Carro, tevê e computador, as ameaças à boa forma
Estudo canadense feito em 17 países, com
mais de 150 mil adultos, indica que, ao mesmo tempo em que adquirem mais
bens, habitantes de nações pobres estão engordando
Bruna Sensêve e Paloma Oliveto
Estado de Minas: 11/02/2014
O motivo da
barriga e dos quilos sobressalentes pode estar no clique do controle
remoto ou nas teclas do computador. O desenvolvimento econômico da
população levou ao incremento das horas de “descanso” com longos
períodos passados em pleno sedentarismo frente à televisão e/ou
navegando por redes sociais. O impacto desse comportamento pode ser
percebido na propagação das epidemias de obesidade e diabetes tipo 2 em
países de baixa e média rendas, que, em breve, poderão enfrentar os
mesmos graves problemas de saúde das nações mais abastadas. Os
resultados são de um estudo internacional publicado no Jornal da
Associação Médica Canadense, que analisou mais de 150 mil adultos em 107
mil famílias de 17 países.
Os dados assustam. Os indivíduos que têm os três equipamentos estudados – televisão, computador e carro – apresentam também 9cm a mais na cintura. A posse de bens materiais, especialmente os eletrônicos, que, até então, são vistos como sinônimo de boa situação econômica, mudará de lado nos próximos anos. De acordo com os dados recolhidos pelo grupo liderado por Scott Lear, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Simon Fraser, a prevalência da obesidade aumentou de 3,4% em famílias com nenhum dos dispositivos estudados para 14,5% nos lares com os três aparelhos. A prevalência de diabetes também cresceu, de 4,7 % para 11,7%, respectivamente.
“Com o aumento da captação de conveniências modernas, países de renda baixa e média podem ver as mesmas taxas de obesidade e diabetes como as dos de alta renda. Elas são o resultado de se sentar demais, de menos atividade física e do aumento do consumo de calorias”, conclui Lear. “Isso pode ter consequências potencialmente devastadoras para a saúde social desses países.” A mesma relação não existia nos países desenvolvidos, sugerindo que os efeitos nocivos dessas máquinas na saúde já se refletem em taxas elevadas de obesidade e diabetes.
Panorama Os países de alta renda investigados foram Suécia e Emirados Árabes. O Brasil está incluído no grupo de país de renda média-alta, com a Argentina, o Chile, a Malásia, a Polônia, a África do Sul e a Turquia. Entre os de renda média-baixa, estão China, Colômbia e Irã. Os países considerados de baixa renda pesquisados foram Bangladesh, Índia, Paquistão e Zimbábue. Os participantes foram questionados quanto a prática de atividade física, o tempo que ficam sentados, a dieta seguida, se tinham diabetes e se eram proprietários de carro, televisor e computador.
As televisões foram o dispositivo mais comum. Quase 80% dos entrevistados tinham pelo menos uma, seguida por 34% que tinham um computador e 32%, um automóvel. Em países de baixa renda, possuir todos os três dispositivos foi associado a uma redução de 31% na atividade física e a um aumento de 21% no período sentado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, 87,2% dos domicílios brasileiros tinham televisores. Dez anos depois, esse número subiu para 95,1%, superando o rádio que, em 2000, estava presente em 87,9% das casas e, em 2010, em 81,4%. Os computadores também não ficam para trás. Os micros são encontrados em 27,7% mais domicílios brasileiros em 2010 que 10 anos antes. Do total de residências, 30,7% tinham acesso à internet em 2010.
Nessa mesma direção, a mais recente pesquisa sobre obesidade no Brasil, referente aos dados de 2012 coletados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), mostra que 51% da população tem excesso de peso. Pela primeira vez, o índice de sobrepeso atingiu mais da metade dos brasileiros. A mesma pesquisa referente ao ano anterior já apontava a epidemia se formando, indicando 48,5% da população com excesso de peso. O índice de obesidade também se agravou nesse período. Em 2012, 17,4% dos brasileiros são obesos, contra 15,8% no ano passado.
Risco de diabetes
A combinação entre uma dieta pouco saudável e a falta de exercícios físicos é apontada por Maria Angélica de Lima Oliveira, de 54 anos, como desencadeadora da diabetes tipo 2, doença que ela precisa controlar com medicamentos de uso contínuo. Até os 40 anos, a servidora pública frequentava academia, mas, depois do casamento, se tornou sedentária. “Quando engravidei, aos 43 anos, fiz todos os exames. Aí, apareceu o diabetes”, conta. A glicemia da servidora, contudo, voltou a níveis normais após o nascimento de Bruna. Ela nem se lembrava mais do problema quando ele ressurgiu, há seis anos.
“Minha taxa de triglicerídeos estava altíssima, mas fui deixando e não tratei”, confessa. Salgadinhos, frituras, sanduíches, maionese, doce, pão e macarrão têm grande parcela de culpa no diagnóstico, acredita Maria Angélica. “Antigamente, a gente comia coisas mais saudáveis. Hoje, com a facilidade da comida industrializada, não é mais assim”, reconhece. O endocrinologista Mário Carra, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, explica que existe uma relação direta entre mais de duas horas em frente ao computador, televisão ou videogame com o aumento de peso.
