sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Eduardo Almeida Reis-Angústia‏

Angústia
 
Cada grupo de camelos do grão-vizir transportava os títulos que começavam com uma das 32 letras do alfabeto persa


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 31/01/2014

A pauta do Estúdio-i era angústia. Na filosofia de Kierkegaard, sentimento de ameaça impreciso e indeterminado inerente à condição humana, pelo fato de que o homem, ao projetar incessantemente o futuro, se defronta com possibilidade de fracasso, sofrimento e, no limite, a morte. Inquietação, estado de ansiedade, inquietude, sofrimento, tormento. Maria Beltrão disse que se angustia com problemas que terá de resolver daqui a cinco meses. Flávia Oliveira contou que há cinco anos, na véspera do primeiro Estúdio-i, teve uma dor de cabeça lancinante, foi ao médico, explicou que estava preocupada com sua estreia na GloboNews, tomou analgésico fortíssimo e hoje tira de letra seus programas de tevê. Cidadão normalmente alegre e de bem com a vida, fumando o primeiro charutinho da tarde, custei a admitir que também me angustio. Mas sou honesto com os leitores e me lembrei de algumas passagens que talvez se enquadrem nos estados de ansiedade, de inquietação. Minha reação é das mais originais: fico torto. Vou dormir na véspera e amanheço torto para só desentortar na hora do compromisso agendado.

Foi assim no dia em que combinei encontrar moça lindíssima, divorciada, mãe de dois filhos, às seis da tarde na porta do seu banco, isto é, do banco em que comandava uma plataforma de open. Morando em Juiz de Fora, amanheci torto e torto cheguei à porta do banco, na Avenida Rio Branco, Centro do Rio de Janeiro, depois de parar o carro no Terminal-Garagem Menezes Côrtes. Mandona como ela só, a bela surgiu na hora marcada, deu-me o beijinho regulamentar, perguntou onde estava o carro e disparou para o estacionamento seguida pelo torto. Escolheu o restaurante (caro) em Botafogo e os pratos que comeríamos, mas fiz questão de escolher o vinho para não ir à falência. Hoje, madurona, a bela aposentada namora sujeito muito famoso, do rol das celebridades brasileiras, que deu para dizer palavrões horrorosos e falar de sexo chulo assim que bota uma gota de álcool na boca, o que faz todas as noites. Resumindo: vive um quadro de obscenidade senil. De outra feita, quando andei num aperto dos diabos, recebi telefonema do Alfredo acenando com emprego pago em dólares. No dinheiro de hoje, seguros R$ 20 mil (cash) por mês, sem carteiras assinadas e recibos. Atividade honesta: procurar terras no Brasil para um grupo europeu. Entortei na hora e cheguei ao Rio tortíssimo para conhecer o patrão que fumava uma caixa de charutos cubanos por dia. Fumava uns 10 ou 12 charutos e distribuía o resto pelos circunstantes. Aí, já viu, né? Ficamos amigos de infância. Trabalhei para ele uma porção de anos.


Companhias
Um ano inteiro longe de Belo Horizonte e ainda não encontrei um bombeiro-eletricista competente, um técnico em informática, um marceneiro inteligente e honesto. Sei que devem existir por aqui, mas ainda não tive a sorte de os encontrar. Fosse rico, teria trazido Lili, Igor e Jésus, a exemplo de Abdur Kassem Ismael, grão-vizir na Pérsia no final do século 10, que viajava levando sua biblioteca de 117 mil livros sobre 400 camelos, que formavam caravana de dois quilômetros de comprimento. Lili, Igor e Jésus poderiam vir de carro, de ônibus ou de avião, que os camelos são raros em Minas, a não ser por derivação, em sentido figurado: indivíduo pouco inteligente, estúpido ou ignorante. Cada grupo de camelos do grão-vizir transportava os títulos que começavam com uma das 32 letras do alfabeto persa. Li e escrevi sobre biblioteca parecida, sem bem que mais modesta: era transportada em 170 camelos pelo Norte da África. Pertencia a um soba (governante, chefe) africano. Procurei meu texto no Google e não encontrei, daí o exemplo do grão-vizir que tirei de um texto de Emir Simão Sader, que, sendo emir, pode ser descendente de Maomé. Toda hora lido com peças construídas pelo excelente marceneiro Jésus e me lembro do socorro informático que me foi prestado, durante séculos, por Lili e Igor. Bombeiro-eletricista não era problema: bastava telefonar para o Lúcio, que me mandava um técnico de sua imensa indústria de eletroeletrônicos.


Linkedin
É todo santo dia e são vários os convites que recebo para o Linkedin, o Orkut, o Facebook e outros. Não existe a menor, a mais remota possibilidade de o vetusto philosopho participar desses negócios ou do Twitter: tenho mais que fazer. O blog não está fora de cogitações, mas depende de patrocínio de diversas empresas, de tal forma que me ajude no leite das crianças e nos charutos. Não me agrada trabalhar de graça. Já passei da idade.


O mundo é uma bola
31 de janeiro de 1542: o espanhol Álvar Núñez Cabeza de Vaca descobre as Cataratas do Iguaçu. O sobrenome Cabeza de Vaca data do século 12, quando Matin Alhaja auxiliou um ataque cristão sinalizando passagem secreta por meio de uma montanha com uma cabeça de vaca. Álvar nasceu em Jerez de la Frontera por volta de 1488 e foi a óbito em Sevilha por volta de 1560, depois de ter sido conquistador, soldado, alcoviteiro, escravo dos índios norte-americanos, comerciante, curandeiro, governador da província do Rio da Prata, prisioneiro de seu próprio povo e escritor. Hoje é o Dia do Engenheiro Ambiental.


Ruminanças
“A revolução é uma ideia que encontrou suas baionetas” (Napoleão Bonaparte, 1769-1821).

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