Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 01/01/2014
Alvíssaras!
Primeiro
dia de 2014! Se ainda bebesse muito, juro que tomaria um foguete. Só de
começar estas bem traçadas, ainda no ano que não deixa saudades, recebi
duas notícias que me deixaram numa alegria que não tem tamanho, aquela
do pinto no lixo ou na bosta, como queiram. Esta última no sentido de
“mancada”. Houaiss nos fala de bostal, do baixo-latim bóstar,áris
“estábulo, curral de bois”, derivado de bos,bovis.
Passei boa parte
de minha vida pelejando com bois e vacas. Por isso posso afiançar ao
caro e preclaro leitor que o ambiente é moralmente limpo, ético,
arejado, em tudo e por tudo muito melhor do que certa política feita por
aí. Dela não falo, porque hoje é dia de festa, de esperança, de sonhos
com um Brasil melhor, mesmo porque não pode piorar.
Ressuscitar
Penso
que o primeiro dia do ano merece que se ressuscite um verbo, puro
latim, que entrou em nosso idioma no século XIII para ser morto e
enterrado há 40 ou 50 anos, mas continua vivo em inglês, hoje a língua
universal, com a seguinte explicação para o adjetivo e o substantivo
profligate: Mid-16th century. Latin profligatus, past participle of
profligare “strike down, ruin” fligere “to strike”.
Deu para entender
que me refiro ao verbo profligar. Ninguém mais profliga. Antigamente, a
oposição profligava: tentava destruir com argumentos; atacava com
palavras; criticava duramente; verberava, fustigava. Oposicionista
brilhante era profligador. Discurso de oposicionista, hoje, parece
conversa de comadres. Há pouquíssimos oradores alfabetizados.
Seu Paim
Sei
que é besteira, mas tenho a preocupação de saber se já escrevi sobre
determinada pessoa neste espaço. Ainda que tivesse escrito há dois ou
três meses, o leitor não se lembraria. Republicar a crônica textualmente
seria desonestidade; mexer do texto para dar a entender que é
diferente, desonestidade ainda maior. Desde ontem quero falar do Sr.
Paim, farmacêutico em Pedro do Rio, um dos maiores distritos de
Petrópolis, RJ.
Usando o “localizar” do Windows, descobri que falei
dele num dos meus livrinhos. Aqui vai o texto retocado, porque escrito
há 15 anos e o autor não se conforma com um texto que produziu há tanto
tempo. Vamos lá: alto, elegante, de fala mansa e gestos equilibrados,
sempre metido num jaleco branco que lhe chegava aos joelhos, o Sr. José
Paim tinha farmácia bem montada e grande clientela, a começar pela minha
família, em Pedro do Rio.
Farmacêutico diplomado, com 40 anos de
clínica médica, conhecia mil vezes mais medicina do que a esmagadora
maioria dos meninos formados recentemente. Durante anos foi o pediatra
de nossas filhas com ótimos resultados.
Depois da consulta,
prescrevia o medicamento. Se o cliente não pudesse pagar, levava o
remédio fiado, débito anotado no borrador que o excelente patrício
guardava numa gaveta. Até que um dia chegou a hora de o farmacêutico
operar-se num grande hospital de São Paulo, cirurgia delicada, custo
estimado em 20 mil no dinheiro da época. E o paciente não tinha um
tostão. Só tinha o estoque de remédios de sua farmácia e 60 mil, no
dinheiro da época, anotados no borrador.
Seus filhos saíram em campo e
conseguiram receber a terça parte dos 60 mil, suficiente para pagar a
cirurgia em São Paulo. E fizeram o pai jurar, com a mão sobre a Bíblia,
que jamais venderia uma aspirina fiada. Voltando curado de São Paulo, o
Sr. Paim retomou o trabalho na farmácia fiel ao juramento feito.
Dias
depois, mandou chamar sua filha, contadora com escritório a dois
quarteirões de distância, que o encontrou no consultório diante de uma
jovem mãe paupérrima, com o filhinho no colo: “Mandei chamar você –
explicou à contadora – porque este menino tem isto-assim-assim e vai
morrer daqui a pouco se não tomar, agora, este remédio, que custa xis. A
mãe não tem um tostão. Como fiz o juramento de nunca mais vender fiado,
quero saber como devo proceder”. Liberado pela filha, voltou a vender
fiado.
O mundo é uma bola
1º
de janeiro de 404: o imperador romano Flávio Augusto Honório proíbe
combates entre gladiadores em Roma. Em 2014, as televisões brasileiras
vivem anunciando combates de MMA e UFC como “esporte” digno de ser
veiculado. Em 630, o profeta Maomé parte com o seu exército para Meca
visando a capturar a cidade. Em 1001, Estevão I, o Grande, ou Santo
Estevão da Hungria, Szent István Király em húngaro, torna-se o primeiro
rei da Hungria.
Em 1259, Miguel VIII Paleólogo é proclamado
co-imperador do Império de Niceia, que não era da senhora Celso Pitta,
mas um império que durou de 1204 a 1261 e tinha como capital a cidade de
Niceia, atual Iznik, na Turquia. Em 1502, navegadores portugueses
exploram a Baía da Guanabara, que confundem com a foz de um rio
chamando-a Rio de Janeiro, o nome da atual segunda cidade mais populosa
do Brasil. Em 1527, Fernando I da Áustria é coroado rei da Croácia, que
vai jogar com o Brasil no Itaquerão.
Hoje é o Dia Mundial da Paz e o Dia da Fraternidade Universal.
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