Quem matou Santiago
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 11/02/2014
Estava escrito, desde
o ano passado, que em algum momento teríamos um morto. Poderia ser um
manifestante, um policial, um profissional da imprensa, como acabou
acontecendo. É dolorosa a imagem captada pela TV Brasil, do corpo ferido
do cinegrafista Santiago Andrade ao lado da câmera tombada. Foi um
jovem trêfego que entregou para outro o rojão que o atingiu. Foram
muitos, entretanto, os que armaram a mão detonadora. Destacam-se entre
eles os que aplaudiram e incentivaram a delinquência política nas
manifestações e os omissos do poder público, que temendo a crítica, não
enfrentaram com a devida energia black blocs e assemelhados.
No crepitar da violência, sobra sempre para os inocentes. Santiago poderia ter outro nome e outra profissão: sua morte seria igualmente triste, seria igualmente um aviso de que o Brasil já se distanciou demais, como escrevi no domingo, do velho ideal do homem cordial. Agora, somos um povo com gosto de sangue na boca, seja no trânsito, no campo ou nas manifestações. Ainda que não atendesse por esse nome, já tivemos uma cultura da paz, que precisa ser resgatada. Mas como, se os jovens parecem não ter vínculos com o Brasil histórico, e agem como se tudo estivesse começando aqui e agora? Não foi para isso que muitos sacrificaram os melhores anos de suas vidas na luta pela democracia, para garantir que no futuro todos pudessem se manifestar? Mas não cobrindo o rosto e agredindo covardemente o próximo. Como disse Dom Orani Tempesta, o que se espera na democracia são manifestações “pacíficas, justas e fraternas”.
O próximo, neste caso, era um jornalista, o que eleva o fato à categoria dos crimes contra a liberdade de imprensa. Entidades patronais e sindicais se manifestaram ontem pedindo mais garantias para o exercício do jornalismo e a federalização destes crimes. A presidente Dilma mandou a Polícia Federal entrar nas investigações sobre a autoria. Tudo isso é devido a Santiago, embora não repare a dor de sua família. Nada disso evitará novos desatinos se os que governam não compreenderem que estamos cruzando uma fronteira perigosa. A reação dos black blocs é clara: disseram lamentar muito, mas convocaram novos protestos. Da mesma natureza.
Minas se move
Os movimentos eleitorais se intensificam esta semana em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, que será decisivo para o resultado da eleição presidencial. Ontem pela manhã, o deputado e presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana, renunciou à pré-candidatura a governador em favor de Pimenta da Veiga. Unificado, o PSDB tentará agora recuperar o tempo perdido à espera de uma definição sobre o candidatura, inicialmente pleiteada por cinco aliados de Aécio Neves. Enquanto isso, o pré-candidato petista, ministro Fernando Pimentel, nadava de braçadas e fincava seu nome na dianteira nas pesquisas.
Agora é Pimentel que está com pressa para deixar o Ministério do Desenvolvimento e se jogar inteiramente na campanha pelo governo de Minas. Para isso, depende da escolha de seu substituo pela presidente Dilma. Seja como for, está marcada para sexta-feira, dia 14, uma pajelança eleitoral para ele, em que ninguém menos que Lula fará o lançamento oficial da candidatura.
Além de reeleger Dilma, o PT trabalha para desalojar os tucanos de São Paulo, onde estão há quase 20 anos, e de Minas, que governam há 12 ininterruptos. Já o PSDB tem o seu “cenário paraíso”, que seria a vitória de Aécio, sem perder nenhum dos dois estados. O confronto em São Paulo será pesado, por razões políticas, eleitorais e simbólicas, mas em Minas é que Aécio não pode perder mesmo. É lá que ele pretende alavancar uma diferença formidável sobre Dilma, arrastando 60% dos votos, para compensar o favoritismo dela no Nordeste. Por isso, ele cozinhou em fogo lento a disputa interna, até que restaram apenas Pestana – que muita gente dava como seu preferido no início do processo – e Pimenta, que nele ingressou tardiamente, quando se deslocou para Minas, no meio do ano passado, para coordenar a campanha de Aécio no estado. Em poucas semanas, virou candidato das cúpulas tucanas, embora Pestana tivesse mais apoio nas bases municipais. O próprio Pestana, entretanto, diz que não podiam esperar mais nem realizar processos mais democráticos, como prévias, por falta de tempo. Seu discurso de renúncia buscou sinalizar com o engajamento imediato na campanha de Pimenta, embora seus seguidores mais machucados com o desfecho ainda precisem ser mobilizados. “Retiro meu nome para apoiar com toda energia o nome de Pimenta da Veiga. Peço a cada companheiro que faça por ele como se fosse por mim.” O problema de Pimenta é o longo tempo fora do estado e mesmo da política, na disputa com um adversário que acaba de deixar um ministério poderoso e terá o apoio de Lula e Dilma.
