sábado, 15 de fevereiro de 2014

ARNALDO VIANA » Bom dia, cavalo (3)‏

ARNALDO VIANA » Bom dia, cavalo (3)
Estado de Minas: 15/02/2014


 (Arnaldo Viana/divulgação)


Bom-dia! Olhe eu aqui de novo. Observando, observando, observando... Cara, que notícias vêm de vocês... Estão se autodestruindo. Normal! O que esperar de quem vive de arruinar o planeta? Em um momento, restará apenas um ao outro. E se não houver convivência... Então, dá para ver daqui que um humano quer se livrar do outro. “Saia da frente que quero ficar”. E fica. O próximo que se dane. Vai que vai! Já pensaram na confusão mental em que se meteram? Já não sabem o que é crime e o que não é. A distância entre gentileza e truculência. A diferença entre prudência e insensatez. Já não conseguem administrar discrepâncias. Estão confusos. Dinheiro, mano, compra desejos e conforto, mas não compra educação e muito menos um conjunto de formalidades de comportamento que se chama civilidade.

Já não sabem tomar a direção do que querem, do que precisam. E quando têm, não sabem como buscar. O que seria se todos os cavalos de carroceiros se unissem aos burrinhos do Parque Municipal e saíssem espalhando coices em latas de lixo, em portas de lojas e bancos, soltando rojão (no sentido de rojão mesmo) nas pessoas, peitando cavalos da PM em protesto contra a falta de capim na caatinga nordestina ou contra o apodrecimento da água do Córrego do Onça? O que isso tem a ver com aquilo? Vou até sugerir uma passeata, mas diante dos organismos ambientais e sem escoicear a lixeira, machucar ou matar.

Por que meti o Onça nessa conversa? É que a gente gosta de pastar na beira do córrego. Mesmo com a água ali do lado, temos que andar muito para matar a sede. Um colega, puxador de carroça no Bairro Ribeiro de Abreu, absolve e aprova a água do Onça. “É gasosa”, diz, lambendo os beiços depois de beber aquele líquido pastoso. Adora. Naquela água há elementos estranhos que causam dependência. Há outras coisas também. Só no ano passado, o colega foi obrigado pelo dono, o carroceiro, a beber três litros de uma intolerável mistura contra vermes.

Vamos voltar ao entendimento, ao juízo. Semana passada, lembramos o comentário daquele senhor do Buritis sobre a presença de animais nas ruas, como eu. Disse: “Esses bichos podem atacar a gente!”. Respondi: “Olhe à sua volta, veja quem realmente o ameaça”. Somos diferentes. Não nos devoramos. Outro dia, um domingo, bestando pelos lados da Rua Pitangui, passei diante de um estádio, o Independência, creio. Havia jogo de futebol. Ouvi um grito assim: “Ei, seu juiz, bote o cavalo desse zagueiro para fora!”.

Pera aí, mano. Cavalo, não! Você nunca viu, mas nunca viu mesmo, cavalo quebrar a perna do outro em jogo de polo. Certa vez, uma turma de puxadores de carroça foi assistir, do outro lado da cerca de um clube de Santa Luzia, a uma partida de polo. Vibramos e nos divertimos. Ninguém mordeu ninguém, ninguém soltou bomba em ninguém. E aplaudimos o cavalo negro que acabou com o jogo. Ninguém o hostilizou de forma racista ou de qualquer outra maneira. Em questão de entendimento e juízo, somos o que a natureza nos reservou: conviventes, de bom trato. Pessimista? Não. Ainda existem almas genuinamente animais, porque o trato genuinamente animal é bom. Que bonita declaração a daquele jogador: “Troco todos os meus títulos pela igualdade em todas as raças!”. Não se chateie, cara. Prefiro os macacos aos intolerantes.

Vou continuar aqui, entre um servicinho de puxar areia, entulho ou mudança de pobre. Qualquer folguinha, estarei de volta. Uma senhora ameaçou chamar o caminhão da zoonose. “Esse bicho pode machucar alguém”, disse. Ô, coitada! Não brigo por espaço no trânsito, não ando armado em garupa de moto para matar e roubar, não disputo posses, não tomo drogas como aquele colega viciado no Onça, não boto pata no dinheiro público. Vou continuar aqui. Quero ver a estreia dos ônibus siameses. Pelo atraso nas obras e o baixo nível de informação, vai ser um arraso. Quero ver!


>> arnaldoviana.mg@diariosassociados.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário