvez sejam difíceis para ele, poupando-o de encarar seus fracassos e limites. Outro ganho é fazê-lo centro de atenção e cuidados, que não teria quando saudável. Por exemplo, a TPM explica toda a irritabilidade da mulher e não requer explicações. Naqueles dias, ela pode “quase tudo.” Ela pode baseada no fato de que a TPM está para além de seu controle. São dias em que se está mais sensível e, por isso mesmo, ela precisará estar atenta, e especialmente cuidadosa.

Melhor mesmo é a saúde, seja psíquica, seja somática. Enfrentar a vida e as responsabilidades, e caso haja dificuldades, buscar logo a ajuda de bons profissionais.

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