No crepitar da violência, sobra sempre para os inocentes. Santiago poderia ter outro nome e outra profissão: sua morte seria igualmente triste, seria igualmente um aviso de que o Brasil já se distanciou demais, como escrevi no domingo, do velho ideal do homem cordial. Agora, somos um povo com gosto de sangue na boca, seja no trânsito, no campo ou nas manifestações. Ainda que não atendesse por esse nome, já tivemos uma cultura da paz, que precisa ser resgatada. Mas como, se os jovens parecem não ter vínculos com o Brasil histórico, e agem como se tudo estivesse começando aqui e agora? Não foi para isso que muitos sacrificaram os melhores anos de suas vidas na luta pela democracia, para garantir que no futuro todos pudessem se manifestar? Mas não cobrindo o rosto e agredindo covardemente o próximo. Como disse Dom Orani Tempesta, o que se espera na democracia são manifestações “pacíficas, justas e fraternas”.
O próximo, neste caso, era um jornalista, o que eleva o fato à categoria dos crimes contra a liberdade de imprensa. Entidades patronais e sindicais se manifestaram ontem pedindo mais garantias para o exercício do jornalismo e a federalização destes crimes. A presidente Dilma mandou a Polícia Federal entrar nas investigações sobre a autoria. Tudo isso é devido a Santiago, embora não repare a dor de sua família. Nada disso evitará novos desatinos se os que governam não compreenderem que estamos cruzando uma fronteira perigosa. A reação dos black blocs é clara: disseram lamentar muito, mas convocaram novos protestos. Da mesma natureza.
Minas se move
Os movimentos eleitorais se intensificam esta semana em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, que será decisivo para o resultado da eleição presidencial. Ontem pela manhã, o deputado e presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana, renunciou à pré-candidatura a governador em favor de Pimenta da Veiga. Unificado, o PSDB tentará agora recuperar o tempo perdido à espera de uma definição sobre o candidatura, inicialmente pleiteada por cinco aliados de Aécio Neves. Enquanto isso, o pré-candidato petista, ministro Fernando Pimentel, nadava de braçadas e fincava seu nome na dianteira nas pesquisas.
Agora é Pimentel que está com pressa para deixar o Ministério do Desenvolvimento e se jogar inteiramente na campanha pelo governo de Minas. Para isso, depende da escolha de seu substituo pela presidente Dilma. Seja como for, está marcada para sexta-feira, dia 14, uma pajelança eleitoral para ele, em que ninguém menos que Lula fará o lançamento oficial da candidatura.
Além de reeleger Dilma, o PT trabalha para desalojar os tucanos de São Paulo, onde estão há quase 20 anos, e de Minas, que governam há 12 ininterruptos. Já o PSDB tem o seu “cenário paraíso”, que seria a vitória de Aécio, sem perder nenhum dos dois estados. O confronto em São Paulo será pesado, por razões políticas, eleitorais e simbólicas, mas em Minas é que Aécio não pode perder mesmo. É lá que ele pretende alavancar uma diferença formidável sobre Dilma, arrastando 60% dos votos, para compensar o favoritismo dela no Nordeste. Por isso, ele cozinhou em fogo lento a disputa interna, até que restaram apenas Pestana – que muita gente dava como seu preferido no início do processo – e Pimenta, que nele ingressou tardiamente, quando se deslocou para Minas, no meio do ano passado, para coordenar a campanha de Aécio no estado. Em poucas semanas, virou candidato das cúpulas tucanas, embora Pestana tivesse mais apoio nas bases municipais. O próprio Pestana, entretanto, diz que não podiam esperar mais nem realizar processos mais democráticos, como prévias, por falta de tempo. Seu discurso de renúncia buscou sinalizar com o engajamento imediato na campanha de Pimenta, embora seus seguidores mais machucados com o desfecho ainda precisem ser mobilizados. “Retiro meu nome para apoiar com toda energia o nome de Pimenta da Veiga. Peço a cada companheiro que faça por ele como se fosse por mim.” O problema de Pimenta é o longo tempo fora do estado e mesmo da política, na disputa com um adversário que acaba de deixar um ministério poderoso e terá o apoio de Lula e Dilma.
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