“Ao ter mais acesso a esses dispositivos, há uma condição de vida melhor, mas não significa necessariamente que o grau de informação é melhor. A tendência é o aumento de peso”, garante Carra. Isso porque as pessoas costumam diminuir a mobilidade física e o padrão alimenta, e tendem a utilizar esses dispositivos comendo ou bebendo, sem dar atenção à qualidade ou à quantidade. “Um trabalho feito pelo Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro há alguns anos contabilizou a economia de calorias com o controle remoto e telefone sem fio. São poucas, mas, ao somar tudo no fim do ano, dá uma quantidade considerável.” (BS e PO)
Os dados assustam. Os indivíduos que têm os três equipamentos estudados – televisão, computador e carro – apresentam também 9cm a mais na cintura. A posse de bens materiais, especialmente os eletrônicos, que, até então, são vistos como sinônimo de boa situação econômica, mudará de lado nos próximos anos. De acordo com os dados recolhidos pelo grupo liderado por Scott Lear, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Simon Fraser, a prevalência da obesidade aumentou de 3,4% em famílias com nenhum dos dispositivos estudados para 14,5% nos lares com os três aparelhos. A prevalência de diabetes também cresceu, de 4,7 % para 11,7%, respectivamente.
“Com o aumento da captação de conveniências modernas, países de renda baixa e média podem ver as mesmas taxas de obesidade e diabetes como as dos de alta renda. Elas são o resultado de se sentar demais, de menos atividade física e do aumento do consumo de calorias”, conclui Lear. “Isso pode ter consequências potencialmente devastadoras para a saúde social desses países.” A mesma relação não existia nos países desenvolvidos, sugerindo que os efeitos nocivos dessas máquinas na saúde já se refletem em taxas elevadas de obesidade e diabetes.
Panorama Os países de alta renda investigados foram Suécia e Emirados Árabes. O Brasil está incluído no grupo de país de renda média-alta, com a Argentina, o Chile, a Malásia, a Polônia, a África do Sul e a Turquia. Entre os de renda média-baixa, estão China, Colômbia e Irã. Os países considerados de baixa renda pesquisados foram Bangladesh, Índia, Paquistão e Zimbábue. Os participantes foram questionados quanto a prática de atividade física, o tempo que ficam sentados, a dieta seguida, se tinham diabetes e se eram proprietários de carro, televisor e computador.
As televisões foram o dispositivo mais comum. Quase 80% dos entrevistados tinham pelo menos uma, seguida por 34% que tinham um computador e 32%, um automóvel. Em países de baixa renda, possuir todos os três dispositivos foi associado a uma redução de 31% na atividade física e a um aumento de 21% no período sentado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, 87,2% dos domicílios brasileiros tinham televisores. Dez anos depois, esse número subiu para 95,1%, superando o rádio que, em 2000, estava presente em 87,9% das casas e, em 2010, em 81,4%. Os computadores também não ficam para trás. Os micros são encontrados em 27,7% mais domicílios brasileiros em 2010 que 10 anos antes. Do total de residências, 30,7% tinham acesso à internet em 2010.
Nessa mesma direção, a mais recente pesquisa sobre obesidade no Brasil, referente aos dados de 2012 coletados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), mostra que 51% da população tem excesso de peso. Pela primeira vez, o índice de sobrepeso atingiu mais da metade dos brasileiros. A mesma pesquisa referente ao ano anterior já apontava a epidemia se formando, indicando 48,5% da população com excesso de peso. O índice de obesidade também se agravou nesse período. Em 2012, 17,4% dos brasileiros são obesos, contra 15,8% no ano passado.
Risco de diabetes
A combinação entre uma dieta pouco saudável e a falta de exercícios físicos é apontada por Maria Angélica de Lima Oliveira, de 54 anos, como desencadeadora da diabetes tipo 2, doença que ela precisa controlar com medicamentos de uso contínuo. Até os 40 anos, a servidora pública frequentava academia, mas, depois do casamento, se tornou sedentária. “Quando engravidei, aos 43 anos, fiz todos os exames. Aí, apareceu o diabetes”, conta. A glicemia da servidora, contudo, voltou a níveis normais após o nascimento de Bruna. Ela nem se lembrava mais do problema quando ele ressurgiu, há seis anos.
“Minha taxa de triglicerídeos estava altíssima, mas fui deixando e não tratei”, confessa. Salgadinhos, frituras, sanduíches, maionese, doce, pão e macarrão têm grande parcela de culpa no diagnóstico, acredita Maria Angélica. “Antigamente, a gente comia coisas mais saudáveis. Hoje, com a facilidade da comida industrializada, não é mais assim”, reconhece. O endocrinologista Mário Carra, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, explica que existe uma relação direta entre mais de duas horas em frente ao computador, televisão ou videogame com o aumento de peso.
“Ao ter mais acesso a esses dispositivos, há uma condição de vida melhor, mas não significa necessariamente que o grau de informação é melhor. A tendência é o aumento de peso”, garante Carra. Isso porque as pessoas costumam diminuir a mobilidade física e o padrão alimenta, e tendem a utilizar esses dispositivos comendo ou bebendo, sem dar atenção à qualidade ou à quantidade. “Um trabalho feito pelo Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro há alguns anos contabilizou a economia de calorias com o controle remoto e telefone sem fio. São poucas, mas, ao somar tudo no fim do ano, dá uma quantidade considerável.” (BS e PO)
Nenhum comentário:
Postar um comentário