Zero Hora 29/01/2014
O site www.vakinha.com.br permite que qualquer pessoa organize uma
vaquinha com um propósito determinado, desde conseguir dinheiro para a
festa de formatura da filha até reformar o teto da igreja, desde reunir
fundos para uma cirurgia até realizar uma viagem para conhecer o neto
que nasceu em Sergipe. A pessoa estipula quanto vai precisar e, ao
alcançar a quantia desejada, sai automaticamente do site – não há
excedente. As contribuições podem ser feitas por boleto bancário ou
cartão de crédito, e, se não estou enganada, o valor mínimo é de R$ 5.
Atualmente, há uma vaquinha em prol do dono do carro incendiado
durante um protesto em São Paulo. O serralheiro Itamar Santos passava
com seu velho Fusca ano 75 e mais quatro pessoas, incluindo uma criança,
na Avenida Consolação, quando foi surpreendido por colchões pegando
fogo no meio do caminho. Achou que conseguiria desviar da barricada, não
conseguiu e, quando deu por si, o veículo estava em chamas. Foi o tempo
de estacionar e retirar todos de dentro. Uma sorte terem escapado
ilesos, mas o Fusca deu perda total, e o serralheiro ficou sem o carro
com que entregava portões, seu ganha-pão. Agora, há uma vaquinha em
benefício do seu Itamar a fim de que ele receba R$ 10 mil: R$ 7,5 mil
para comprar um novo fusca e R$ 2,5 mil para cobrir os dias que está sem
trabalhar. Até este momento, foram coletados R$ 2.768,50.
Esmola eletrônica, exatamente. Mas o termo “vaquinha” é mais
simpático. Gosto da ideia de que cada um de nós, doando uns trocados,
pode colaborar para que alguém realize um sonho (terminar a obra da
casa, fazer um tratamento dentário etc) ou que seja ressarcido por uma
perda, como é o caso do seu Itamar, que, se fosse esperar providências
das autoridades, ficaria anos passando o chapéu nas ruas sem jamais
alcançar os seus R$ 10 mil. As pessoas são mais solidárias quando
conhecem o problema de quem precisa. Por isso, a vaquinha realizada
através de sites e redes sociais é mais eficiente, pois ficamos sabendo
para quem vai o dinheiro e que uso terá.
Você pode estar pensando que há quem se aproveite desse recurso para
projetos menos nobres, como organizar um churrasco para a galera. Sem
problema. O que há de estranho? A galera convidada é quem contribui e o
churrasco sai. Rachar a conta é o que importa, seja pelo meio que for.
Estranho seria alguém contribuir para alguma bizarrice, tipo, sei
lá, deixe-me pensar em algo bem esquisito... Imagine que alguns
políticos ajudaram a fazer com que nossos impostos não fossem utilizados
de forma correta, que tenham roubado dos cidadãos que neles confiaram.
Imagine que esses políticos foram condenados a devolver para o país, em
forma de multa, o prejuízo causado, e que eles organizassem uma vaquinha
para tal. Você contribuiria? Estranho seria isso. Você estaria pagando
duas vezes o mesmo imposto.
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